Título original – La Belle et La Bête
É um dos contos de fantasia (e morais) mais célebres de sempre.
Eis a adaptação cinematográfica definitiva.
(bom, ex aequo com a versão Disney, obviamente)
Bela vive com o seu dedicado pai, as suas interesseiras e vaidosas irmãs, mais dois pretendentes desprovidos de sentimentos.
Devido a um pedido de Bela, o pai mete-se num jardim misterioso e rouba uma rosa. O temível Monstro surge-lhe e ameaça matá-lo como castigo. A não ser que ele ceda uma das filhas como prisioneira.
Bela oferece-se e descobre que a fealdade do Monstro está apenas no exterior.
Eis o modelo definitivo para o fantastique romantique.
Música, diálogos (aqui o Francês ajuda, e muito), cenografia (absolutamente fascinante), fotografia (belíssima), guarda-roupa (sumptuoso), interpretações (bela e apaixonada Josette Day), tom e ritmo, tudo está em estado de perfeição e excelência para se conseguir criar (ao longo de uns curtos 90 minutos) um ambiente de fantasia, paixão, sentimento, evasão e outros mundos.
Não é/será esse o poder (máximo) do Cinema?
Obra-prima total, que nos esgota os adjectivos e sentimentos.
Absolutamente obrigatório.
O nosso mercado doméstico não tem edição própria, mas existe entre nós uma edição espanhola (em Blu-Ray), com legendas em Português, que já anda a beau prix. Infelizmente, é “monstruosa” em extras.
Para uma edição mais “bela”, recomendo a inglesa (tem um comentário de um historiador e um documentário) e a americana (a da Criterion, que é um jardim de material extra). Contudo, a inglesa ainda não está a bom preço, a da Criterion é (como sempre) muito cara.
A edição francesa também vem bem guarnecida de extras (e a edição Blu-Ray até vem masterizada para 4K), com um preço mais ajustado.
Realizadores: Jean Cocteau, René Clément (sem crédito)
Argumentistas: Jean Cocteau, a partir do conto de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont
Elenco: Jean Marais, Josette Day, Mila Parély, Nane Germon, Michel Auclair
Trailer
Esteve a concurso em Cannes 1946.
“Prémio Louis Delluc” 1946 para Jean Cocteau.
O filme de Cocteau é a primeira verdadeira adaptação cinematográfica do conto de Mme. Leprince de Beaumont, escrito em 1757.
Sobre a escritora e os seus contos:
http://feeclochette.chez.com/beaumont.html
Jean Marais pediu um ordenado de 500.000 Francos. Para Marais era uma forma de ser compensado pela falta de pagamento em “Juliette ou la Clé des Songes” (o produtor dos dois filmes é o mesmo – André Paulvé). O produtor recusou e Marais exigiu uma percentagem pelas receitas. Tal revelou-se um excelente negócio para o actor.
Marais estava mobilizado para a Guerra, mas Cocteau conseguiu uma licença especial para que Marais permanecesse em França para filmar.
A Segunda Guerra Mundial tinha acabado há pouco e em França havia falta de película cinematográfica. Como tal, Cocteau conseguiu arranjar um vasto stock de película. Mas o uso de diferentes tipos levou a que o filme tivesse, frequentemente, uma textura visual diferente. Cocteau acha que isso favoreceu o tom poético e fantasista do filme.
Segundo Jean Marais, o primeiro visual do Monstro era semelhante a um veado.
A caracterização do Monstro demorava cinco horas.
Durante as filmagens, Cocteau adoeceu e teve de ser hospitalizado. Durante a sua ausência, René Clément (o seu Assistente de Realização, que preparava o seu primeiro filme, La Bataille du Rail”) assumiu o controlo das filmagens. Clément filmou muitas das cenas na casa de Bela.
O visual do filme é inspirado pela obra Gustave Doré, artista do Século XIX, que ficou famoso por ter ilustrado uma edição francesa de “Don Quixote” (uma edição de tal modo popular e marcante, que ainda hoje é editada).
Sobre Doré – http://dore.artpassions.net/
O guarda-roupa é da responsabilidade de Jeanne Lanvin, onde foi relevante a contribuição de um “tal” Pierre Cardin.
A mansão do filme (da Bela) é a Manoir de Rochecorbon, em Indre-et-Loire. Os exteriores do castelo do Monstro são filmados no Château de Raray, em Senlis.
A Mansão
http://rochecorbon.blogspot.pt/2013/11/la-belle-et-la-bete-rochecorbon-au.html
O Chateau
Foi um enorme sucesso de bilheteira e o maior de todos os filmes de Cocteau.
Cocteau e Marais encontrar-se-iam em vários filmes – “L’Aigle à Deux Têtes “ (1947), “Les Parents Terribles“ (1948), “Orphée“ (1949) e “Le Testament d’Orphée“ (1960).
Cocteau era romancista, poeta, dramaturgo e artista plástico. Esta era a sua segunda realização, a primeira longa-metragem. O título anterior era “Le Sang d’un Poète“ (1930).
Sobre Cocteau – http://jeancocteau.net/
Philip Glass chegou a compor uma ópera sincronizada com o filme. O trabalho chama-se “La Belle et la Bête”, é composto por dois CD`s. A (luxuosa, ainda que cara) edição da Criterion inclui nos seus extras a possibilidade de se ver o filme ao som da obra de Glass. Curiosamente, Glass fez o mesmo para dois filmes de Cocteau – “Orphée” e “Les Enfants Terribles”.
Ei-la:
Stevie Nicks inspirou-se no filme de Cocteau para a sua canção “Beauty and the Beast”. Nicks chegou a pagar direitos sobre o filme, para que partes dele fossem exibidas no videoclip.
Eis a canção:
Greta Garbo ficou tão fascinada pelo visual do Monstro, que quando ele ganha forma humana, a Diva gritou “Give Me Back My Beast!”.
É um dos filmes preferidos de Robert Osborne, um importante e popular Historiador de Cinema.