GODZILLA celebra 60 anos de vida.
A prenda surge esta semana. É para ele e para os fãs.
O épico Godzilla movie que há muitos esperamos e que ele merece.
Godzilla é um dos grandes ícones da pop culture da segunda metade do Século XX.
É um “produto” surgido dos medos do nuclear, que serve para reflectir (através do entretenimento) sobre tal tecnologia.
É certo que o seu poder é maior no Japão (país onde foi criado), mas conseguiu alastrar-se a outros países do mundo (principalmente aos USA).
A galeria de filmes, incluindo rip-offs e spin-offs, atinge as largas dezenas.
A saga Godzilla divide-se em 3 fases:
Showa – de 1954 a 1975.
Heisei – de 1984 a 1995.
Millennium – de 1999 a 2004.
Godzilla tem vários looks, ao longo dos filmes:
Kingoji – nos primeiros filmes.
Mosugoji – a partir de “Mothra vs. Godzilla”
Godzilla inicia um estilo de filmes denominado de Kaiju (que Guillermo del Toro tão bem homenageou no espectacular “Pacific Rim”). De forma simples, pode-se dizer que tal género é uma espécie de Monster Movie made in Japan.
Ao longo das próximas semanas irei abordar todos os títulos feito para o “Lagartinho”.
Como são muitos, divido a viagem por partes. Mais concretamente, décadas.
Comecemos pela de 50.
Godzilla (1954)
Título Original – Gojira
O filme que tudo começa.
A zona costeira de Tóquio começa a ficar assustada devido a uns tremores de terra e algumas destruições. Mas nada de natural há nisso. Tudo indica que seja obra de uma mítica criatura, de nome Godzilla. À medida que mais eventos ocorrem e investigações são feitas, mais se descobre que Godzilla é uma raça evoluída, resultante do nuclear. Como o travar?
Estamos perante um clássico do Cinema e uma referência no campo das monster movies.
Boa progressão narrativa, que assenta em gerir (muito bem) a expectativa em relação à aparição e aspecto da criatura.
Ciência, misticismo e alguma religiosidade, combinada com uma simples história de amor, onde chocam os interesses científicos (há um cientista que quer estudar Godzilla, logo precisa dele vivo) com os da segurança (as autoridades querem Godzilla morto).
No geral, uma parábola sobre os medos e consequências do nuclear (não esqueçamos que tinham passado cerca de 10 sobre os ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki).
Excelente trabalho de efeitos visuais, very grounbreaking para a época (ahhh, aquela magia dos miniature effetcs…!!!).
Magnífica música, que cria medo e fulgor épico.
Vários momentos para a memória, o assombro do espectador e para a História do Cinema – a primeira aparição de Godzilla, a destruição do combóio, a chegada de Godzilla à cidade, a destruição do cerco eléctrico e de toda a cidade.
Repito – um clássico e uma referência.
Trailer
O excelente tema
Realizador: Ishirô Honda
Argumento: Ishirô Honda e Shigeru Kayama
Elenco: Takashi Shimura, Akihiko Hirata, Akira Takarada, Momoko Kôchi
“Melhor Lançamento em DVD de um Clássico”, pela Academia de Filmes de Ficção Científica, Fantasia e Terror 2007.
Um dos edifícios que Godzilla destrói é o Toho Theater. No momento em que viam o filme, alguns espectadores chegaram a abandonar a sala, assustados.
Procuram-se sons de animais para fazer o rugido de Godzilla. Nenhum funcionava. Acabou por ser o som de uma luva sintética a raspar as cordas de um contrabaixo. As passadas de Godzilla eram o bater de uma corda (cheia de nós) numa espécie de panela.
George Lucas ficou de tal modo impressionado pelos miniature effects, que foram inspiradores para a saga (a primeira – cinematograficamente falando) “Star Wars”.
