Hannibal Lecter é um dos mais fascinantes, perversos, perigosos e melhores personagens do Cinema e da Literatura.
Começou na mente de Thomas Harris e logo surgiu o interesse do Cinema.
Vimo-lo em “Manhunter”, “The Silence of the Lambs”, “Hannibal”, “Red Dragon” e “Hannibal Rising”.
Anthony Hopkins imortalizou-o, com uma criação que arrepia.
Eis uma série televisiva que desenvolve e dá uma nova visão sobre Hannibal.
“Hannibal” desenvolve (com muitas variações) os eventos que são descritos num par de conversas no filme “Manhunter” (do qual já aqui falei quando da estreia da série) e no romance “Red Dragon”.
A série apresenta-nos Will Graham, um psycho killer profiler muito especial – Graham consegue recriar todos os eventos que ocorreram numa crime scene e entrar na mente de um psicopata assassino.
Por isso, o FBI recorre a ele para identificar um serial killer que anda à solta.
Tal leva-o a andar sempre no limiar da loucura, em busca da fuga para a racionalidade e incapaz de descortinar onde é o sonho e a realidade.
Para o ajudar e controlar, o FBI põe-no em parceria com o Dr. Hannibal Lecter, um reputado psiquiatra.
A parceria dá resultado (muitos assassinos são capturados devido à “joint venture” de talentos), mas Graham fica de tal modo mentalmente perturbado, devido às atrocidades que descobre e combate, que questiona mesmo a sua sanidade e até que ponto não será ele também um assassino e autor de alguns dos crimes que investigou.
Paralelamente, Lecter revela-se um homem perigoso, de agenda misteriosa, pela forma como manipula mentalmente Graham e todos ao seu redor, conseguindo mesmo que Graham seja suspeito de crimes.
Será Graham um assassino ou apenas um “psicótico” profiler? E como provar a sua inocência, a existir?
Entretando, Lecter vai continuando o seu jogo manipulador.
Criador: Bryan Fuller, inspirado pelos eventos e personagens do romance “Red Dragon” de Thomas Harris
Elenco: Hugh Dancy, Mads Mikkelsen, Caroline Dhavernas, Laurence Fishburne, Gillian Anderson
Secundários: Scott Thompson, Aaron Abrams, Kacey Rohl, Lara Jean Chorostecki, Raúl Esparza, Vladimir Jon Cubrt, Katharine Isabelle, Eddie Izzard, Richard Armitage, Gina Torres, Rutina Wesley, Joe Anderson, Fortunato Cerlino, Cynthia Nixon, Tao Okamoto, Anna Chlumsky, Nina Arianda
Site – http://www.nbc.com/hannibal?nbc=1
AXN PT – http://www.axn.pt/programas/hannibal
“Hannibal” é uma grande proposta televisiva.
Muito honra o legado cinematográfico do personagem, rivalizando muito bem com “Manhunter” e “The Silence of the Lambs” (entendamo-nos, são os melhores filmes sobre Lecter), superando idiotices como “Hannibal” (o filme), “Red Dragon” (o inútil remake de “Manhunter”) e “Hannibal Rising”.
Para além de ser um notável e muito bem contado serial killer thriller, a série propõe uma verdadeira viagem à mente humana e à loucura.
Bons meios de produção, notável trabalho de fotografia e muita estilização em belas, enigmáticas e perturbantes imagens (que fariam a delícia de Kubrick).
Excelentes efeitos de caracterização, que chegam mesmo a criar repulsa e nojo no espectador.
Hugh Dancy está excelente como Graham, ilustrando-o como um “psicopata” ao serviço do Bem e como um homem em permanente ameaça de entrar em coma e/ou raiva psicótica.
Mas (como seria óbvio), não consegue eclipsar o fabuloso William L. Petersen em “Manhunter”. Petersen compôs um Graham mais viril, mas sempre prestes a rebentar e em permanente luta pela vitória da sanidade dentro da sua mente. O Graham de Petersen também cativa mais o espectador pela sua emotividade (veja-se o momento em que ele “confessa” ao filho que é um “psicopata”) e estabilidade emocional (é casado). Por outro lado, Petersen também consegue ser mais elegante (os fatos de Hugo Boss muito ajudam) face a um Hugh Dancy que parece um street bum.
