A Ilha (2005)

 

 

Título original – The Island

 

“Logan`s Run” (1976) foi um sucesso e ganhou estatuto.

Durante anos falou-se em remake.

Michael Bay foi um dos nomes pensados como realizador.

E aqui fica o seu remake (não assumido, claro é).

 

Futuro, ano 2019. Uma praga causou o extermínio de parte da Humanidade.

Uma colónia de sobreviventes vive numa estrutura protegida, onde todos aguardam pelo dia de irem para “A Ilha”, o último reduto terrestre que não está contaminado.

Lincoln Six Echo é um dos habitantes dessa colónia, que se interroga sobre esse estranho desígnio de vida que é esperar pela ida para “A Ilha”.

Ao investigar descobre uma verdade assustadora.

Apesar do título, não há uma ilha em cena.

(e os trailers já explicam este spoiler)

É uma utopia, uma ilusão, um isco para os eventos.

 

Mas isso, qualquer espectador minimamente inteligente percebe.

Mas parece que muito público nos USA não o percebeu e parte da explicação do flop (tremendo) passa por aí – o público sentiu-se defraudado por não haver uma ilha (?????!!!!!).

Mas ignoremos isso.

Estamos perante um título sci-fi (agora “histórico” – passa-se em 2019, mas falhou por pouco a ideia da praga/pandemia, dado que esta teve o seu auge em 2020) com ideias muito interessantes sobre um tema sempre complexo, vasto e polémico – a clonagem humana.

Por ela passa muita das surpresas do argumento (o “sentido de vida” dos habitantes da colónia), mas não inibe o debate junto do espectador (quais os limites da Ciência, até que ponto os clones são seres humanos com direitos, o poder do dinheiro ser superior à existência humana).

A cada um as suas conclusões.

O filme não explora tal tema em profundidade.

E rapidamente se percebe porquê e porque não o deve.

Isto porque tal é uma justificação (e inteligente, diga-se) para um actioner na vertente escape, run and pursuit, feita com grande sentido de profissionalismo, eficácia e espectáculo.

Tal como ao protagonista, também o espectador é envolvido naquele mundo criado, mas rapidamente se sente que há ali algo mais (escondido e terrível) – são demasiadas as rotinas, as regras, os porquês e os paradoxos.

A primeira metade é bonita (a cenografia e fotografia dos ambientes), sendo progressiva na descoberta da verdade.

Tudo muda na segunda metade, quando se inicia a fuga – o ritmo é vivo, pelo que o interesse nunca decai e o pulsar da adrenalina está sempre em alto.

No final, fica um actioner de sci-fi de muito bom nível de espectáculo, com ideias (bem pertinentes e perigosas), abordando algo da essência do ser humano e inevitabilidade do seu surgir (mesmo quando um “produto”).

Faltou uma maior densidade na apresentação, mas não seria para este filme, conforme ele está criado.

Como é habitual nestas coisas, e porque se passa nos USA, volta-se a tratar estas organizações de suposta ajuda ao ser humano como mais uma empresa que só visa o lucro sem qualquer sentido humanitário (sarcasmo máximo –  tudo é em nome da vida e da saúde das pessoas).

Há momentos-choque (o nascimento dos clones, a descoberta do “viveiro”, a fuga da sala de operações).

Como estamos no terreno do actioner e esta vem encenada por Michael Bay, temos direito a uma desenfreada e destruidora perseguição automobilística (que pretende ainda ser mais acelerada e demolidora que a que o cineasta criou em “The Rock” e em “Bad Boys 2”) que é todo um must (a confusão na estação de comboios e o que se segue – 20 minutos de desenfreada, delirante, explosiva e destrutiva action).

Vibrante fotografia (do grande Mauro Fiore).

Luminosa e luxuosa cenografia.

O que faria David Cronenberg como este material? Muito, bem duro, complexo e controverso. Mas não teríamos festival actioner.

O que faria Paul Verhoeven como este material? Muito, mas o resultado não seria para puristas ou puritanos. E não faltaria gore e forte sexualidade, acompanhados de boa action.

