Título original – Reflections in a Golden Eye
Um dos mais estranhos filmes de sempre.
Mas nada a temer.
John Huston realiza.
Elizabeth Taylor e Marlon Brando protagonizam.
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Numa base militar Americana, vários personagens cruzam-se à volta das suas crises matrimoniais, existenciais e de identidade sexual.
Tudo vai explodir.
Ninguém sairá ileso.
Um título deveras sinistro e fascinante, bizarro e corajoso, perverso e intimista.
Huston filma num espaço restrito (a base militar, o bosque, a casa) e com um número reduzido de personagens (cinco), com uma tensão digna de um filme de terror/suspense (atenção às cenas nocturnas). Mas ao contrário destes géneros, não é o Mal ou um assassino que anda à solta.
É o Sexo.
No desejo, na repressão, na sexualidade aberta ou negada.
Uma verdadeira fantasia sexual obscura e invertida.
Para quem é céptico sobre o Amor (e a vida a dois), eis a “anedota” máxima.
Elizabeth Taylor é uma flor de sensualidade, em permanente Primavera.
Marlon Brando absolutamente brilhante, num personagem em permanente raiva e contenção.
Ambos estão (muito) bem acompanhados pelos excelentes secundários (Brian Keith, Julie Harris e Robert Forster – que nunca fala, mas perturba).
Atenção ao desfecho (digno de um grande filme de terror) – os eventos, o som, a montagem e o (virtuoso) trabalho de câmara no plano final.
(caray, Huston parece um rival de John Carpenter)
Não é para todos os gostos.
É (bem) aberto à controvérsia (mesmo passados todos estes anos),
Mas é obra-prima.
Convida (e necessita) várias (re)visões para ser verdadeiramente compreendido.
Obrigatório
O filme não tem edição portuguesa. Mas consta do pack “Essential Marlon Brando” (por onde também andam “The Fugitive Kind” e “Julius Caesar”), uma edição espanhola, mas com legendas em português.
Realizador: John Huston
Argumentistas: Chapman Mortimer, Gladys Hill, a partir do romance de Carson McCullers
Elenco: Elizabeth Taylor, Marlon Brando, Brian Keith, Julie Harris, Robert Forster, Harvey Keitel
Orçamento – 4.5 milhões de Dólares
Mercado doméstico – 2.1 milhões de Dólares (USA)
Trailer
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Sobre Carson McCullers.
http://www.biography.com/people/carson-mccullers-9391402
Montgomery Clift era o eleito para protagonista. Mas como o personagem tinha (bastantes) exigências físicas, a companhia de seguros exigia garantias que Clift estava à altura (ele estava debilitado devido a uma doença). Elizabeth Taylor, grande amiga de Clift, assegurou a apólice com o seu (generoso) salário. Mas com a morte de Clift, tudo isto ficou cancelado e Marlon Brando foi contratado.
Inicialmente, Brando não queria aceitar a sua participação no filme. Huston bem insistiu. Depois de uma caminhada à chuva, Brando ligou a Huston a comunicar que aceitava.
Brando beneficiou das recusas de Richard Burton (marido de Liz, na época) e Lee Marvin. Brando recebeu um salário de 750.000 Dólares acrescido de 10% das receitas.
Huston queria Patrick O’Neal (actor visto na Broadway, na peça “The Night of the Iguana”, de Tennessee Williams – que já tinha sido adaptada ao Cinema, em 1964, por Huston, com Richard Burton, Ava Gardner e Deborah Kerr) para o personagem que iria para Brando. Mas Liz recusou tal ideia (bem como Burton e Marvin). Ela queria Brando.
Huston queria McCullers para a escrita do guião, mas ela recusou pois encontrava-se muito doente.
Primeiro filme de Robert Forster.
Primeiro filme de Harvey Keitel.
A cena em que o personagem de Brando dá uma aula sofreu um retake, por exigência de Brando. Apesar de Huston ter considerado brilhante o primeiro take, Brando achava que conseguia algo diferente e melhor. Para Huston, foi uma enorme dificuldade em escolher qual dos takes deixar na montagem final, pois ambos eram excelentes.
Uma primeira montagem seguia o desejo de Huston em dar ao filme um visual de um tom muito dourado, com um maior ênfase em cores naturais num ou noutro objecto. Num test screening verificou-se que os espectadores não estavam muito receptivos à estética. Como tal, o filme foi exibido na sua fotografia “normal”.
Martin Scorsese confessou que o momento em que Brando está em frente ao espelho, a “inspeccionar-se” e a falar consigo, foi a inspiração para o famoso momento “Are you talkin’ to me?” de Robert De Niro em “Taxi Driver”.
Imagens de Brando, neste filme, foram usadas no dossier do Coronel Kurtz (mostrando-o mais novo), numa cena de “Apocalypse Now”.