Chegou a estar nomeado para “Melhor Filme” nos Prémios do Cinema Japonês. Perdeu para “Seven Samurai”, mas ganhou para “Melhores Efeitos Visuais”.
Há uma curiosa anedota à volta do processo de produção. O realizador Honda e o responsável pelos efeitos visuais, Eiji Tsuburaya, andaram por diversos arranha-céus de Tóquio e falarem sobre cenas de destruição que queriam pôr no filme. As conversas que tiveram e as ideias que abordaram deixaram tanta gente assustada (ouviam as conversas) que foram denunciados às autoridades. Tiverem de provar que as suas intenções eram apenas cinematográficas e não terroristas.
A cerca eléctrica que Godzilla derrete era feita de cera. Foi derretida com recurso a ar quente.
Godzilla em japonês recebe o nome de Gojira. É a combinação de Gorila (Gorira) e Baleia (Kujira).
Em 2004, na celebração de 50 anos, Godzilla recebeu a sua Star no Hollywood’s Walk of Fame.
A Toho Kabushiki Kaisha quase que entrou em falência em 1954. “Godzilla” (a mais cara produção japonesa até então) e “Seven Samurai”, devido aos orçamentos, esgotaram o capital do estúdio. O (enorme) sucesso das duas produções encheu os cofres.
Pensou-se em fazer recurso ao método do stop-motion (como em “King Kong”), mas tal foi recusado. Para além de exigir muito tempo e dinheiro, não havia técnicos dentro do cinema japonês que percebessem de tal método.
Em Setembro de 1954, uma chuva contaminada por um teste nuclear soviético, contaminou solos, água e vegetais.
Godzilla é um homem (Haruo Nakajima) envolvido por um elaborado fato, de borracha, altamente pesado.
Na sua primeira aparição, Godzilla deveria devorar uma vaca. O director de fotografia convenceu o realizador a rejeitar a cena, por ser demasiado gráfica.
Foi um dos poucos filmes japoneses a estrear na Coreia, apesar da rivalidade entre os dois países.
Um dos nomes para Godzilla seria Anguirus. O nome foi rejeitado, mas seria usado como o do inimigo de Godzilla em “Godzilla Rides Again”.
Muitas das cenas que envolvem movimentação de tropas japonesas são imagens reais dos militares em manobras. O realizador Honda filmou-as e utilizou-as.
Honda faz um cameo – é o homem que liga o interruptor da armadilha eléctrica usada para destruir Godzilla.
Godzilla Raids Again (1955)
Título Original – Gojira no Gyakushû
Tíitulo alternativo – Gigantis: The Fire Monster
Godzilla está de volta (agora na cidade de Osaka) e enfrenta um outro monstro – um Ankylosaur. Mas volta a enfrentar a fúria dos humanos.
Puro monster movie. Pura monster action. Pure fun.
Pelo meio, uma simpática história de amizade, duas simpáticas histórias de amor e a árdua luta de uma pequena empresa em sobreviver.
Tudo está bem quando os monstros lutam. Depois entra-se numa idiota senda de “mata o bicho” (na montagem americana alguém alega que Godzilla vai atacar os USA) e tudo descamba.
Avanço considerável no campo dos efeitos visuais.
As cenas de acção têm a sua dose de espectáculo e entretenimento (a luta entre Godzilla e Anguirus, o duelo entre Godzilla e os aviões).
Trailer
Realizador: Motoyoshi Oda
Argumento: Shigeaki Hidaka e Shigeru Kayama
Elenco: Hiroshi Koizumi, Setsuko Wakayama, Minoru Chiaki
Quando o filme foi distribuído nos USA, Godzilla teve de mudar o seu nome para Gigantis. Existem duas versões como justificação:
- Joseph E. Levine (o distribuidor internacional do filme original) não autorizou o uso desse nome. Este novo filme teve a distribuição da Warner.
- Paul Schreibman, o produtor da versão americana, quis indiciar aos espectadores que seria um novo monstro.
