Os anos 60 já não são tão intensos para Marlon Brando como foram os 50s. Mas ainda era possível vê-lo em produções de envergadura e onde nos brindava com a sua densa seriedade.
Eis um bom exemplo.
Um oficial alemão, dissidente do regime nazi, vive tranquilamente na Índia.
Um dia, é “recrutado” por um alto cargo dos Serviços Secretos Britânicos, para uma missão de alto risco. Deve-se passar por um oficial da SS, infiltrar-se num cargueiro, que parte do Japão para a Alemanha com um vasto carregamento de borracha. Como os ingleses não querem que tamanha carga se perca, o “bom alemão” deve desactivar as cargas explosivas a bordo e fazer tudo para tomar o navio e levá-lo às mãos dos Aliados.
O comandante do navio é um homem rigoroso, mas não fanático.
A tripulação divide-se entre os fiéis à Alemanha e os devotos a Hitler.
Em quem confiar?
Muito interessante e curioso filme, que visa menos as acções heróicas e espectaculares de good guys vs bad guys, procurando ser mais um “estudo” sobre o debate de consciência à volta do Certo & Errado, no que envolvia a luta entre a fidelização à moral alemã e a entrega ao fanatismo nazi.
Alguma tensão e algum suspense (tudo estala nos 15 minutos finais), onde a riqueza narrativa e emocional está no duelo ético entre os dois protagonistas.
Marlon Brando cumpre com a sua habitual segurança (ele aqui não está a fazer “favor”; e que bem que ele cria e lhe cai o sotaque alemão) e até dá um ar de graça como action hero (mas ninguém espere acções à John Wayne, Errol Flynn ou Steve McQueen).
Yul Brynner dá-nos mais uma daquelas intensas interpretações como só ele sabia (poucos sabiam fazer do olhar, da voz e do rosto uma “arma” de representação como Brynner sabia).
Bernhard Wicki era um austríaco que teve alguma actividade em Hollywood (é ele o responsável pelo “capítulo germânico” em “The Longest Day”). Era um tarefeiro eficaz e aqui dá mais uma prova disso.
Poderosa música do grande Jerry Goldsmith.
No campo do sabotage action war film há (bem) melhor (“The Guns of Navarone”, “Where Eagles Dare”, “The Dirty Dozen”, “Force 10 from Navarone”), mas “Morituri” cumpre bem e com eficácia a sua capacidade de bom entretenimento.
Vê-se bem.
“Morituri” não tem edição portuguesa. Pode ser encontrado noutros mercados, a bom preço.
Realizador: Bernhard Wicki
Argumentistas: Daniel Taradash, a partir do romance de Werner Jörg Lüddecke
Elenco: Marlon Brando, Yul Brynner, Janet Margolin, Trevor Howard
Orçamento – 6.3 milhões de Dólares
Bilheteira – 3 milhões de Dólares
Mercado doméstico – 4 milhões de Dólares
Trailer
Clips
http://www.tcm.com/mediaroom/video/297943/Morituri-Movie-Clip-You-Are-Under-My-Authority.html
Atenção a um esplêndido movimento de câmara, com zoom in e zoom out, com recurso aéreo.
Brando “fala” sobre “Morituri”
Nomeado para “Melhor Fotografia P&B” e “Melhor Guarda-Roupa P&B”, nos Oscars 1966. Perdeu para “Ship of Fools” e “Darling”, respectivamente.
“Morituri” vem do latim e significa “aqueles que vão morrer”. Vem da saudação que os gladiadores davam nas arenas – “Morituri Te Salutamus” (Nós, os que vamos morrer, vos saudamos).
O filme falhou (tremendamente) nas bilheteiras. Acredita-se que foi devido ao título, que ninguém percebia. Quando reposto, recebeu o título “Saboteur: Code Name Morituri”.
Brando fez o filme devido à ”dívida” que tinha com a 20th Century Fox – 10 anos de contrato.
Reencontro entre Brando e Howard – tinham-se encontrado em 1962 em “Mutiny on the Bounty” e reencontrar-se-iam em 1978 com “Superman”.