Título original – Furiosa: A Mad Max Saga
“Mad Max: Fury Road” (2015) trouxe de volta o mítico “guerreiro da estrada” (agora com o rosto de Tom Hardy, em vez do original Mel Gibson), o que permitiu a George Miller (o criador da saga e constante realizador & argumentista dela) fazer uma obra-prima de actioner distópico e caótico, plenos de loucas e incríveis stunts, que pasmaram muito actioner blockbuster moderno.
O filme também nos deu a conhecer uma curiosa personagem – Furiosa.
Furiosa agradou a muita gente e viu-se potencial nela para um spin-off.
E cá vem ele. Como prequela.
George Miller continua aos comandos.
Em vez de Charlize Theron (que interpretou a personagem nesse episódio da saga) temos a talentosa e crescente Anya Taylor-Joy.
É a história sobre a origem de Furiosa, sobre os eventos que a tornam numa guerreira e líder, sempre activa numa cruzada de vingança e liberdade.
Fast & Furiosa
Logo nos primeiros minutos sentimos um certo “déjà vu” face a “Mad Max: Fury Road”.
Mas isto não é um defeito.
Estamos no mesmo mundo delineado para esse episódio, portanto é de esperar uma filiação visual.
Em termos de action, continua-se fiel ao que já foi delineado em 1979 com o já mítico “Mad Max”.
Mas já irei aí.
Este “Furiosa”, sendo o início de saga (agora para outra personagem vinda da saga principal), faz o mesmo que “Mad Max” fez – a apresentação do/da protagonista.
Assim sendo, “Furiosa” é, no meio de um actioner distópico e caótico, uma saga humana, a jornada de uma mulher.
A narrativa passa-se ao longo de muitos anos e é dividida em capítulos.
E tal permite conhecer Furiosa na sua intimidade emocional, relacional, comportamental e psicológica.
O que dá ao filme a devida dimensão humana.
O mundo de Furiosa não é muito diferente do que Max já encontrou nas suas aventuras.
Mas enquanto Max se via sempre nas (desoladas e mortíferas) estradas, encontrando aqui e ali um “refúgio” (aqui e ali com algo de “civilizado”), Furiosa move-se em diversos mundos, opostos e complementares (o pequeno paraíso onde nasceu e cresceu, os três mundos caóticos que depois conhece).
E esta diversidade de “condomínios” permite uma variedade visual (e cénica) notável, que ajuda na visão complexa daquele mundo futuro.
E através destas micro-sociedades, “Furiosa”, tal como todos os anteriores episódios da saga “Mad Max”, deixa o seu olhar, retrato, visão e alerta sobre o mundo (seja o actual, seja o que se avizinha).
“Furiosa” diz que é uma “Mad Max Saga”.
Portanto, está inserida naquele mundo.
Como tal, é de esperar louca action automobilística, com incríveis stunts.
Pois bem, os filmes anteriores já elevaram a fasquia em cada episódio (principalmente “Mad Max 2” e “Mad Max: Fury Road”), tornando-se sempre referência.
“Furiosa” não se assusta com tal nem se intimida por ser protagonizado por uma mulher.
Realizador, equipa técnica e stuntmen/stuntwomen (que se viram muito bem homenageados este ano com o divertido “The Fall Guy”) empenham-se (e bem) e conseguem ir ainda mais longe face ao que já se viu (na saga e no mundo do actioner moderno).
São várias as set pieces, e todas impressionam (principalmente uma em especial, que nos deixa constantemente com o queixo caído), mostrando que os seus autores nunca cessam de ter fantásticas ideias.
“Furiosa”, tal como todos os episódios de “Mad Max” voltam a ser um hino e tributo ao talento, coragem, imaginação, trabalho e dedicação dos stuntMen/stuntWomen, que são tão “invisíveis”, mas que são eles & elas que dão a dimensão heróica aos protagonistas e fazem avançar o actioner para um outro mais além.
Prodigioso trabalho nas áreas da fotografia (do grande Simon Duggan), cenografia (Colin Gibson regressa de “Fury Road”) e guarda-roupa (Jenny Beavan regressa de “Fury Road”), que nos traduzem na perfeição toda a dimensão de caos, sujidade, desolação, destruição e violência daqueles mundos.
