Título original – Letter from an Unknown Woman
Eis um dos mais belos e sentimentais filmes de sempre.
Com uma protagonista de eleição – Joan Fontaine.
O pianista Stefan Brand recebe uma carta.
Nela está o testemunho de uma vida de paixão, sentida por Lisa Berndle.
Quantas vezes o Cinema é um estado de alma e/ou de coração?
Quantas vezes o Cinema consegue, através das imagens, dos sons (e silêncios), dos rostos, das vozes, das palavras, ser um verdadeiro sentimento, autêntica poesia visual?
“Letter from an Unknown Woman” é um desses raros casos.
Admiravelmente filmado (aqueles refinados movimentos de câmara…), belissimamente fotografado, um guarda-roupa a preceito, uma elegante cenografia, atmosférica música e uns líricos diálogos, o filme de Ophüls (que assina como Max Opuls; este é o seu segundo filme em Hollywood) retrata, de forma extraordinária e fascinante, um amor jovem, inocente, adulto, profundo, poderoso, eterno, desconhecido, ingrato, doloroso e não-correspondido.
Joan Fontaine é sempre uma actriz em estado de graça e perfeição.
Mas aqui tudo atinge o Olimpo do que se pode exigir a uma interpretação de uma mulher que sente, vive, demonstra e contém o seu amor. Atente-se ao seu olhar, o seu sorriso, o seu rosto e a sua voz, sempre que encontra Louis Jourdan (que também aqui um dos momentos altos da sua carreira) – há prodígios de técnica (o enquadramento, a luminosidade, a fotografia, a música), mas tudo seria em vão sem uma actriz de excelência.
“Letter from an Unknown Woman” não é “apenas” um filme. É um sentimento. Uma carta de amor a todos os que sentem – Vida, Amor e, claro, Cinema.
Seguramente, um dos mais belos filmes alguma vez feito.
Obra-prima total.
Absolutamente obrigatório.
“Letter from an Unknown Woman” tem edição portuguesa.
Realizador: Max Ophüls
Argumentista: Howard Koch, a partir do romance de Stefan Zweig
Elenco: Joan Fontaine, Louis Jourdan, Mady Christians
Trailer
Filme
Uma apreciação
“Filme a Preservar”, pela National Film Preservation Board USA 1992.
Max Ophüls era amigo de Howard Koch (argumentista de “Sergeant York” e “Casablanca”, que assinaria o argumento de “Letter from an Unknown Woman”). Foi este que apresentou Ophüls a William Dozier, Vice-Presidente da Universal e marido de Joan Fontaine. Falaram sobre este projecto e tudo se desenvolveu pelo melhor. Mas até lá, Ophüls teve de convencer o Presidente da Universal, Bill Goetz. Sabendo o quanto era difícil ter uma reunião com ele, Ophüls meteu-se nos banhos turcos do estúdio, sabendo que Goetz estava lá e convenceu-o que seria o melhor realizador para o filme. Goetz limitou-se a responder “Why not?”.
Baseado no livro de Stefan Zweig. Ophüls fez uma alteração em relação ao livro. O personagem que no filme é pianista, no livro é escritor. O final também é diferente.
Vários romances de Zweig já foram levados ao ecran. Uma das melhores adaptações é “Non Credo Più All’Amore (La Paura)”, de Roberto Rossellini, com Ingrid Bergman.
O livro já tinha sido adaptado como filme, em 1929, por Alfred Abel. Seria novamente adaptado, mas para televisão, em 2001, por Jacques Deray, com Irène Jacob e Christopher Thompson.
Joan Fontaine e Louis Jourdan reencontrar-se-iam em 1953, com “Decameron Nights”, de Hugo Fregonese.
O “The Screen Guild Theater” emitiu uma versão radiofónica de 30 minutos, em Março de 1949. Fontaine e Jourdan voltaram a dar voz aos seus personagens.
Joan Fontaine considera este como o seu filme favorito.
Hideo Nakata (realizador japonês – assinou os originais “The Ring” e “Dark Water”) considera-o como “o melhor filme feito em toda a história do Cinema”.
Paul Thomas Anderson sobre Max Ophüls