Título original – The Deep
O fundo do mar é cenário de mundos maravilhosos, plenos de animais incríveis e plantas fascinantes.
Mas também pode ser o cenário de boas aventuras.
Eis uma.
David e Gail estão a passar umas férias nas Bermudas. A paixão pelo mergulho leva-os sempre a curiosas descobertas.
Um dia, David descobre um artefacto. O que poderia ser algo banal, revela-se um indício de um enorme tesouro.
Um tesouro que começa a suscitar o interesse de muita gente. E nem todos com as mais honestas das intenções.
Tenho boas memórias deste filme. Recordo tê-lo visto numa matiné de Sábado, com boa lotação, no saudoso Cinema Batalha. E foi o segundo filme que vi, num grande ecran. Que melhor, depois de ver uma “Star Wars” em 70mm, e antes de assistir ao voo de “Superman”?
Jacqueline Bisset, em t-shirt molhada, no fundo do mar. “Mergulhou” imediatamente para a minha galeria de Deusas do Cinema.
Aliás, é mesmo com Jaquie que o filme começa, entre sereia e deusa do Mar.
Estamos perante um título muito eficaz, competente e entretido, que resulta numa bela aventura a envolver o oceano e os seus tesouros, organizada em moldes simples e clássicos, com uma narrativa bem cativante.
A trama action/adventure empolga, mas o espectáculo maior é mesmo a beleza do mar.
As fantásticas cenas aquáticas tanto encantam (a nitidez cristalina daquelas águas), pasmam (a visão da fauna e flora), empolgam (a confrontação no navio) e assustam (a aparição da moreia).
Ficamos mesmo com vontade de fazer as malas e seguir para aquele destino.
Elegante composição sonora do grande John Barry.
Excelente fotografia (que ainda brilha mais com a edição Blu-Ray), a ilustrar toda a beleza da paisagem, do mar, da sua fauna e flora.
Óptimo aproveitamento da (bela) paisagem.
Peter Yates é inglês e sempre se revelou um dos tarefeiros mais capazes do cinema dos 70s e até ao seu fim de carreira. Andou pelo policial (“Bullitt” – ainda a referência no género), pela fantasia (“Krull” – um simpático título a merecer redescoberta), pelo suspense (“Suspect”, “The House on Carroll Street” – exemplos muito competentes no género) e até pelo drama (“The Dresser” – um festival de interpretações).
Aqui tem mais um dos seus momentos mais conseguidos, conseguindo um competente action adventure thriller, de ritmo suave, mas muito envolvente.
Boas prestações de Jacqueline Bisset (já uma consagrada Lady do Cinema), Nick Nolte (ainda jovem, vindo do sucesso obtido na popular série “Rich Man, Poor Man”) e o veterano Robert Shaw, acompanhados por Louis Gossett Jr. e o veterano Eli Wallach.
Não é obra-prima, clássico ou título essencial, mas é um (excelente) exemplo de um certo tipo de entretenimento de luxo e clássico que (infelizmente) já se deixou de produzir.
Muito recomendável.
“The Deep” tem edição portuguesa e já anda, há muitos anos, a preço “afundado”. A dificuldade está em encontrá-lo nas lojas. Diversos mercados têm-no a bom preço. Algumas edições têm legendas em Português. A edição em Blu-Ray conta com óptimos extras (making of, deleted scenes).
Realizador: Peter Yates
Argumentistas: Peter Benchley, Tracy Keenan Wynn, a partir do romance de Peter Benchley
Elenco: Jacqueline Bisset, Nick Nolte, Robert Shaw, Louis Gossett Jr., Eli Wallach, Dick Anthony Williams, Earl Maynard, Bob Minor
Trailer
O Main Theme de John Barry
Orçamento – 9 milhões de Dólares
Bilheteira – 47 milhões de Dólares
O grande Christopher Challis esteve nomeado na categoria de “Melhor Fotografia”, nos BAFTA 1978. Perdeu para o igualmente brilhante Geoffrey Unsworth, por “A Bridge Too Far”.
Baseado no livro de Peter Benchley, escritor muito fascinado pelo mundo do mar, autor do célebre “Jaws” que originou o ainda mais célebre filme de Spielberg. O livro “The Deep” foi numero 1 de vendas nos USA ao fim de duas semanas e permaneceu na lista de best sellers por seis meses.
Sobre Peter Benchley – http://www.peterbenchley.com/
O produtor Peter Guber assegurou os direitos sobre o livro de Benchley por 500.000 Dólares e mal o acabou de ler. Estava-se ainda em 1975 e “Jaws” (o filme) tinha estreado recentemente (e com o monumental sucesso que se sabe).
