Título original – L`Homme de Rio
Eis um glorioso momento de um certo tipo de cinema popular dos 60`s, que os franceses tão bem sabiam fazer (e que hoje se perdeu, infelizmente – embora haja razão devido à ausência de um certo tipo de estrelas, existentes na época, mas ausentes actualmente).
Jean-Paul Belmondo era um dos “culpados” de tal e ei-lo em grande forma num dos seus entretenimentos máximos.
Adrien Dufourquet é um soldado da Força Aérea Francesa, em licença por alguns dias. O seu reencontro com a namorada Agnès pretende ser de descanso.
Mas tudo fica alterado quando ela é raptada devido ao interesse numa colecção de misteriosas estátuas, encontradas na América do Sul, que podem levar a um vasto tesouro.
Para Adrien é o início de uma rocambolesca aventura que o levará ao Brasil, desde a cidade do Rio até à Amazónia.
Inspirado pelo modelo criado por Hergé na saga Tintin (para além do tom e do ritmo, são visíveis ideias narrativas vindas de “O Ídolo Roubado”, “As Sete Bolas de Cristal”, “O Caranguejo das Tenazes de Ouro”, “O Segredo do Licorne”), Philippe de Broca (um dos grandes realizadores do dito cinema popular francês, nos 60`s, 70`s e 80`s – “Cartouche”, “Le Magnifique”, “L’Incorrigible”, “Les Tribulations d’un Chinois en Chine” – todos com Belmondo –, “L`Africain”, “Le Bossu”) realiza um filme imparável a nível de ritmo e peripécias, cheio de humor, apoiado no carisma, destreza física (sempre sem recurso a duplos) e sentido de ironia de Jean-Paul Belmondo (que seria o rei do box-office francês, sempre perseguido por Alain Delon, ao longo dos 60`s, 70`s e 80`s) e na beleza de Françoise Dorléac (uma das meninas bonitas da época).
Bom aproveitamento da paisagem brasileira.
Philippe de Broca procura o máximo de ritmo, acção e diversão, conseguindo-o plenamente.
Um grande momento de diversão e aventura, que ainda hoje é um modelo referencial (para todo o Cinema) de action comedy.
Obrigatório.
“L`Homme de Rio” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, a bom preço. A edição francesa está bem recheada de extras.
Realizador: Philippe de Broca
Argumentistas: Jean-Paul Rappeneau, Ariane Mnouchkine, Daniel Boulanger, Philippe de Broca
Elenco: Jean-Paul Belmondo, Françoise Dorléac, Jean Servais, Roger Dumas, Daniel Ceccaldi, Milton Ribeiro, Ubiracy De Oliveira, Sabu Do Brasil, Adolfo Celi
Trailer
Bilheteira – 4.8 milhões de espectadores em França
Foi o 4º maior sucesso do ano, em França.
Nomeado para “Melhor Argumento Original”, nos Oscars 1965. Perdeu para “Father Goose” (com Cary Grant).
“Melhor Filme Estrangeiro”, pelos críticos de Nova Iorque 1964.
Os autores admitiram terem-se inspirado em Tintin e nalguns dos albuns criados por Hergé.
Philippe de Broca é grande fã de Tintin e chegou a ser ponderado como o realizador da adaptação cinematográfica em imagem real. Mas o projecto ficou cancelado.
Várias foram as aventuras de Tintin que inspiraram “L`Homme de Rio”:
- “Tintin au Congo” – quando o protagonist está suspenso sobre uns crocodilos e é salvo.
- “L’Oreille Cassée” – o museu assemelha-se ao da bd (chega a ter uma estátua parecida com a visada no album)
- “Tintin en Amérique” – a fuga do prédio, a ameaça sobre os indígenas pela civilização.
- “Le Lotus Bleu” e “Le Temple du Soleil” – a parceria com os locais.
- “Le Crabe aux Pinces d’Or” – a perseguição.
- “Le Secret de la Licorne” – a solução para um mistério.
- “Les Sept Boules de Cristal” – a cena com a cobertura do carro, o rapto da rapariga.
- “Les Cigares du Pharaon” – a perseguição entre aviões.
- “Vol 714 pour Sydney” – a fuga durante um afundamento.
També são visíveis outras influências – de bd, literatura e cinema:
- “Astérix” – quando Adrien bebe no bar, fica algo possesso (como o herói gaulês quando bebe a poção mágica) e consegue derrotar os inimigos.
- A transformação do Professeur Catalan recorda algo que acontece a um personagem de “Heart of Darkness”, de Joseph Conrad.
- Alfred Hitchcock, com os filmes “The 39 Steps” e “North by Northwest” – o ritmo e a presença do efeito MacGuffin.
Reencontro entre Philippe de Broca e Jean-Paul Belmondo, depois de “Cartouche” (1961). Reencontrar-se-iam novamente em “Les Tribulations d’un Chinois en Chine” (1965), “Le Magnifique” (1973) e “L’ Incorrigible” (1975). Todos os filmes em parceria foram grandes sucessos de bilheteira.
Françoise Dorléac foi uma imposição do realizador face aos produtores.
Filmado em Paris, no Rio de Janeiro e mem Brasília.
Belmondo fez todas as stunts.
O personagem de Mario de Castro inspira-se no arquitetcto Oscar Niemeyer (1907-2012).
Belmondo e Dorléac iam reencontrar-se em “La Chasse à l’Homme“ de Edouard Molinaro, que seria estreado dois meses depois de “L`Homme de Rio“.
Luc Besson foi buscar ideias a “L`Homme de Rio” para “The Fifth Element”.
“Porco Rosso” (1992) de Hayao Miyazaki também revela influência de “L`Homme de Rio” – a presença dos aviões, o bar.
“OSS 117: Rio ne Répond Plus” (2009) também mostra influência de “L`Homme de Rio” – a trama, o ritmo.
Entre os fãs de “L`Homme de Rio“ está Steven Spielberg, que o usou o filme de Philippe d Broca como inspiração para “Raiders of the Lost Ark”.
Spielberg viu “L`Homme de Rio“ por 9 vezes.