Há semanas chegava às salas “Blood Ties”, título americano que era um remake do filme francês “Les Liens du Sang”.
Aproveitei para ver os dois e fazer a devida comparação.
Les Liens du Sang – Laços de Sangue (2008)
O original francês que inspirou o recente remake. Guillaume Canet assina o remake e protagoniza o original.
Gabriel e François são irmãos. Mas separados pelos dois lados da Lei. Gabriel é um criminoso que sai da prisão, François é um devoto polícia.
O reencontro traz a esperança de um novo entendimento entre ambos, de uma nova harmonia familiar e de um novo rumo para Gabriel. Mas a difícil inserção leva-o a regressar à sua antiga actividade.
As escolhas pessoais, profissionais e sentimentais de cada um dos irmãos vão colocá-los em colisão.
Há uma boa nostalgia do polar clássico, entre Jean-Pierre Melville e Jacques Deray, algum punch na parte da narrativa que envolve o crime, onde a violência tem impacto, com consequências que deixam ninguém ileso.
Mas o que realmente importa ao realizador são as personagens, as suas motivações, condutas, relações e emoções.
Final incómodo (pelo que acontece) e algo insatisfatório (deixa um sentimento de revolta que exige vingança/justiça).
Muito bom trabalho de Guillaume Canet e François Cluzet.
Bom filme, que mostra que ainda há raízes vivas no polar.
Realização: Jacques Maillot
Argumento: Pierre Chosson, Jacques Maillot
Elenco: Guillaume Canet, François Cluzet, Clotilde Hesme, Marie Denarnaud
Trailer
O objectivo inicial era adaptar o romance “Blue River”, de Ethan Canin, sobre uma complicada relação entre dois irmãos, mas de índole mais familiar e até religioso. Mas este já tinha uma adaptação a caminho (deu origem a um telefilme). Maillot virou-se para o livro “Deux Frères – Flic et Truand”, dos irmãos Papet (Bruno e Michel, “por acaso” dois irmãos que viveram tal história – Michel era assassino, ladrão e falsificador, enquanto Bruno era agente de uma brigada de combate ao banditismo).
Sobre o livro e os Papet –
Maillot tentou fazer uma série televisiva de seis episódios, mas quando viu os entraves a tal, decidiu-se por um filme.
53 dias de filmagem, nas zonas de Paris, Lyon e Annecy.
Blood Ties – Laços de Sangue (2013)
E eis o remake USA, realizado por Guillaume Canet, apoiado num extraordinário elenco.
Chris e Frank são irmãos, mas em caminhos opostos perante a Lei.
Chris saiu da prisão e procura um novo rumo. Frank é um honesto polícia.
A reunificação familiar vai lenta, bem como a reinserção de Chris. Rapidamente chega o reencontro com as suas antigas companhias e o apelo ao antigo modo de vida. Frank terá de decidir entre a lealdade à corporação ou ao irmão.
Um vigoroso drama familiar, com toques de policial urbano e criminal, de grande força humana e emocional.
Por aqui passa uma excelente filiação com o melhor do género à 70s, pelas mãos de Sidney Lumet e William Friedkin.
Há garra na intriga criminal/policial, e mais ainda no registo familiar e relacional.
Apesar de estar apenas como co-argumentista, James Gray deixa aqui a marca habitual do seu cinema (dramas familiares, sempre assombrados pelo mundo policial e criminal – “Little Odessa”, “The Yards”, “We Own The Night”).
Clive Owen domina com uma interpretação de grande intensidade, estilo e virilidade. Billy Crudup dá-lhe boa réplica, num registo estóico e frágil. O esplêndido elenco está ao mesmo nível.
Um dos melhores filmes de 2014.
Realização: Guillaume Canet
Argumento: Guillaume Canet, James Gray
Elenco: Clive Owen, Billy Crudup, Marion Cotillard, Mila Kunis, Zoe Saldana, Matthias Schoenaerts, James Caan, Noah Emmerich, Lili Taylor, Griffin Dunne, Eve Hewson.
Site – http://bloodtiesthefilm.com
Havendo um embate entre original e remake, é inevitável a comparação e o balanço.
O argumento de “Les Liens du Sang” é de tal modo bom, que poucas alterações sofre (há situações e diálogos iguais).
Mas “Blood Ties” defende-se impecavelmente.
Gray e Canet trazem boas novidades:
- Há mais personagens (os irmãos têm uma irmã, que procura assegurar a ordem na casa).
- Há uma alteração rácica numa personagem (relações inter-raciais eram algo controverso nos USA dos 70s).
- Algumas situações têm um maior desenvolvimento (fomentando assim uma maior tenção emocional).
- O final é diferente (sem ser mais “politicamente correcto” ou crowd pleasing, acaba por ser mais correcto, logico e ajustado, mas com a devida força emocional e deixando considerações diversas ao espectador).
- O trabalho dos actores é melhor.
Posto isto, “Blood Ties” junta-se ao ilustre, raro e curto número de casos onde o remake é melhor que o original.
(mas “Les Liens du Sang” é recomendável)
Vou ter de ver… e já tendo este “background”, vou ver com atenção!!
Lindo menino. Que cinéfilo tão devoto estás desde a Session 2 de “Godzilla”. Fica-te bem.
E vais gostar dos dois filmes.
Depois aguardo o teu comentário.