Título original – Sullivan’s Travels
Numa época de tanta depressão e tanta necessidade de rir, eis um título adequado, profético, universal e intemporal.
John L. Sullivan é um realizador de sucesso, autor de muitos filmes escapistas.
O seu novo projecto é fazer um filme que ilustre a realidade americana, em matéria de pobreza, dificuldades, espírito de sobrevivência e entreajuda.
Mas Sullivan nada conhece desse mundo. Como tal, faz-se à estrada como vagabundo.
O resultado é uma brava lição de vida.
Clássico indiscutível do Cinema, “Sullivan`s Travels” consegue ainda mais duas notáveis proezas.
Temos um glorioso tributo ao Cinema enquanto arte de escapismo e/ou retrato da realidade (triste ou alegre).
Mas também um tremendo tributo à arte do riso, fonte máxima da alegria humana e “muleta” para travessia em momentos árduos (não é por acaso que Sullivan descobre tal poder numa sessão de cinema para presidiários em trabalhos forçados).
Um magnificamente humano Joel McCrea, devidamente encaminhado por uma encantadora e ternurenta Veronica Lake (com as suas belíssimas pernas, subtilmente mostradas através dum belo robe branco), que surge como um verdadeiro anjinho.
Uma obra-prima do grande Preston Sturges, um dos mestres do humor com consciência social (ao lado de Ernst Lubitsch e Frank Capra – não é por acaso que ambos são mencionados no filme).
Sturges é um realizador a (re)descobrir. Infelizmente, o mercado nacional é paupérrimo em oferta da sua obra.
Um maravilhoso tributo ao Cinema e ao Riso.
Cinema grande, vindo de um Mestre.
Obrigatório.
“Sullivan`s Travels” tem edição portuguesa e anda a preço “viajante” para a prateleira do cinéfilo.
A Amazon tem um pack dedicado a Preston Sturges, com 7 dos seus mais emblemáticos filmes (sim, “Sullivan`s Travels” está lá, pois). O preço anda jeitoso.
Realizador: Preston Sturges
Argumentista: Preston Sturges
Elenco: Joel McCrea, Veronica Lake, Robert Warwick, William Demarest, Porter Hall
Trailer
“Top 10 do Ano”, pela National Board of Review 1942.
“Filme a Preservar”, pela National Film Preservation Board 1990.
Preston Sturges inspirou-se em momentos de vida de John Garfield, actor célebre nos 40`s, que chegou a ser vagabundo, a andar à boleia e como clandestino em comboios, durante os 30`s.
Joel MCrea foi sempre a primeira e única escolha como protagonista. Sturges escreveu o argumento sempre com ele em mente.
Sturges queria, inicialmente, Barbara Stanwyck para co-protagonista. Mudaria de ideia ao ver Veronica Lake em “I Wanted Wings” (1941).
Frances Farmer chegou a fazer uma audition.
Joel e Veronica não se deram bem durante as filmagens. Isso levou McCrea a recusar ser co-protagonista em “I Married a Witch” (1942, onde Veronica é a feiticeira; Fredric March é o enfeitiçado). Mas McCrea e Veronica reeconcontrar-se-iam – “Ramrod”, em 1947.
Veronica estava grávida de mais de 6 meses. Só Edith Head (responsável pelo guarda-roupa, desenhado a rigor, para esconder tamanha “bagagem”) e Louise Sturges (esposa de Preston) é que sabiam. Veronica tinha receio de ser recusada se soubessem do seu estado de gravidez.
Cameo de Preston Sturges – o realizador, no set das filmagens do filme da personagem de Lake, a ler o jornal e a atirá-lo à menina.
Para uma determinada cena (onde se foca a importância do riso), Sturges queria uma cena de um filme de Charles Chaplin. Este não autorizou e Sturges recorreu a um cartoon da Disney com Pluto. O resultado é igualmente hilariante.
O Poster do filme ficou na posição #19 dos “25 Melhores Posters de Sempre”, pela Premiere.
Está nos “1001 Movies You Must See Before You Die”, de Steven Schneider.
Em Novembro de 1942 emitiu-se uma adaptação radiofónica de “Sullivan´s Travels”. Veronica Lake repetiu a personagem.
Republicou isto em Blog do Rogerinho.