“Furiosa” é prequela a “Mad Max: Fury Road”.
Sim, há um (magnífico) alinhamento visual e narrativo entre um e o outro.
E tendo e conta que “Furiosa” é um spin-off, registe-se que surge um personagem muito interessante que também tem potencial para o seu spin-off.
Chris Hemsworth usa o seu porte imenso de forma intensa e a sua postura habitual de bronco ajuda na criação de um personagem louco, perigoso e capaz de liderança. Um trabalho impressionante e surpreendente.
Anya Taylor-Joy não pára de surpreender, é um inteligente exercício de casting e impressiona pela entrega física e emocional. E depois há aquela capacidade notável dela em representar com os seus olhos – que são os maiores, mais brancos, luminosos e expressivos do Cinema actual.
George Miller vai a caminho dos 80 anos (será em 2025) e a saga “Mad Max” já vai em 45 anos.
Pois bem, o Mr. Miller continua a mostrar à industria como é que se faz actioner real (sim, sim, estão lá alguns CGI, mas são para melhoria do contexto cénico, para aumentar a segurança de algumas stunts e para evitar mortes reais; acrescido que nunca têm um ar falso, cartoonesco ou irreal), gloriosa criação e ilustração do caos, tornando tudo isso em pura Arte Cinematográfica (sim, o filme não é para puritanos cinéfilos, que só gostam de Method e “gritos matrimoniais”).
“Furiosa” é grande actioner, é a saga “Mad Max” ao seu melhor, é um inteligente e autónomo spin-off, pode ser o começo de uma nova saga (paralela à já existente), é um prodígio de stunts, é uma glorificação aos homens e mulheres que acentuam este tipo de espectáculo, é George Miller em alto nível, é Cinema.
Um dos melhores filmes de 2024.
O grande blockbuster de 2024.
Obrigatório.
“Furiosa” já está nas nossas salas.
Notas:
- atenção à (subtil) aparição de Max.
- deixem-se estar na sala durante parte do genérico final, pois é nele que se faz o devido alinhamento entre “Furiosa” e “Mad Max: Fury Road”.
Realizador: George Miller
Argumentistas: George Miller, Nick Lathouris
Elenco: Anya Taylor-Joy, Chris Hemsworth, Angus Sampson, Tom Burke, Nathan Jones, Josh Helman, Alyla Browne, Lachy Hulme
Trailers
Site – https://www.furiosa.pt
Orçamento – 168 milhões de Dólares
Bilheteira (até agora) – 25 milhões de Dólares (USA); 58 (mundial)
George Miller chegou a considerar o recurso à tecnologia “deaging” (como se fez a Harrison Ford no início de “Indiana Jones 5”, bem como a Robert De Niro e Al Pacino em “The Irishman”) a Charlize Theron, mas não ficou muito contente com os efeitos de tal tecnologia.
Jodie Comer chegou a ser considerada como Furiosa.
George Miller viu um primeiro cut de “Last Night in Soho” (2021) e ficou encantado com Anya Taylor-Joy, pelo que logo a convocou.
Charlize Theron ficou triste por não ser chamada para este filme, mas teceu elogios à escolha de Anya Taylor-Joy.
Anya Taylor-Joy queria rapar o cabelo, mas os seus contratos como modelo impediam-na de tal. Mesmo assim, conseguiu levar avante a sua vontade.
Chris Hemsworth chegou a fazer uma audition para interpretar Max Rockatansky em “Mad Max: Fury Road”.
Hemsworth disse que as filmagens exigiram muito dele, do ponto de vista físico.
Hemsworth teceu grande elogios ao set, pois a pesar de ser intimidante, barulhento e cansativo, tinha sempre uma atmosfera de controlo e segurança.
Anya Taylor-Joy ainda não tem carta de condução.
Filmado na Austrália, tal como os três primeiros episódios da saga “Mad Max” (o quarto episódio foi filmado na Namíbia).
O filme conta com uma cena de acção de 15 minutos, que recorreu a 200 stuntmen e precisou de 78 dias de filmagens.
“Furiosa” teve a sua Premiere mundial em Cannes 2024.
Foi recebido com uma ovação de pé, de 7 minutos.