Stalag 17 – Inferno na Terra (1953)

Stalag 17 - Poster 1

Quando se evoca Billy Wilder, pensamos nas suas magistrais comédias, tão “moralistas” e analíticas da sociedade americana (e não só) da época (ou de sempre?) – “The Seven-Year Itch”, “Some Like It Hot”, “The Apartment”.

Mas Wilder também andou pelos mais intensos melodramas (“The Lost Weekend”), aventuras (“Five Graves to Cairo”) e até pelo film noir (“Double Indemnity”).

Este “Stalag 17” leva-o a abordar a guerra (a Segunda) e os campos nazis para prisioneiros militares Aliados.

 

Stalag 17 é o nome de um importante campo de prisioneiros, onde os alemães guardam os militares inimigos capturados. Lá dentro tudo parece correr em boa harmonia entre carcereiros e encarcerados. Mas os prisioneiros não cessam de fazer acções de fuga. O problema é que recentemente todas as iniciativas são destruídas pelos boches. O grupo acredita que há uma toupeira entre eles e tudo parece indicar que seja um oportunista americano que tem uma vida de bon vivant, pois ganha-a em apostas cínicas e em jogos de influência com o inimigo. Mas será mesmo ele? Ou outro? Ou vários?

 

No campo dos filmes de acção/aventura passado em campos nazis para prisioneiros, ainda nada há melhor (mas estou aberto à discussão) que “The Great Escape” (John Sturges, 1962). Mas o filme de Wilder segue vertentes diferentes e com resultados igualmente notáveis.

Não me surpreende que haverá muito cinéfilo a preferir o filme de Wilder ao de Sturges, seja pelo ponto de vista cinematográfico e/ou narrativo, aliado à riqueza “moral”. Até acredito que assim seja, mas no campo do espectáculo e do entretenimento, Sturges sai vencedor. Mas isto já é uma discussão muito subjectiva.

 

Na verdade, Wilder faz uso do humor, da ironia, do cinismo e até mesmo de uma (aparente) leveza e (venenosa) inocência, para nos envolver no dia-a-dia daquele campo, mostrando-o quase como um campo de férias.

Mas por detrás de toda essa “simplicidade”, Wilder faz um retrato da sobrevivência, da lealdade, do preconceito e da afirmação moral do indivíduo. Há lugar para o humor extremo (o sargento boche dá-se bem com os prisioneiros, mas é um bombo de festa para gozo), a irreverência (os estratagemas que o grupo arranja para ir espreitar as prisioneiras russas no chuveiro), para o violento (a tortura a um personagem por privação de sono), o suspense (quem é o traidor) e a surpresa (a revelação do traidor e o castigo que lhe é dado).

Excelente argumento, preciso e pleno de diálogos saborosos e inteligentes, que vive de uma variada e cativante galeria de personagens (o “louco”, os dois “cromos” e a veneração de um deles a Betty Grable). Óptima prestação de William Holden, bem acompanhado por Otto Preminger (o famoso e excelente realizador surge aqui à frente das câmaras) e por todos os membros do elenco.

Nota máxima à fotografia, absolutamente impecável, que nos traduz o ambiente de paranóia, desconfiança e desalento em que se vive.

 

Obra-prima total.

O filme encontra-se no nosso mercado e já o vi (há tempos) a preço pechincha.

Nos USA há uma edição, saída há uns anos, com relevante material extra. Mas o preço não é tão simpático.

 

Trailer

 

O filme

 

William Holden recebeu um merecido Oscar para “Melhor Actor”. Curiosamente, Holden não queria participar pois achava o personagem demasiado cínico e mau, chegando mesmo a pedir a Wilder que o tornasse mais simpático. Wilder recusou, Holden pensou em sair de cena mas foi pressionado pelo estúdio.

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