Título Original – Experiment in Terror
Blake Edwards é associado às suas loucas comédias slapstick (muito relevante no género é a famosa série “The Pink Panther”).
Mas Edwards andou por outros géneros, e sempre com grande qualidade.
Eis um caso inesperado – o thriller de suspense.
A ajudar está um par de excelência.
Kelly Sherwood é uma simples funcionária de um banco. De vida modesta, vive com a irmã Toby.
Uma noite, ao regressar do trabalho, é abordada um misterioso homem que lhe pede uma insólita ajuda – assaltar o banco onde Kelly trabalha. Se ela recusar, Kelly e Toby são mortas.
Kelly pede ajuda ao FBI e consegue o interesse do agente John Ripley.
Mas como conseguir apanhar um homem que ninguém viu, não se sabe o nome e, ainda por cima, parece estar a par de tudo e ter todos sob observação?
O título original não é um jogo de palavras.
Estamos mesmo perante uma verdadeira experiment in terror.
Um nailbiter do melhor que há e que se pode fazer.
O filme entra em acção rapidamente (menos de cinco minutos), provoca calafrios e deixa-nos sempre em sobressalto.
Edwards, com a ajuda do engenhoso argumento, consegue ilustrar todo o dia-a-dia aterrorizante de Kelly e da situação em que foi metida, criando mesmo a sensação que é um cerco sem saída, onde nem mesmo as autoridades conseguem encontrar soluções.
Glenn Ford está impecável (como sempre, não?), tanto na sua sensibilidade emocional (a atenção que ele dá à vítima, a forma como ele conversa com a criança) como no seu resolutivo heroísmo (a confrontação final).
Lee Remick domina, cativa, comove e preocupa, a conseguir ilustrar perfeitamente o terror permanente da sua personagem.
Fabulosa fotografia de Philip Lathrop.
Inquietante música de Henry Mancini.
Edwards dirige com mão de mestre, parecendo um veterano destas coisas. Fazendo um brilhante uso das luzes, sombras e silêncio (o primeiro ataque – atenção à forma como é visto um rosto e o outro não), carrega também no susto (o encontro nos lavabos), no inesperado (a confusão na feira popular), na tensão (o momento no apartamento dos manequins) e no suspense (o final).
Alfred Hitchcock e John Carpenter não fariam melhor.
Uma pequena pérola do género.
Vejam-no com o máximo de escuridão na sala.
(e depois digam-se quanto tempo aguentaram até ligar uma luzita)
E ponham protectores para as unhas.
Obrigatório.
“Experiment in Terror” não tem edição portuguesa, mas a edição inglesa tem legendas em Português e está a preço nada “aterrorizante”.
Realização: Blake Edwards
Argumentistas: Gordon Gordon e Mildred Gordon, segundo o seu livro (“Operation Terror”)
Elenco: Glenn Ford, Lee Remick, Stefanie Powers, Clifton James, Ross Martin
Trailer
O genérico inicial
O tema de Henry Mancini
Ross Martin foi nomeado para “Melhor Actor Secundário” nos Globos de Ouro 1963. Omar Sharif, por “Lawrence of Arabia”, levou a melhor.
É o primeiro de dois filmes filmes que Blake Edwards faria com Lee Remick, ambos a Preto & Branco. O outro seria “Days of Wine and Roses”, com Jack Lemmon.
O filme teve influências sobre David Lynch:
- Um local da acção chama-se Twin Peaks. Lynch criaria uma revolucionária série televisiva com esse título.
- Numa cena, o assassino fala muito próximo à vítima e ouve-se o seu respirar. Lynch faria algo parecido num momento de “Wild at Heart”.
- Um personagem chama-se Garland “Red” Lynch. Em “Twin Peaks”, Lynch cria um personagem chamado Major Garland Briggs.
Numa cena, ouve-se o tema da serie “Mr. Lucky”, de 1959. O tema é composto por Henry Mancini e a série era protagonizada por… Ross Martin. O produtor e criador da série é… Blake Edwards.
Eis o tema:
No Reino Unido, o filme recebeu o título de “The Grip of Fear”.