Título original – Beat the Devil
Elenco de luxo, dirigido por um Mestre de Cinema.
O difícil é catalogar o filme – é comédia, drama, aventuras, thriller, paródia ao film Noir?
Ora é aí que está o gozo. É tudo isso.
Numa pequena povoação italiana, várias pessoas se cruzam, com o mesmo interesse – fazer fortuna, rápida e fácil, em África, à volta de um negócio que muito promete.
Mas quem engana quem?
O filme é sobre golpadas.
Pois bem, a maior é aquela que Huston e companhia dão ao cinéfilo.
De facto, desde o primeiro ao último segundo, é visível o quanto todos se divertem, o quanto enganam e o quanto Huston nos puxa sempre o tapete quando achamos que percebemos o que se passa e que género de filme estamos a ver.
Mas em nada nos preocupamos com a forma como somos “vigarizados”.
O espectáculo (e a diversão) dos actores compensam.
Bogart, Lorre (apelidado de O`Horror) e Morley partem a loiça toda.
Jennie e Gina estão esplendorosas. Vejam as duas, na praia e em fato de banho, a fazerem concorrência uma à outra na forma como falam de infidelidade; Jennie e a sua entrada em cena, preocupada porque nenhum homem olha para as suas… pernas; ela a jogar xadrez, a fazer check-mate, quase sem olhar para o tabuleiro; Gina a seduzir o marido do casal oposto.
Lamenta-se a “censura” num momento – Gina inclina-se, com um generoso decote, e quando o espectador sorri, Huston “vigariza-nos” e muda de plano. Hmmmmmmmf…
Uma grande diversão e uma paródia magnífica a duas obras-primas de Huston (“The Maltese Falcon” e “The Treasure of Sierra Madre”).
E o resultado é uma preciosidade de Cinema.
Deixem-se vigarizar. Neste caso, é tão divertido e excitante.
Obrigatório.
Infelizmente, “Beat The Devil” está inédito no nosso mercado doméstico. Mas em Espanha, pode ser encontrado a bom preço, em várias edições. Se o Espanhol não for problema, em termos de legendagem…
Realizador: John Huston
Argumentistas: John Huston, Truman Capote, segundo o livro de Claud Cockburn (com o pseudónimo de James Helvick)
(Anthony Veiller e Peter Viertel também participaram, mas sem direito a crédito)
Elenco: Humphrey Bogart, Jennifer Jones, Gina Lollobrigida, Robert Morley, Peter Lorre
Trailer
O “duelo” entre Jennie e Gina
O Filme
“Top 10 do Ano”, pela National Board of Review 1954.
Claud Cockburn escreveu uma primeira versão do argumento, a partir do seu livro. Truman Capote foi chamado para terminar o guião, dado que Cockburn tinha abandonado o projecto (não é claro se saiu por vontade própria ou foi despedido).
Humphrey Bogart sempre quis John Huston para realizador. Mas Huston andava ocupado com um projecto que envolvia Katharine Hepburn. O projecto ficou cancelado (Hepburn resolveu sair de cena para que Huston se dedicasse a “Beat the Devil”). Huston ainda andava ocupado com a post-production de “Moulin Rouge”. Nicholas Ray era o Plan B, caso Huston ficasse mesmo indisponível.
Huston queria que o filme fosse uma paródia a “The Maltese Falcon” (que Huston realizou) e a outros títulos do género.
Fotografia do grande Oswald Morris (“Moulin Rouge”, “The Guns of Navarone”, “Lolita”, “Sleuth”, “Reflections in a Goldne Eye”).
Quinto e último encontro entre Bogart e Peter Lorre, depois de “The Maltese Falcon” (1941), “Casablanca” (1942), “All Through the Night” (1941) e “Passage to Marseille” (1944).
Bernard Lee (o futuro M da saga “James Bond”) interpreta um investigador de nome Jack Clayton. Clayton é o operador de câmara, que se tornaria um reputado realizador (“The Innocents”, “The Great Gatsby”).
Bogart sofreu um acidente automóvel durante as filmagens. Tal deixou-o sem alguns dentes e com alguma dificuldade em falar. Huston contratou um jovem actor inglês, com notáveis capacidades de imitação, para dobrar Bogart. Esse jovem é um “tal” Peter Sellers.
O filme entrou muito cedo no public domain, daí que os masters que começaram a surgir eram de péssima qualidade, vindos de diversas editoras.
Filmado em Ravello, zona de Amalfi.
A zona – http://www.amalfiscoast.com/inglese/town/ravello.htm