A edição americana tem cortes face à versão japonesa. É mais curta, é narrada na primeira pessoa e faz um final na senda do típico happy end à Hollywood. A batalha final (Godzilla contra aviões, num icebergue) é mais curta.
Primeira aparição de George Takei, o futuro Mr. Sulu de “Star Trek”.
O director dos efeitos visuais queria que as cenas de luta entre os monstros fossem filmadas em câmara lenta. Mas um lapso técnico fez que estas fossem filmadas em velocidade mais rápida. Mesmo assim, o resultado final agradou.
É o primeiro filme onde Godzilla enfrenta outro monstro.
É o único filme onde a espinha de Godzilla não brilha antes de ele soprar o seu bafo radioactivo.
Hollywood queria comprar os direitos para fazer um remake. Chamar-se-ia “The Volcano Monsters” e mostraria um confronto entre Tyrannosaurus e um Ankylosaurus, em San Francisco. Os direitos nunca foram obtidos e as ideias foram usadas num filme chamado “Reptilicus” (1961).
Haruo Nakajima volta a vestir o fato de Godzilla. O fato era agora mais leve e flexível.
Godzilla – King of the Monsters! (1956)
Não é sequela, não é remake.
É uma adaptação USA do filme original, mas por via da montagem e da adição de cenas novas.
A história é praticamente igual, mas vista pelos olhos de um jornalista americano (interpretado por Raymond Burr), que narra todos os eventos que assiste como se fosse uma reportagem.
Virado exclusivamente para os USA (o protagonista é americano, todos falam inglês), perde-se alguma da força do original, ao serem retiradas cenas que abordavam o triângulo amoroso, questões religiosas e científicas.
A ideia é interessante, mas prefere-se o original.
Trailer
Realizadores: Ishirô Honda, Terry O. Morse
Elenco: Raymond Burr, Takashi Shimura, Akihiko Hirata, Akira Takarada, Momoko Kôchi
Terry O. Morse realizou as cenas novas que envolvem Burr.
Na cena do primeiro barco, participa Kenji Sahara. O seu nome não é mencionado no genérico, mas Sahara seria o actor mais activo dos Estúdios Toho (os proprietários de Godzilla).
Esta versão omite referências aos bombardeamentos Americanos a Hiroshima e Nagasaki.
O primeiro título dado era “Godzilla, The Sea Monster”.
Al C. Ward era um prestigiado argumentista graças à série “Medical Center”. Foi contratado para escrever as cenas americanas. Foi-lhe dada a escolha – um salário de 2.500 Dólares um 5% das receitas. Ward não acreditava no filme e preferiu o salário. O tempo (e as receitas) encarregou-se de gerar em Ward um (enorme) arrependimento. Continhas feitas, Ward poderia ter ganho 5 milhões de Dólares.
Nalguns planos (novos), Godzilla aumenta de tamanho. Isto para que os americanos percebessem a diferença de escala entre Godzilla e o meio urbano e o adaptassem (por imaginação) à realidade das grandes metrópoles americanas.
Momoko Kochi regressaria a saga, interpretando o mesmo personagem (Emiko), em 1995 com “Godzilla vs. Destroyah”.
Surgiu o rumor que Raymnd Burr teve de rodar todas as suas cenas num dia. Na verdade, Burr teve uma agenda de 6 dias de filmagem. Ao contrário do seu personagem, Burr não foi até ao Japão. As cenas foram filmadas em Hollywood.
Queria-se um editor experiente, para conseguir uma lógica continuidade entre as cenas do filme original e as novas. Terry O. Morse foi escolhido pelos seus 30 anos de experiência como editor e como realizador de filmes low budget.
A década de 50 é curta para Godzilla. Apenas 3 três filmes (ou 2 e “meio”), em que apenas 1 marca lugar na Historia.
Na década seguinte tudo mudaria para melhor.
Daqui a dias falo dela.