Antes da escolha de Peter Yates, consideram-se realizadores como John Boorman, Steven Spielberg e John Frankenheimer. Todos tiveram de recusar por compromissos já agendados.
Candice Bergen, Katharine Ross e Charlotte Rampling foram consideradas, mas foi Jacqueline Bisset a eleita.
Jeff Bridges e Ryan O’Neal foram considerados, mas Nick Nolte venceu (seria o seu primeiro filme como protagonista).
Sean Connery, Robert Mitchum, Burt Lancaster e Charlton Heston foram considerados, mas Robert Shaw ganhou.
Yates não ficou muito contente com a escolha de Nolte. Nem os executives do estúdio. O próprio actor não estava muito interessado no filme. Mas o Guber insistiu. Após várias conversações entre Yates e Nolte, ambos ficaram mais convencidos sobre as escolhas.
Shaw recebeu um ordenado de 650.000 Dólares mais uma percentagem das receitas na bilheteira. Shaw chegou a dizer que este filme marcou a primeira vez na sua carreira em que assinou contrato sem ler o guião, tendo-se limitado a acreditar, instintivamente, no potencial do filme.
Reencontro entre Jacqueline Bisset e Peter Yates, depois de “Bullitt” (1968).
Regresso de Robert Shaw ao mar e a adaptações cinematográficas de obras de Peter Benchley, depois de “Jaws”.
Números da produção – 153 dias de filmagens, 8.895 mergulhos, 2.9846m³ de oxigénio em botijas para mergulho, 10.870 horas de mergulho.
Bisset, Nolte, Shaw e Yates tiveram de aprender mergulho. Apesar dos actores terem feitos muitas cenas debaixo de água, nalgumas cenas perigosas eles foram dobrados por mergulhadores profissionais.
O governo das Bermudas chegou a criar uma zona especial para as filmagens, onde foi entregue um tubarão, uma moreia e 300 peixes diferentes.
O filme foi filmado em quatro oceanos diferentes, entre eles o Pacífico e o Atlântico Norte.
Bisset e Nolte não se deram bem no início das filmagens. Contudo, acabariam por se relacionar sentimentalmente.
O personagem de Robert Shaw é inspirado em Teddy Tucker, um mergulhador e caçador de tesouros, amigo de Benchley, que o ajudou na elaboração do livro. Tucker aparece no filme como o chefe do porto.
O barco afundado que se mostra é verdadeiro. É o “RMS Rhone”, um navio-correio. Afundou-se em 1867, nas Ilhas Virgens. Ao afundar partiu-se em dois. A parte que ficou mais próxima da superfície é a que se vê no filme. Mesmo assim, foi necessário construir novas estruturas para maior segurança e maneabilidade da equipa e actores.
O filme estreou 18 meses do livro ter sido lançado.
Foi o grande sucesso da Columbia nesse ano e o nono maior sucesso do ano.
O filme conta com uma canção famosa na sua banda sonora. “Down Deep Inside”, de John Barry, com voz de Donna Summer. Foi um grande sucesso.
Ei-la:
Existe um cut exibido em televisão, com mais 53 minutos de metragem. Infelizmente, esse cut nunca foi lançado para o mercado doméstico. Contudo, a edição USA em Blu-Ray contém alguma dessa metragem, na secção “Deleted Scenes”.
Uma das cenas apagadas (da tal metragem extra) envolvia um prólogo sobre o barco em causa. Benchley aparecia como um dos membros da tripulação. A versão jovem dos personagens de Shaw e Wallach eram interpretados por filhos de ambos.
Considera-se que este filme ajudou Bisset e Nolte a tornarem-se grandes estrelas. Fala-se que muito do sucesso e do word-of-mouth que o filme gerou se deve a Bisset e à sua aparição (é a primeira do filme) em t-shirt molhada, justa e “reveladora”. Fala-se que tal permitiu a Bisset tornar-se um sex symbol. Guber disse no livro dedicado a si (“Hit and Run: How Jon Peters and Peter Guber Took Sony for a Ride in Hollywood”) que tal t-shirt fez dele um milionário.
O poster publicitário acaba por ser quase um rip off do de “Jaws” – água, fundo do oceano e uma mulher. Diferenças? Em “Jaws” a mulher está à tona e nas profundezas um tubarão, em “The Deep” a mulher está nas profundezas e nada há à tona.