The Fugitive Kind – O Homem na Pele da Serpente (1960)

O Homem na Pele da Serpente

Regresso de Marlon Brando ao universo de Tennessee Williams (“A Streetcar Named Desire”).

Anna Magnani também regressa a tal universo (“The Rose Tattoo”).

Sidney Lumet “acalma” este embate (nada brando) destas duas vigorosas estrelas.

Val Xavier, um drifter, chega a uma pacata povoação. Arranja um emprego na loja de Lady Torrence, uma mulher presa a uma vida sentimental e sexual sem chama. Val vê-se perseguido pelo desejo de Lady e por Carol Cutere, uma rapariga errante em busca de amor. Val vai ter de se decidir entre as duas mulheres, mas também enfrentar a hostilidade do xerife local e do marido de Lady.

Vindo da cabeça de Williams, é de esperar retratos humanos, duros, dramáticos, trágicos e intensos de pessoas, relações e pequenas comunidades.

Aqui voltamos a ter tudo isso, numa narrativa sobre gente errante, em permanente fuga do que quer, do que não tem, do que procura e do que origina.

Apesar do ritmo lento (quase arrastado), o filme é compensado pela profundidade humana e sentimental dos diálogos, devidamente acompanhados pelas excelentes interpretações de todo o elenco (os textos de Williams permitiam tal e a direcção de Lumet idem).

Marlon Brando (very cool no seu snake skin jacket) tem uma das suas mais comoventes performances, criando um dos seus mais bem conseguidos personagens, sentimental e complexo. E ele até canta (não tem jeito para ser estrela digna de “disco de platina” ou de Festivais de Verão, mas sai-se bem dentro do contexto).

Anna Magnani volta a ser um prodígio de dramatismo e força humana.

Joanne Woodward é uma excelente personificação da carência sentimental humana.

Marlon Brando & Anna Magnani - O Homem na Pele da Serpente

Sabe-se da existência de problemas entre Brando e Magnani. Isso nota-se na tensão criada entre os dois personagens (apesar de ter dois momentos de um forte e tenso erotismo). O resultado acaba por ser um mixed bag. Por um lado resulta dramaticamente (assistimos à iniciativa sentimental de uma mulher, vazia no amor que lhe é dado e com muito para dar, face ao homem que a “acende” mas que lhe resiste), por outro lado pode falhar na sua “frieza” (os conflitos entre os dois actores são visíveis, cria uma certa apatia entre ambos e isso apaga a “chama” que a relação poderia ter – na narrativa e na química entre os dois actores). Houvesse mais “magia” entre ambos (como aconteceu com Magnani e Burt Lancaster em “The Rose Tattoo”), teríamos um filme mais escaldante. Como ficou (e perante a forma como os actores se comportaram um com o outro), temos também um resultado satisfatório, mas mais trágico e dramático (dois fugitivos que se encontram, mas que nunca poderão seguir um rumo comum). A cada espectador escolher que versão prefere (embora só uma esteja disponível).

Final de grande impacto dramático e trágico.

Excelente fotografia.

A cenografia é do prestigiado Richard Sylbert.

Um grande melodrama.

O filme não tem edição portuguesa, faz parte do pack “Essentials Marlon Brando” (onde constam “Reflections in a Golden Eye” e “Julius Caesar”), uma edição espanhola, mas com legendas em português, à venda em Portugal.

Clips:

Sidney Lumet e Joanne Woodward foram premiados no Festival de San Sebastián 1960.

Situado numa cidade sem nome, os exteriores foram filmados em Milton, uma pequena povoação a pouco mais de 60 Km de Nova Iorque. Lumet não queria filmar muito longe de casa.

Magnani estava very hot por contracenar (e sabe-se lá que mais) com Brando. Mas ele não a achava atraente. Sabe-se que Williams não ficou contente com a atitude de Brando, achou que a tensão entre os dois se reflectiu no filme e prejudicou-o.

A peça de Williams tinha falhado em Boston, em 1940, e não chegou à Broadway. Chegaria a tal palco em 1957, com Cliff Robertson e Maureen Stapleton (que já tinha interpretado, em palco, a personagem que seria de Magnani no filme “The Rose Tattoo”) e R.G. Armstrong, mas seria um novo flop. Só em 1989, com Vanessa Redgrave, a peça seria um sucesso.

Brando recebeu um salário de 1 milhão de Dólares, sendo o primeiro actor a atingir tal salário.

Magnani queria que o seu namorado, Anthony Franciosa, fosse o seu co-star, mas Franciosa foi recusado por não ser apelativo em termos de box-office.

Magani ficou chateada com Brando, devido ao facto dele ter exigido a Lumet diversos ensaios antes de se filmar, exigindo também sucessivos re-shoots até as cenas estarem como Brando desejava.

Williams escreveu a peça a pensar em Brando e Magnani como protagonistas.

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