Sabotagem (2014)

 

 

Título original – Sabotage

 

Passou muito despercebida a estreia deste actioner com Arnold Schwarzenegger.

O ex-Governador da Califórnia já não é a estrela de outrora, pelo que muito público virou as costas ao filme.

É pena, pois vem assinado pelo meu estimado David Ayer (que já aqui abordei), que volta a deixar a sua marca no título bem adequado ao seu Cinema.

 

Um grupo de elite do DEA efectua um raid num drug lord. Os mauzões são todos mortos e o grupo decide escapulir com 10 milhões de Dólares.

Algum tempo depois, os membros do grupo vão sendo mortos, de forma bem cruel, um a um.

Uma rigorosa investigação se inicia. Pode ser a vingança do cartel. Mas também pode ser alguém do grupo. Em quem confiar?

Ayer já nos habituou a uma visão suja e nada moralista de L.A. e das suas forças de Law & Order. Os polícias dos filmes de Ayer andam sempre em zonas cinzentas, no limbo entre Bem e Mal, com o cineasta a carregar bem nessa ambiguidade moral.

Aqui é mais um caso.

Nenhum dos personagens é recomendável. O grupo move-se, comporta-se, age, pensa e veste-se como o pior dos criminosos que combatem. A diferença é que usam todos os seus recursos a favor da sociedade. Mas também deles. No fundo, um gang ao serviço da Justiça, mas com interesses só para ele.

“Sabotage” é um puro Ayer film. Fiel ao seu estilo (narrativo e visual), Ayer faz um competente actioner, com uma violência bem gore (o cadáver esventrado e pendurado no tecto) e com laivos de murder mystery à Agatha Christie.

Pelo meio, a ilustração daquele grupo mostra-o como uma família, onde reina a cumplicidades e a confiança, com estas a desvanecerem à medida que o body count aumenta e cresce a paranóia à volta da possibilidades que seja um deles o assassino.

O whodunit cativa, o espectador fica sempre em suspenso sobre quem é quem e deixa entrar dentro de si todo o clima de desconfiança que paira em todos os personagens.

Lamenta-se é a forma algo precipitada, incoerente e algo banal como se resolve o mistério.

Schwarzie está muito bem, em topo de forma como líder, durão e action hero, num dos melhores trabalhos da sua carreira (e bem atípicos – não se procure no seu Breacher um personagem da mesma índole que o John Matrix de “Commando” ou o Dutch de “Predator”), a compor um personagem duro, com o seu drama humano (perdeu a família devido a um cartel), amargurado e sem alma, mas não isento do heroísmo que a action star (sempre) nos habituou. Estranha-se (e muito) o seu (esquisito) penteado.

Os rapazolas são bem convincentes como implacáveis agentes do DEA.

Mireille Enos e Olivia Williams surpreendem pela postura (bem) bad-ass.

Ayer dirige com a sua habitual competência, conseguindo boas doses de acção com impacto (a perseguição nas ruas e o duelo final) e até cria um bom momento de mise en scéne (a sagaz montagem onde se acompanha, em paralelo, a ida à casa de um dos elementos do grupo e a explicação do que aconteceu minutos antes).

Apesar de ser o título mais “frouxo” de Ayer (acaba por ser apenas “mais” um actioner, sem o punch psicológico e moral dos seus filmes anteriores – talvez com menos personagens houvesse mais atenção a cada um, aliado a uma melhor conclusão do mistério, tendo-se assim um título mais forte sobre a fronteira entre “bons” e “maus”, e a ambiguidade de quem vive no meio de tanta sujidade humana), “Sabotage” é um bom entretenimento e vê-se muito bem.

 

“Sabotage” ainda não chegou ao mercado doméstico, mas já é possível “sabotá-lo” por aí.

 

“Sabotage” tem edição portuguesa, a bom preço.

Realizador: David Ayer

Argumentistas: Skip Woods, David Ayer

Elenco: Arnold Schwarzenegger, Olivia Williams, Sam Worthington, Mireille Enos, Joe Manganiello, Josh Holloway, Terrence Howard, Max Martini, Kevin Vance, Mark Schlegel, Martin Donovan

 

Orçamento – 35 milhões de Dólares

Bilheteira – 10.5 milhões de Dólares (USA); 22.1 (mundial)

 

Site

http://www.sabotagethefilm.com

 

O argumento inspira-se no conto de Agatha Christie, “And Then There Were None”.

 

O projecto inicial tinha Patrick Alessandrin (“Banlieue 13: Ultimatum”) como realizador, Bruce Willis como protagonista e o título de “Ten”.

Também chegou a ter o título de “Breacher”.

 

Pouco sobrou do argumento inicial de Skip Woods, apenas o conceito (um grupo de agentes a serem eliminados um a um).

No argumento inicial, era Lizzie a culpada do rapto da família de Breacher.

Arnold Schwarzenegger é fã do trabalho de David Ayer e logo se manifestou em querer trabalhar com ele.

Kate Mara e Isla Fisher foram consideradas para a personagem de Mireille Enos. Malin Akerman tinha sido a eleita, mas a sua avançada gravidez obrigou-a a abandonar o projecto.

Arnold Schwarzenegger e Sam Worthington andaram pela saga “Terminator”, mas nunca se encontraram –  Worthington esteve em “Terminator Salvation”, o único filme da saga sem a presença de Schwarzenegger.

 

O elenco treinou ao longo de vários meses com antigos agentes da SWAT.

 

No escritório de Breacher vêem-se fotografias que são da família de Arnold Schwarzenegger.

 

Havia uma intriga paralela que mostrava a agente Brentwood na caça de um pai que matou a filha. Por razões de ritmo, retirou-se toda a footage ligada a tal. Há uma breve menção a ela quando Brentwood e Breacher seguem para a casa de Tripod.

 

Filmaram-se dois finais alternativos. Em nenhum deles o personagem de Arnold Schwarzenegger fica bem visto, revelando-se mesmo como um criminoso, cobarde e assassino.

A pedido do estúdio (que rejeitou qualquer um dos outros finais), Ayer filmou um novo (o que ficou no final cut), mais positivo e heróico ao personagem de Arnold Schwarzenegger.

 

O cut inicial era de três horas.

Ayer queixou-se de excesso de intromissão do estúdio, levando a que o filme fosse muito editado de forma a parecer mais um action thriller (intenção do estúdio) e menos um murder mystery thriller (intenção de Ayer).

Arnold Schwarzenegger não gostou (e tem boas razões para tal) do corte de cabelo que lhe criaram.

 

A palavra “Sabotage” deriva da palavra francesa “Sabot” (que era a denominação dada a um tipo de calçado feito em madeira). Durante a Revolução Industrial, muitos franceses viram-se substituídos por máquinas, perdendo assim o seu emprego. Como protesto, eles atiravam os seus sabots para a máquinas, causando estragos nelas, conseguindo assim ter o seu emprego de volta. E assim se criou a palavra Sabotage.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s