Terra Abrasadora (1932)

 

 

Título original – Red Dust

 

Um ardente par num filme mais ardente ainda.

 

Dennis Carson é o supervisor de uma plantação de borracha na Indochina.

Uma tempestade obriga à paragem da produção.

Mas eis que chegam duas mulheres – Vantine, uma ardilosa loira em deambulação, e Barbara, a carente esposa do proprietário.

Numa noite de tempestade, muita paixão tempestiva vai surgir.

Entre drama, aventura e love story (na vertente de triângulo amoroso – um homem entre duas mulheres), eis um filme bem exótico (na sua paisagem) e bem escaldante (nas pulsões amorosas dos três protagonistas).

A intriga até pode ser simples, mas aqui o que interessa é a forma como se conta a história e performance dos actores.

Até se pode ver alguma visão racial muito primitiva e “inaceitável” nos dias de hoje (os açoites de Dennis aos trabalhadores), mas nada disso interessa pois até origina bom humor e personagens divertidos (o cozinheiro).

O que interessa verdadeiramente, é o tom e a atmosfera.

Que são bem carregados, diga-se.

“Red Dust” é um profundo conto erótico (bem superior ao permitido e normal na época – yoohoo), à volta de três adultos que deixam que o calor do clima (geográfico) lhes suba o termómetro corporal (a todos os níveis).

Aliado ao (forte) pulso erótico dos eventos, passa por aqui algo da screwball clássica na relação entre os personagens (a relação entre Dennis e Vantine, na forma como se provocam).

É uma componente de humor que é sempre bem-vinda e que relaxa toda a tensão sexual dos personagens (e do espectador).

Victor Fleming, hábil tarefeiro a caminho da sua hora de glória (“The Wizard of Oz” e “Gone With The Wind” – ambos em 1939), assina com eficácia, encenando tudo como se fosse uma peça teatral (poucos personagens, a sua disposição no espaço, a acção passa-se quase toda dentro da casa, pela sala e pelos quartos, com alguns exteriores) mas sabe como e onde carregar no erotismo, nunca caindo no vulgar ou banal.

Performance adequada do trio protagonista, que se revela bem quente.

Clark Gable ao rubro na atitude macho.

Jean Harlow ao rubro na sua postura (bem excitante e provocadora).

Mary Astor ao rubro com o seu conservadorismo ansioso por se libertar.

A química entre Gable e as meninas e sempre quente (a troca de lines e olhares com Jean, o momento “húmido” com Mary).

Um dos mais eróticos filmes de sempre.

E hoje, 90 anos depois, ainda mantém o seu poder ardente.

Um must.

 

“Red Dust” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, a bom preço.

Realizador: Victor Fleming (sem crédito)

Argumentista(s): John Lee Mahin, Donald Ogden Stewart (sem crédito), a partir da peça teatral de Wilson Collison (“Red Dust”)

Elenco: Clark Gable, Jean Harlow, Gene Raymond, Mary Astor, Donald Crisp, Tully Marshall, Forrester Harvey, Willie Fung

 

Trailer

 

Clips

 

Orçamento – 408.000 Dólares

Bilheteira – 1.2 milhões de Dólares

 

“Filme a Preservar”, pelo National Film Preservation Board 2006.

A peça teatral de Wilson Collison estreou em 1928.

Greta Garbo foi pensada como Vantine. Mas com as alterações no argumento, escolheu-se Jean Harlow.

A MGM chegou a anunciar John Gilbert como protagonista. Seria, certamente, na fase em que se pensava ter Greta Garbo como co-protagonista.

Joan Crawford ia participar, mas a MGM decidiu retirá-la, no sentido de terminar o affair entre ela e Clark Gable.

É o segundo de seis filmes que Clark Gable e Jean Harlow fizeram juntos – “The Secret 6” (1931), “Red Dust” (1932), “Hold Your Man” (1933), “China Seas” (1935), “Wife vs. Secretary” (1936), “Saratoga” (1937).

O filme foi feito antes do famoso Código de Hollywood. Tal permitiu que houvesse liberdade nalgumas cenas de carácter erótico.

Na cena do duche, Jean Harlow antecipa uma variante que ela faria a tal, numa cena (igualmente famosa e quente) de um outro filme seu (igualmente famoso e quente) – “Bombshell” (1933). Reza a lenda que Harlow estava em topless, levantou-se, virou-se para a crew e disse “Here’s one for the boys in the lab!“. Ao que parece, Victor Fleming destruiu toda a película que filmou esse momento.

 

O marido de Jean Harlow, Paul Bern, suicidou-se durante as filmagens. A actriz ausentou-se por 10 dias.

Louis B. Mayer procurou retirar Jean Harlow do filme, após o suicídio do seu marido. Surgiram especulações de ele ter sido assassinado. Mas perante a popularidade da actriz e pela comoção nacional devido ao seu luto, Mayer decidiu mantê-la.

Algumas cenas com Harlow foram refilmadas após a morte do marido, onde ela aparecia com menos decotes.

O “The Screen Guild Theater” emitiu uma versão radiofónica de 30 minutos, em Outubro de 1940. Clark Gable retomou o seu personagem.

Quando foi mostrado em Televisão, em 1957, o filme chocou patrocinadores e audiência, pelo racismo e sexualidade. O filme chegou a ser censurado em diversos canais, durante anos. O Turner Classic Movies exibiu o filme sempre na versão integral.

 

O filme teria um remake em 1953 (já aqui visto) – “Mogambo”, de John Ford, com Ava Gardner (que pega na personagem de Jean Harlow) e Grace Kelly (que pega na personagem de Mary Astor). Clark Gable protagoniza, mas com um personagem diferente. Passa-se em África e é filmado a cores. É igualmente um filme de forte cariz erótico.

Em 1966, a MGM anunciou um novo remake – Robert Mitchum e Ann-Margret (whoa, que par!!!) foram anunciados, mas nada avançou.

One comment on “Terra Abrasadora (1932)

  1. […] Ford decide refazer “Red Dust” (1932, já aqui […]

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