Nota alta também para Mads Mikkelsen. Este dinamarquês (que conseguiu o estrelato como vilão em “007 – Casino Royale”) cria um Lecter fascinante, elegante, galante (vejam-se os momentos com os seus convidados à mesa e com a sua psiquiatra), misterioso, manipulador e inquietante. Mikkelsen afasta-se dos caminhos delineados por Brian Cox (“Manhunter”) e Anthony Hopkins (“Silence of the Lambs”, “Hannibal”, “Red Dragon”), criando um Lecter que se afirma como um verdadeiro Diabo a manipular todo o humano que lhe surge na mão, fazendo dele um instrumento para o Mal e para a Morte.
Dêem-lhe tempo e Mikkelsen pode muito bem ser considerado como o melhor Lecter de sempre.
Laurence Fishburne (habituado a caçar assassinos depois da sua participação em “CSI: Las Vegas”, onde substituiu… William L. Petersen – giro como tudo anda ligado, não?) dá-nos a sua habitual segurança como Jack Crawford.
Gillian Anderson (actriz habituada a psycho thrillers – foi Scully em “The X-Files”, onde caçou muitos psycho killers; esteve em alta na perturbante série britânica “The Fall”) está esplêndida como psiquiatra, com grande sentido de frieza e sensualidade.
O restante elenco atinge igual nível de qualidade.
Outros personagens que surgem no livro e no filme têm a sua participação, com este e aquele a mudar de sexo, permitindo uma conseguida ambiguidade na sexualidade da interacção entre os personagens. Muito interessante a forma como os argumentistas conseguiram, em diversos episódios e momentos, usar diálogos, frases e expressões de “Manhunter” e “Red Dragon” (o livro).
Todos os episódios são de um forte grafismo na exposição da violência (os corpos exibidos como anjos, onde as “asas” são criadas a partir da pele das costas; a “abertura” do maxilar; a “explicação” do que é uma “gravata colombiana”; a visão clara de uma operação à barriga).
Como se sabe, Lecter é um perito em culinária. Embora os seus pratos tenham sempre um visual deslumbrante (e ele explica do que constam), quando se assiste à preparação não se admirem se ficarem com nojo perante carne.
“Hannibal” é altamente restrita a adultos e pessoas com estômagos (e mentes) fortes.
A Season 1 dura 13 episódios. É certo que a meio deixa a sensação de estar a marcar passo e a limitar-se a ser mais um psycho serial killer crime scene investigation show of the week (e assim entrar em concorrência com as magníficas “Profiler” e “Millennium”) e que alguma “palha narrativa” deveria ser eliminada, mas a série recupera força na fase final da temporada, devido aos desequilíbrios de Graham e ao jogo (apenas conhecido pelo espectador) de Lecter.
A Season 2 já complica as coisas, com um jogo de gato e rato mental e psicológico (psicótico?) entre Lecter, Graham e todos os restantes, mostrando como Graham e Lecter são duas faces da mesma moeda.
A sumptuosidade visual da série atinge um auge com imagens belas (na sua concepção, pois nem sempre ilustra bonitos eventos), que são desafios à estética, à arte e ao significado visual/emocional/psicológico das mesmas.
A regra (habitual) de 13 episódios por Season obriga a que alguns causem entraves à progressão da narrativa.
A Season 3 procura reformular “Red Dragon” e “Hannibal” (de uma forma muito interessante, diga-se).
Retoma-se o jogo de gato & rato, com Graham a partir no encalço de Lecter e de outros assassinos, mostrando a complexidade da ralação Grahn-Lecter e como Graham está mesmo perturbado e já mergulhado no oceano da loucura.
Mas por causa da Season cumprir o calendário (habitual) de 13 episódios, volta-se a verificar o emperrar à narrativa com alguns episódios.
Final brutal e inesperado.
Apesar das suas fraquezas inevitáveis (X número de episódios), “Hannibal” é uma renovada, complexa e esteticamente cuidada visão sobre a mente de psycho killers e profilers.
Por outro lado, faz uma inteligente, negra, complexa e dotada de um humor muito negro, revisão da saga literária criada por Thomas Harris.
A série terminou, mas deixa marcas.
Uma das melhores, mais provocatórias e mentalmente estimulantes propostas televisivas desta década e de sempre.
Obrigatório.
Trailer Season 1
Trailer Season 2
Trailer Season 3
“Melhor Série – Thriller”, “Melhor Actor Secundário – Televisão” (Richard Armitage), nos Prémios Saturn 2016. Mads Mikkelsen tentou ser “Melhor Actor – Televisão”, mas perdeu para Bruce Campbell em “Ash vs Evil Dead”.