Temos “apenas” Michael Bay. Como tal, e fiel ao seu estilo, temos um produto vistoso (a comunidade), ultradinâmico (a montagem nas cenas de acção), cheio de estética de MTV e da publicidade (os close shots, o efeito magic hour), explosivo, destrutivo e com muita gente bonita (a apresentadora do sorteio, a secretária).

Ewan McGregor e Scarlett Johansson não são os rostos que mais associamos ao actioner. Mas ei-los bem capazes em tais peripécias, mas também dotados de boa emotividade.

Ewan revela um heroísmo inesperado, Scarlett está mais sexy que nunca, com uma ardente inocência.

Bom conjunto de secundários, em correcta prestação.

Um actioner futurista trepidante e com ideias, mas que não as sabe explorar devidamente, preferindo apenas o lado mais entretido.

Na época não faltaram pessoas (eu idem) que viam “The Island” como um pseudo-remake de “Logan`s Run”.

Até porque as semelhanças são imensas:

  • Um futuro distópico.
  • O controlo da população através de um limite de idade.
  • Uma comunidade aparentemente idílica, pacífica e organizada.
  • Os personagens terem um nome seguido de um número.
  • Os diversos prazeres da comunidade.
  • A beleza e curvas dos seus habitantes.
  • O protagonista a descobrir a lógica daquele mundo e a querer fugir.
  • A ajuda de quem sabe o que se passa.
  • A verdade sinistra e inesperada.

 

Claro que há diferenças:

  • O motivo da morte dos habitantes.
  • O porquê daquela comunidade.
  • “The Island” é mais actioner, “Logan`s Run” é mais suave. Ambos têm o seu lado cerebral.

Comum a ambos é uma visão nada simpática do futuro, mas onde se fazem analogias sobre o mundo actual (ou a actualidade do tempo em que cada um dos filmes foi feito) – algo de sócio-político em “Logan`s Run” (o estado populacional a que chegou o planeta e os meios radicais para controlar tal), algo de sócio-económico em “The Island” (o porquê de tudo aquilo assenta em dois paradigmas eternos – o poder dos ricos sobre os mais fracos e o poder imparável da Ciência).

Ambos têm algo de sci-fi cerebral, sabem apontar o dedo a diversas questões (difíceis) e temas (controversos).

E ambos são entretenimentos puros, vistosos, rápidos, espectaculares e sexy.

 

Se “The Island” é “mesmo” um remake de “Logan`s Run”, tal fica a cargo da imaginação de cada espectador, com a verdade a ser determinada pelos seus autores.

Mas, sim, é (muito) interessante vermos essa ligação entre os dois filmes.

 

“The Island” tem edição portuguesa e anda a bom preço.

Realizador: Michael Bay

Argumentistas: Caspian Tredwell-Owen, Alex Kurtzman, Roberto Orci

Elenco: Ewan McGregor, Scarlett Johansson, Djimon Hounsou, Sean Bean, Steve Buscemi, Michael Clarke Duncan

 

Trailers

 

Clips

 

Orçamento – 126 milhões de Dólares

Bilheteira – 35 milhões de Dólares (USA); 162 (mundial)

 

Nomeado para “Melhor Filme – Ficção Científica”, nos Saturn 2006. Perdeu para “Star Wars: Episode III – Revenge of the Sith”

“Caracterização do Ano”, nos Hollywood Film 2005.

A DreamWorks queria adaptar o romance “Spares”, de Michael Marshall Smith, editado em 1996. Conta a história de um homem que liberta uma colónia de clones.

 

O argumento estava na DreamWorks e chamou a atenção sobre Steven Spielberg, que logo contactou Bay.

 

Foi o primeiro filme de Michael Bay não produzido por Jerry Bruckheimer. Foi Bruckheimer que descobriu Bay e deu-lhe as oportunidades de singrar no meio (“Bad Boys” em 1995, “The Rock” em 1996, “Armageddon” em 1998, “Pearl Harbor” em 2001).

Reencontro entre Steve Buscemi e Michael Clarke Duncan com Michael Bay, depois de “Armageddon”.

Reencontro entre Scarlett Johansson e Steve Buscemi, depois de “Ghost World” (2001).

Shawnee Smith volta a interpretar a companheira de Steve Buscemi, depois de “Armageddon”.

