Título original – The Journey
Par de luxo, num melodrama clássico, dirigido por um mestre do género.
Budapeste, 1956.
Tropas soviéticas estão pela cidade. Um grupo de europeus ocidentais tenta sair do país, mas é retido um oficial soviético, rigoroso, mas hospitaleiro e conversador.
Até que o militar se começa a interessar por uma senhora inglesa, que protege um fugitivo aos soviéticos.
Tropas a invadir um país. Pessoas em fuga. Época de Guerra Fria na Europa (de Leste).
Poderia dar origem a um bom action spy thriller, na onda dos que se fizeram na época à volta destes temas.
Mas “The Journey” decide seguir outros rumos.
Acaba por ser um comovente drama sobre as convulsões político-sociais-militares, os idealismos, a sobrevivência (individual e em grupo) em tais circunstâncias, o choque cultural e o fascínio pela diferença, bem como a tolerância e o diálogo.
Boa prestação do elenco, a compor (com ajuda do consistente e sentimental argumento) personagens diversas e com personalidade.
Yul Brynner está excelente como um homem (militar) dividido entre o dever e o sentimento, frio e rígido, mas também sensível e humano.
Deborah Kerr está esplêndida (como sempre, não?), como uma mulher apaixonada (nos sentimentos e valores), mobilizada pelas suas emoções e razões.
Anatole Litvak dirige com a sua habitual competência, cativando sempre o espectador nos eventos e emoções que surgem, sabendo fazer suspense à volta do drama, gerindo muito bem o espaço (raramente saímos do hotel – quartos e sala de jantar).
Uma pequena jóia do género, vinda de um grande realizador para estas coisas.
Muito recomendável.
“The Journey” tem edição portuguesa e já andou a preço digno de fazer uma journey à prateleira do cinéfilo.
Realizador: Anatole Litvak
Argumentista: George Tabori
Elenco: Deborah Kerr, Yul Brynner, Jason Robards, Robert Morley, E.G. Marshall, Anne Jackson, Ron Howard, Gérard Oury, Anouk Aimée
Orçamento – 2 milhões de Dólares
Bilheteira – cerca de 3.5 milhões de Dólares
Trailer
Momentos
O filme faz uma adaptação bastante livre do conto de Guy de Maupassant, “Boule de Suif”. A protagonista do conto é uma prostituta e o protagonista é um homem mais frio.
Chegou-se a falar em Ingrid Bergman como protagonista. Tal marcaria o seu reencontro com Yul Brynner, depois de Anastasia (1956).
Reencontro entre Deborah Kerr e Brynner, depois de “The King and I” (1956; que valeu a Brynner o Oscar para “Melhor Actor”).
Na época havia o rumor de um romance entre Kerr e Brynner. Tudo ficou calmo quando a actriz casou e o actor era uma das testemunhas. Contudo, ambos sempre vincaram a forte amizade que os unia.
Filme de estreia de Jason Robards e Ron Howard.
Durante as filmagens Brynner foi ferido por um fã fanático, que lhe cortou a mão. Truques de enquadramento e de caracterização impedem de ver os estragos na mão de Brynner.