Título original – Tender Is the Night
Jennifer Jones fez uma pausa na sua carreira depois do (injusto) flop de “A Farewell to Arms” (que originou o abandono de David O. Selznick, marido de Jennie, da indústria cinematográfica).
Este filme marca o seu regresso ao activo.
Adapta uma obra de F. Scott Fitzgerald (grande criador de narrativas românticas).
Dirige o maior dos realizadores românticos – Henry King.
Ao lado da Diva máxima do romantic cinema, outra Diva romântica – Joan Fontaine.
Jennie está, portanto, bem rodeada e num ambiente adequado às suas qualidades.
Bom, tendo em conta a época, a idade, a personagem e a sua presença, já não a devo/devemos tratar por Jennie, mas sim por Mrs. Jones.
Um psiquiatra, muito competente na sua profissão e rigoroso na sua ética, recebe uma nova paciente – uma ricalhaça, com fortes problemas afectivos.
Ela afeiçoa-se a ele, mas apesar da inicial relutância do médico, os dois unem-se numa ternurenta paixão.
Em viagem pela Europa, em diversos cenários de índole romântico e luxuoso, várias são as pessoas que se vão cruzar com o casal.
Muitas serão as noites em busca de ternura.
Mas muitas são também as tentações, os luxos fáceis, as dúvidas e as dependências financeiras e emocionais.
Haverá ternura que resolva tudo?
“Tender is the Night” é puro romantic cinema, puro King, puro Fitzgerald, puro Mrs. Jones film.
E com ele surge um certo “canto do cisne” para tudo isto.
Estamos já longe dos grandes romantic melodramas do passado e da glória de Hollywood. Toda a opulenta decadência que o filme ilustra acaba por ser um manifesto sobre tal.
Henry King despede-se do género (e do Cinema), Mrs. Fontaine iria sair de cena (até meio dos 80s dedicar-se-ia apenas à televisão) e Mrs. Jones já não era Jennie e já não tinha partenaires à altura de antigamente (Jennie faria mais dois filmes, ainda nos 60s, não particularmente significativos, despedindo-se em 1974 com a obra máxima do Cinema-Catástrofe que é “The Towering Inferno”).
Argumento rico, pleno de pessoas, carregado de sentimento e emoções.
Belíssima música do grande Bernard Herrmann.
Como sempre no Cinema de King, há um hábil uso da fotografia e dos locais (naturais e artificiais) para criar a devida atmosfera.
Como sempre nos seus filmes, impecável trabalho dos actores.
Tom Ewell sabe interpretar toda a decadência e vazio de um certo tipo de vida financeira, social a artística.
Jason Robards muito sóbrio como um homem devoto ao seu sentimento e obrigação, preso a um amor que necessita de “tratamento” permanente.
Jill St. John a ilustrar bem a típica menina high society, vazia de sentimento, mas cheia de recursos na manipulação do desejo dos homens que a rodeiam, usando da (falsa) inocência uma arma.
Joan Fontaine a manter toda aquela essência de Lady que sempre a caracterizou.
And then comes the tenderness…
And tender is Jennie. Tender is Mrs. Jones.
Jennie sempre perfeita a fazer o que sempre faz na perfeição – a mulher frágil emocionalmente, ardente no amor, sedenta de carinho e de afecto supremo.
E belíssima.
Sempre.
Com toda a ternura.
Para todas as noites.
(atenção à sua entrada em cena no flashback – yup, Jennie is still here).
Terna é a noite. Muitas são as noites dos protagonistas em busca de ternura.
Terno é o coração do protagonista, um homem que tanto sacrifica em nome do amor (e da cura) da amada (também sua paciente). Ternura procura ele dar e pelo caminho perde-se no luxo do meio que o rodeia.
Ternura procura a protagonista, num mundo de luxo que é, apenas, o lugar onde nasceu. Luxuoso será o seu coração para quem conseguir dar-lhe a ternura que anseia.
Vazios de ternura estão todos os que os rodeiam, embriagados permanentes dos prazeres mais rápidos, devotos da crença que pessoas e sentimentos são apenas luxos à venda.
O mundo de Fitzgerald é povoado por ricos, abastança, glamour, luxo e (muito) sentimento. Mas até nos ricos existe a procura e necessidades dos restantes mortais. A dor máxima de toda aquela riqueza é descobrirem que aquilo que procuram é aquilo que o seu dinheiro não pode comprar – Amor.
Um belíssimo filme.
Obrigatório.
“Tender is the Night” tem edição portuguesa e está a bom preço. Infelizmente não é altamente recomendável, pois alguém se lembrou da “ternura” de reduzir a imagem a um medíocre Pan & Scan, a partir de um glorioso CinemaScope.
Realizador: Henry King
Argumentista: Ivan Moffat, segundo o romance de F. Scott Fitzgerald
Elenco: Jennifer Jones, Jason Robards, Joan Fontaine, Tom Ewell, Jill St. John, Paul Lukas
Trailer
O filme
(o tal momento de Jennie no flashback é aos 37:39)
Nomeado para “Melhor Canção”, nos Oscars 1963. Perdeu para “Days of Wine and Roses”.
A canção
“Melhor Actor” (Jason Robards), pela National Board of Review USA 1962.
Os planos para adaptar ao Cinema a obra de Fitzgerald já datam dos anos 30. Fitzgerald queria Norma Shearer como protagonista. Irving Thalberg, poderoso produtor e marido de Norma, sempre se manifestou contra. E assim sendo, o projecto andou sempre adiado.
Apesar de já estar retirado do Cinema, sabe-se que Selznick meteu a sua mão no processo de pré-produção, nomeadamente na escolha de Mrs. Jones para protagonista.
(e qual o mal? Mrs. Jones está esplêndida e o filme tinha mesmo de ser protagonizado por ela, pois a personagem é perfeita para ela)
É o último filme de Henry King.
Jane Fonda queria a personagem que seria entregue a Jill St. John.
William Holden, Henry Fonda e Christopher Plummer foram considerados para o personagem que caiu sobre Jason Robards.
Os Diver são inspirados no casal Gerald e Sara Murphy, amigos de Fitzgerald. O poeta Archibald Macleish escreveu que “… os Murphy são uma centelha de vida, onde quer que estivessem”.
O título “Tender Is the Night” vem de um poema de John Keats, de 1819, chamado “Ode to a Nightingale”.
Ei-lo – http://www.poetryfoundation.org/poem/173744
Sobre F. Scott Fitzgerald
http://www.fscottfitzgeraldsociety.org/biography/
http://www.gradesaver.com/author/f-scott-fitzgerald/
http://library.sc.edu/spcoll/fitzgerald/biography.html
http://www.online-literature.com/fitzgerald/
Olá, o nome deste filme aqui no Brasil não foi Terna é a noite, e sim Suave é a noite.
Sou Alberto Valença do blog Verdades de um Ser.
Verdades de um Ser