Gambit

Gambit - 2012 - Poster 5

“Gambit” é uma deliciosa comédia dos 60s, já é um clássico e ganhou recentemente um remake.

Como nem o original chega ao nosso mercado doméstico, nem o remake estreia nas nossas salas, decidi oferecer-me o luxo de fazer um sessão dupla.

Versão 1966 – Ladrão Roubado

Gambit - 1966 - Poster 1

Dois vigaristas do mundo da arte convencem uma exótica dançarina a participar na execução do um audacioso e impecavelmente planeado roubo, a um dos homens mais ricos do mundo, com uma abastada colecção de arte. Mas tudo se complica, nada corre como planeado e a menina, que julgavam ser ingénua, revela-se “melhor que a encomenda”.

Deliciosa comédia em tom de heist movie, cheia de humor, engenho, suspense e muitas surpresas.

Ronald Neame tem aqui um dos seus melhores momentos como realizador, filmando com eficácia e o sentido de elegância adequada à época, sabendo aproveitar o exotismo do local da acção (no Médio-Oriente – ainda que tudo recriado em estúdio).

Michael Caine com toda e sóbria e irónica elegância dos seus golden days, acompanhado por uma perfeita Shirley MacLaine, com aquele seu toque de charme e inocência que só ela sabia. Herbert Lom dá aquele ar severo e poderoso, que tantas vezes soube tão bem criar.

Gambit - 1966 - Poster 2

O argumento traz um prodigioso twist que vai deixar todos de queixo caído, mesmo os mais experientes. Quem o conhece, nada deve falar sobre ele. Acrescente-se, para ainda maior expectativa, que a dita reviravolta não surge onde é habitual. Os argumentistas divertem-se de tal modo com tal, que ainda reservam mais duas surpresas.

Na época, a publicidade pedia para se contar o final (por ser tão hilariante), mas pedia o favor de não se contar o princípio. Eu fico em silêncio sobre ambos.

Uma pérola. Um pequeno clássico.

Trailer – 

Versão 2012 – Ladrões Com Estilo

Ainda inédito entre nós (mas com as edições DVD/Blu-Ray já a caminho de alguns mercados europeus e americanos) está esta nova versão.

Para além do excelente elenco (Colin Firth, Cameron Diaz, Alan Rickman, Tom Courtenay e Stanley Tucci), o filme conta com o luxo de ter o argumento assinado pelos Coen (sim, o Joel e o Ethan de “Raising Arizona”, “The Big Lebowski”, “Fargo” e outros).

A realização pertence a Michael Hoffman, estimável autor do muito simpático “A Midsummer Night’s Dream”.

A intriga pouco se altera. Um perito em análise de arte procura vingar-se do seu (avarento e arrogante) patrão. Para tal, e com a ajuda de um hábil falsário, procura a cumplicidade de uma cowgirl para seduzir o magnate. E muitas serão as complicações.

Muito bom exemplar do género, que divide as suas mais-valias entre os protagonistas e o argumento.

Gambit - 2012 - Poster 6

Firth sabe (como poucos) fazer da seriedade uma arma de humor, e aqui dá mais uma prova disso (e nunca perde a compostura, mesmo quando fica, por muitos minutos, em boxers). Diaz dá-nos a sua habitual simpatia e energia (ela é bem melhor actriz do que se pensa). Rickman transmite toda aquela elegante e erudita vilania que só ele tem grande savoir-faire (não esqueçamos que Rickman é o inesquecível vilão de “Die Hard”, que ainda é um modelo de vilão).

Os Coen elaboram um argumento muito divertido, talvez menos engenhoso e rico em peripécias que o argumento do filme original, mas compensado pela excentricidade de personagens que os manos tão bem sabem criar, fazendo com que muito do humor venha da confrontação das personalidades dos personagens intervenientes.

Fiel ao original, o filme tem o seu twist e os Coen até o homenageiam (muitíssimo bem). Mas mantêm a brincadeira e dão-nos mais dois twists quando julgávamos que não haveria lugar para eles (também em sintonia com o original, respeitando até o momento da narrativa onde surgem).

Hoffman filma com eficácia e elegância e não se inibe de brincar com a comédia sofisticada clássica (a fabulosa cena no hotel, com todos os equívocos que surgem, recorda os melhores momentos das comédias de Blake Edwards).

Aqui não há falsificação – “The Gambit” é diversão genuína.

Está prevista a estreia lusitana em 4 Abril 2013.

(ou será vigarice?)

Trailer – 

Cada filme vale por si e deve ser analisado assim.

Mas quando se fala de original e remake, é óbvio que as comparações são inevitáveis.

Sendo assim, vamos por partes.

Os actores

Michael Caine vs. Colin Firth. Firth sabe usar a seriedade para o humor, mas Caine tem uma mestria na sua sobriedade e sabe como colocar uma elegante ironia. São dois (notáveis) actores com diferentes (e igualmente notáveis) estilos de representação, mas para este tipo de filme, Caine ainda é o “Sir”.

Shirley MacLaine vs. Cameron Diaz. Diaz é sempre simpática e cativante, mas MacLaine tinha uma inocente malícia que poucas a superam.

Herbert Lom vs. Alan Rickman. Lom é um excelente actor e sai-se muito bem, mas Rickman entrega toda aquela suprema e erudita vilanagem como poucos actores sabem.

Argumento

Ambos têm os seus méritos, mas se os Coen investem nos personagens e nas suas peculiaridades, o argumento original de Jack Davies e Alvin Sargent (futuro autor de “Paper Moon” e de todos os recentes “Spider-Man”) é mais rico em peripécias. Um empate é justo.

Resultado – vitória da versão de 1966.

Gambit - Match

O filme de Ronald Neame beneficia do facto de ser feito na era dourada para este género e numa época cheia de estilo (quer no áudio-visual, quer na everyday life). A nova versão surge como mais um (bom) filme de género, aqui e ali com ares de “démodé”. Por isso, é justo considerar-se o original como superior ao remake, apesar dos (muitos) méritos que este tem.

Alex Aranda

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