“Melhor Actor – Televisão” (Hugh Dancy), “Melhor Actor Secundário – Televisão” (Laurence Fishburne), nos Prémios Saturn 2015.
“Melhor Série Televisiva”, “Melhor Actor – Televisão” (Mads Mikkelsen), nos Prémios Saturn 2014.
“Melhor Actriz – Televisão” (Caroline Dhavernas), “Melhor Actor Secundário – Televisão” (Richard Armitage), “Melhor Actriz Secundária – Televisão” (Gillian Anderson), nos Prémios Fangoria Chainsaw 2016.
“Melhor Actor – Televisão” (Mads Mikkelsen), “Melhor Actriz Secundária – Televisão” (Gillian Anderson), “Melhor Caracterização – Televisão”, nos Prémios Fangoria Chainsaw 2015.
“Melhor Série Televisiva”, nos Prémios IGN Summer Movie 2014.
“Melhor Série Televisiva – Terror”, nos Prémios IGN Summer Movie 2013.
A serie retira personagens e eventos vistos em “Manhunter”, “Red Dragon”, “Hannibal” e “Hannibal Rising”. Não se podia mexer em “The Silence of the Lambs”, pois não era uma produção de Dino De Laurentiis. A série vinha da sua companhia de produção e como tal podia-se mexer nos filmes que ele produziu (Laurentiis despachou os direitos depois do flop de “Manhunter”; recuperou-os depois do sucesso e Oscars de “The Silence of the Lambs”).
Alguns personagens masculinos do livro “Red Dragon” mudam para mulher na série “Hannibal”.
Bryan Fuller afirma que muita da inspiração para o look da série passa por cineastas como David Lynch, Stanley Kubrick, David Cronenberg, Dario Argento e Tony Scott.
David Tennant fez uma auditon para ser Lecter. Fuller ficou de tal modo impressionado, que apesar de ter escolhido Mikkelsen para Lecter, ofereceu a Tennant o papel de um serial killer, num episódio.
Hugh Dancy fez uma audition para ser Lecter em “Hannibal Rising”.
David Bowie chegou a ser abordado para interpretar o tio de Lecter, mas a pop star não estava disponível.
A personagem de Bedelia Du Maurier foi pensada para Angela Lansbury. Mas a actriz estava ocupada com outra produção. Gillian Anderson foi escolhida.
Anderson chegou a ser ponderada para ser Clarice Starling no filme “Hannibal” (2001). Curiosamente, Jodie Foster (protagonista de “The Silence of the Lambs”) era a preferida de Chris Carter para ser Dana Scully na série “The X-Files”.
Laurence Fishburne e Gina Torres interpretam um casal. Estão casados um com o outro, na vida real.
Dancy recomendou Mikkelsen para ser Hannibal Lecter. Ambos já se conheciam desde “King Arthur” (2004) e são bons amigos desde então.
Nesse filme, eles têm o seguinte diálogo:
- Dancy – “I don’t kill for pleasure. Unlike some.“
- Mads “Well, you should try it someday. You might get a taste for it.“
Mikkelsen fez todos os cozinhados vistos na série. O actor teve uma orientadora de cozinha.
Os títulos dos episódios da Season 1 são de expressões francesas ligadas à culinária.
Os títulos dos episódios da Season 2 são de expressões japonesas ligadas à culinária.
Os títulos dos episódios da Season 3 são de expressões italianas ligadas à culinária.
Havia planos para mais Seasons, mas os fracos resultados nas audiências levaram a NBC a cancelar a série no final da Season 3.
Fuller tinha em mente 7 Seasons. A Season 3 ia reformular “Hannibal Rising”, a 4 ia para “Red Dragon”, a 5 para “The Silence of the Lambs” e a 6 mexia com “Hannibal”. A 7 seria para resolver o cliffhanger da S6. Falava-se que a série ia respeitar o final do livro “Hannibal”.
Fuller ainda acredita na Season 4. Será uma reformulação de “The Silence of the Lambs” e Fuller quer Ellen Page como Clarice Starling. Fuller está em negociações com a Amazon Video, a Starz e a Netflix. Ainda nada se sabe sobre tal.
Sobre Thomas Harris
http://www.randomhouse.com/features/thomasharris/
http://www.goodreads.com/author/show/12455.Thomas_Harris
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