Guerra Civil (2024)

 

 

 Título original – Civil War

 

Algo de errado anda mesmo a passar-se nos USA.

E não me refiro ao estado do Cinema.

Algo vai mesmo (muito) mal, quando numa nação de mais de 300 milhões de pessoas só se conseguem arranjar aqueles dois artolas com cheiro a naftalina como candidatos a líder do país.

Por isso, não surpreende que Alex Garland faça do seu novo filme um (muito credível e provável) “E Se…”  sobre o “estado da nação” – a chegada de uma nova guerra civil na terra do Uncle Sam.

 

USA, um futuro (próximo).

Um grupo de jornalistas acompanha uma acção militar rebelde que visa tomar o poder.

Pelo título, podia-se esperar um actioner em terras americanas, mostrando causas, ideais e iniciativas dos dois lados em contenda.

Mas não.

Na verdade, o filme acaba por ser uma “reportagem” sobre o quotidiano dos fotojornalistas em cenários de guerra, mostrando algo do seu modus operandi, os seus valores e éticas.

É a narração de uma viagem, e como tal há uma viagem em forma de arco para as protagonistas – uma veterana a descobrir o vazio de tudo aquilo (a brutalidade da guerra? a frieza e distanciamento com que se fotografa? ambos?) e uma novata a descobrir o quanto tal pode ser viciante.

Esse “duelo” de valores não é totalmente “debate” no filme, mas suscita reflexão por parte do espectador.

Como estamos na cobertura de uma guerra, muito dela (e dos seus efeitos) é mostrada, sem qualquer tipo de complacências (os aterros, os prisioneiros torturados) e com grande sentido de impacto (o encontro com a milícia “nacionalista” e o que se segue).

Para “agradar” a quem queria um actioner, o final reserva-nos uma batalha campal, de uma dimensão como já não se via desde o delirante “Invasion USA” (1985, com Chuck Norris), conseguindo-se um bravo momento de espectáculo.

De forma inteligente, o filme nunca dá explicações sobre qual a “cor política” dos lados em confronto e qual o tipo de regime no poder e qual ideologia está na rebeldia.

(mas deixa espaço para o espectador tirar conclusões)

Para quem aprecia fotografia, o filme é todo um must – fala-se de equipamentos analógicos e digitais, mostrando também as diferentes técnicas para ambos.

Muito boa banda sonora, com algumas canções a terem o seu lado irónico ou sarcástico na relação entre a letra e o momento em que é ouvida.

Alex Garland já mostrou ser alguém que gosta de analisar o ser humano, seja na sua existência (“Never Let Me Go”), na relação com a Natureza (“Annihilation”), com a Ciência (“Ex-Machina”) ou com a sua bestialidade (“28 Days Later”, “Dredd”, “Men”).

Com este novo filme, Garland volta a ilustrar muito do ser humano, conseguindo também mostrar a sua opinião sobre alguns idealismos.

E sempre com belas imagens, sentido contemplativo e estético, aliado agora a algum poder de espectáculo.

Muito bom trabalho do elenco, com destaques para umas esplêndidas Kirsten Dunst e Cailee Spaeny, a convencerem como fotojornalistas e nas emoções mostradas e reprimidas.

“Civil War” é um bravo, inteligente e pertinente exercício de ficção política, com a sua dose de reflexão e alerta sobre muitos “estados das nações” (sim, não é exclusivamente “dedicado” à actualidade dos USA).

E traz de volta o gosto de voltarmos a ver bom cinema sobre jornalismo em guerra, depois da fase gloriosa do género nos 80s (“The Year of the Living Dangerously”, “Under Fire”, “Salvador”, “The Killing Fields”).

Merece estar entre os grandes filmes de 2024.

 

“Civil War” já está nas nossas salas.

Realizador: Alex Garland

Argumentista: Alex Garland

Elenco: Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Nick Offerman, Stephen McKinley Henderson

 

Orçamento – 50 milhões de Dólares

Bilheteira (até agora) – 45 milhões de Dólares (USA); 50 (mundial)

 

Site – https://a24films.com/films/civil-war

 

Trailers

 

Nomeado para “Prémio do Público”, no SXSW 2024. Perdeu para “Monkey Man”.

Alex Garland queria fazer um filme que fosse um tributo ao trabalho dos fotojornalistas em cenários de guerra.

Alex Garland também queria fazer um filme pacifista, anti-guerra e que não glorificasse a violência.

 

Kirsten Dunst é fã de Alex Garland e queria muito trabalhar com ele.

Kirsten Dunst preparou-se ao acompanhar vários fotojornalistas de guerra.

 

Kirsten Dunst e Jesse Plemons (que faz um cameo bem assustador – incluindo para a personagem de Dunst) são marido e esposa, na vida real.

 

 

 

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