Filmado no Nevada e em Detroit.

Filmado com câmaras Arriflex 235, recém-chegadas ao mercado. Eram muito leves e permitiam movimentos rápidos com grande definição de imagem.

Michael Bay não tinha gostado do aspecto fotográfico de “Bad Boys 2” (2003), feito em spherical Super 35, preferindo filmar “The Island” em Panavision anamorphic.

Bay disse aos actores que clones são como crianças, pelo que deveriam colocar algum sentido de diversão e inocência nos seus personagens.

Scarlett Johansson estava demorada na hora de filmar a cena de amor com Ewan McGregor. Michael Bay foi ter com ela ao trailer e viu que ela se recusava a usar um determinado tipo de soutien, preferindo fazer a cena nua. Bay recusou, pois o filme ia mesmo ser PG-13.

Ao ver os dailies, Steven Spielberg disse a Ewan McGregor que ele parecia um jovem Harrison Ford.

Segundo Bay, a luta final entre Lincoln Six Echo e Tom Lincoln foi chata de filmar, pois demorou muito tempo a filmar e obrigava Ewan McGregor a estar sempre a mudar de roupa, ocupando-o cerca de 30 minutos por cada mudança.

Michael Bay não gostou dessa cena, pois pretendia um final mais elaborado e espectacular, fazendo uma verdadeira set piece.

O esgotar do orçamento obrigou a que a confrontação final fosse a que ficou.

Alex Kurtzman e Roberto Orci fizeram alterações e melhorias no argumento inicial, principalmente no segundo e terceiro actos.

O argumento inicial localizava a acção 100 anos depois. Deu-se preferência a que fosse na actualidade por razões financeiras.

Numa versão prévia do argumento, a personagem de Scarlett Johansson ia-se chamar Ester e estava grávida.

A paisagem inicial é da Nova Zelândia. As cenas nos barcos são filmadas em Itália.

O quadro no escritório de Merrick é “Femme Assise (Jacqueline)”, de Pablo Picasso, feito em 1961.

Michael Bay conduzia um dia atrás de um camião que transportava rodas de comboio. Ao dar conta do perigo que seria se tal carga se largasse numa estrada, Bay teve uma ideia para uma cena de acção. Tal cena é vista no filme.

Alguns planos dessa cena seriam reutilizados numa cena parecida em “Transformers 3” (2011), também realizado por Michael Bay.

O spot comercial com a personagem de Scarlett Johansson já existia e já tinha sido feito pela actriz.

Quando a mota entra pelo escritório, há uma pessoa que é arrastada. É um extra, que reagiu de forma mais lenta à situação. A equipa de efeitos especiais detonou os vidros segundos antes, pelo que a pessoa escapou a ferimentos maiores.

O Cadillac Cien é um concept car feito para o Detroit Auto Show de 2002. Era para celebrar os 100 anos da Cadillac. Conta com 750 cavalos, motor de 7.5 litros, 12 cilindros em V, sendo feito em carbono.

Os artigos referentes a Calvin Klein eram autênticos.

O filme é uma parceria entre a Dreamworks e a Warner. A primeira ficava com a distribuição nos USA e a segunda no resto do mundo.

A Dreamworks optou por uma publicidade mais misteriosa e intelectual. O filme falhou nos USA.

A Warner promoveu o filme como um actioner típico do Verão. Os números no resto do mundo foram melhores.

Lançado para as salas com o título “Utopia”.

Houve quem explicasse que parte do flop se deveu à má publicidade feita pelo estúdio.

Houve quem considerasse “The Island” como uma combinação das ideias de “THX 1138” (1971, de George Lucas), “Coma” (1978 de Michael Crichton) e “Logan’s Run” (1976, de Michael Anderson).

 

Os autores de “Parts: The Clonus Horror” (1979) processaram os autores de ”The Island” por plágio. O caso foi a tribunal e a Dreamworks teve de pagar uma choruda indemnização.

 

O tema “My name is Lincoln” de Steve Jablonsky foi usado em alguns trailers de “Avatar” (2009).

 

Devido ao flop de “The Island” Michael Bay aceitou fazer “Transformers” (2007; que daria origem a saga, com cinco filmes feitos por Bay).

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