The Man Who Never Was – O Homem Que Nunca Existiu (1956)

The Man Who Never Was - Poster 1
O mundo dos serviços secretos está sempre cheio de histórias incríveis, tão ou mais rocambolescas que a melhores e maiores das fantasias, para tal meio, em Cinema.

Por isso, o Cinema gosta sempre de visitar este mundo e usar alguns dos seus eventos.

Eis um excelente, divertido e original caso.

 

Segunda Guerra Mundial.

Os Aliados têm de fazer uma incursão na Sicília. Mas há a possibilidade que os nazis estejam bem defensivos e a acção pode resultar em grandes baixas para os heróis.

Um oficial da Marinha Britânica lembra-se de uma ideia ardilosa e ingénua. Tudo passa por largar um cadáver, devidamente personalizado e equipado, ao longo da costa do Sul de Espanha. O “infiltrado” vai na posse de documentos oficiais que indicam que a invasão aliada vai ser feita pela Grécia e não pela Sicília.

A coisa parece correr bem. Os nazis parecem engolir a história. Mas para maiores certezas, mandam um agente (fluente em inglês, pois claro) para investigar o falecido, em terras de Sua Majestade.

Vai ser mesmo um duelo de intelligence(s).

The Man Who Never Was - screenshot 1

De forma (aparentemente) simples, (por vezes) humorada e (permanentemente) cativante, o filme leva-nos a uma insólita história sobre a engenhosa inteligência da intelligence.

Ao contrário do habitual, o heroísmo não está nos vivos mas sim no morto. E esta é a grande originalidade da narrativa.

O mais incrível é que isto aconteceu e os britânicos foram bem sucedidos.

Excelente fotografia (estamos nos tempos gloriosos do CinemaScope).

The Man Who Never Was - screenshot 2

Óptimo trabalho do sempre esplêndido Clifton Webb, muito bem acompanhado pelo competente elenco (onde se deve destacar um ainda jovem Stephen Boyd, já a revelar capacidades para inquietar).

Ronald Neame, ilustre veterano e versátil artesão, dirige com eficácia, conseguindo que o filme ande entre a comédia e o thriller, conseguindo sempre assegurar o interesse do espectador.

Uma boa surpresa. Com todo aquele charme que só o cinema britânico sabe.

 

“The Man Who Never Was” está inédito no nosso mercado. A edição inglesa ainda está cara (seja em DVD ou Blu-Ray), mas a edição americana (para quem tiver um leitor mult-region) está a bom preço (com legendas em Espanhol e Inglês). A edição espanhola também anda a bom preço.

The Man Who Never Was - screenshot 3

Realizador: Ronald Neame

Argumento: Nigel Balchin, a partir do livro de Ewen Montagu

Elenco: Clifton Webb, Gloria Grahame, Robert Flemyng, Josephine Griffin, Stephen Boyd, Laurence Naismith, Geoffrey Keen, Cyril Cusack, André Morell, Michael Hordern

 

Trailer

 

“Melhor Argumento Britânico”, nos BAFTA 1957. Também esteve nomeado para “Melhor Filme Britânico” (foi derrotado por “Reach for the Sky”) e “Melhor Filme” (perdeu para “Gervaise” de René Clément). Stephen Boyd concorreu a “Promissor Newcomer”, mas Eli Wallach ganhou (por “Baby Doll”).

Esteve nomeado para a “Palma de Ouro” em Cannes 1956. O filme vencedor foi “Le Monde du Silence”, de Jacques-Yves Cousteau e Louis Malle.

“Top 10”, pela National Board of Review USA 1956.

The Man Who Never Was - screenshot 6

Baseado num evento verídico, cujos detalhes só foram conhecidos vários anos depois da guerra. Apesar do argumento do filme focar que o “herói” faleceu de pneumonia, na verdade o falecido morreu por ingestão de veneno contra ratos. O homem tinha já perdido os dois pais e o suicídio pareceu-lhe ser uma solução para o seu vazio. Tanto quanto se sabe, o homem chama-se Glydwr Michael. O seu túmulo em Espanha menciona o seu nome verdadeiro e o criado para esta encenação dos serviços secretos britânicos.

Clifton Webb, conhecido pelo seu bigode (que usava nos filmes e na vida), aparece com barba. Isto porque as regras da Royal Navy não permitiam o uso de bigode. Webb tinha como escolhas estar barbeado ou ter barba. Webb escolheu a segunda opção, apesar do verdadeiro Ewen Montagu (o personagem de Webb) não ter barba.

Peter Sellers (que não recebe menção no genérico) dá voz (off) a Winston Churchill e ao motorista de táxi.

Ewen Montagu, o oficial responsável pela operação, faz um cameo.

Stephen Boyd foi uma escolha de última hora, pois o actor já escolhido, Kieron Moore, tinha abandonado a produção.

O início e final do filme fazem uma citação – “Last night I dreamed a deadly dream, beyond the Isle of Sky, I saw a dead man win a fight, and I think that man was I“. Vem da canção “The Battle of Otterburn”, Child Ballad #161 e está datada de 1550. A letra original diz “But I hae (have) dreamed a dreary dream, Beyond the Isle of Skye; I saw a dead man win a fight, And I think that man was I“.

A canção:

http://www.traditionalmusic.co.uk/song-midis/Battle_of_Otterburn.htm

 

Sobre o evento

http://www.themanwhoneverwas.com/

http://www.damninteresting.com/mincemeat-and-the-imaginary-man/

http://www.bbc.co.uk/history/topics/operation_mincemeat

 

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