The Big Doll House (1971)

 

 

Filmes sobre mulheres em prisões.

Há quem abençoe tal ideia, achando que foi para isto que o Cinema foi inventado.

Critique-se ou não tal (sub-)género (ou fantasia masculina), foi uma moda que pegou, rendou, fez escola e influência, gerou culto e fãs.

Eis o título iniciático.

Produz o grande Roger Corman.

 

Filipinas. Uma prisão de mulheres.

Cinco delas planeiam uma arrojada fuga.

Para tal há que seduzir dois vendedores de fruta.

Eis um verdadeiro wetdream masculino, ainda que atrás das grades.

É uma prisão rasca, de um país terceiro-mundista, mas as meninas parecem estar numa Playboy Party – os cabelos estão soltos e brilhantes, os lábios acetinados e húmidos, as unhas bem arranjadas, os corpos são um sonho.

Todos os clichés deste (sub-)género estão aqui e é aqui que eles são inventados – as meninas no chuveiro (em grupo e isoladas), lutas na lama, torturas às meninas, as meninas a fazerem-se às visitas e a pagarem favores (imaginam como?)

E até a directora da prisão é um sonho.

O que há para não se gostar?

Sim, é um movie for the boys, mas qual o mal?

É exploitation, guys. A glória dos 70s.

Consolo total para os olhinhos e nada é para se levar a sério.

Vendo-se além do desfile de beldades e como exploitation movie, pode-se (e deve-se) também ver o filme como um actioner em jeito de prison break movie, com uns toques de survival movie (outro tipo de exploitation dos 70s), com alguns dos seus arquétipos (condições péssimas, abusos, direcção opressiva, guardas violentos, plano de fuga).

Com a (grande) diferença de ser com mulheres.

E com elas a serem o equivalente que os machos habitualmente são nesses géneros – temos a novata, a líder, a rebelde, a delicada.

Resulta bem a adição de humor, muito através dos rapazolas que dão uma ajudinha aos eventos (mais pela excitação do que pelo jeito), nem sempre da melhor maneira.

E tudo é impecavelmente usado pela fórmula low budget à Roger Corman (conseguem-se perceber quais a cenas que foram filmadas no mesmo dia) e em formato exploitation (segue regras que preenchem as necessidades do público).

Final com surpresa face ao vilão (a sua identidade) e ao resultado da fuga.

As interpretações estão ao nível do que é de esperar, com as meninas a defenderem-se muito bem na sua raiva e sensualidade.

Roberta Collins domina, com a sua beleza e atitude rebelde.

Pam Grier e Judy Brown também merecem destaque – a primeira pela postura de líder e elevada carnalidade, a segunda pela naturalidade mostrada.

Brooke Mills cativa pela forma como consegue ser sexy de forma discreta (a dança) e Pat Woodell também sabe dar luta.

 

Destaques também Christiane Schmidtmer e Kathryn Loder – a primeira como beldade cheia de repressão, a segunda pela sua vilaneza bem usufruida (é fã de tortura e de serpentes).

 

Sid Haig e Jerry Franks são os típicos “cromos” de serviço.

Jack Hill segue as regras da “Roger Corman Factory” – vai directo ao assunto, não segue subtilezas, sabe dosear os elementos da exploitation, dirige com ritmo, combinando muito bem os géneros prison movie, comédia, drama e acção, mostrando que se está a divertir.

Assim começava (muitíssimo bem) o (sub-)género das “Women in Prison “, num título que revolucionou e marcou o seu tempo.

 

Um clássico absoluto.

Um cult movie total.

Um glorioso exemplar das boas produções B de Roger Corman.

 

Obrigatório.

 

“The Big Doll House” não tem edição portuguesa. Existe uma edição americana, em tom de triple feature, que conta com mais dois filmes (também da Roger Corman factory, também sobre mulheres em prisões) – “Women in Cages” e “The Big Bird Cage”. O preço já anda bem livre. Os três filmes estão impecavelmente remasterizados a nível de som e imagem.

Realizador: Jack Hill

Argumentista: Don Spencer

Elenco: Roberta Collins, Pam Grier, Judith Brown, Brooke Mills, Pat Woodell, Christiane Schmidtmer, Kathryn Loder, Sid Haig, Jerry Franks

 

Trailer

 

Orçamento – 125.000 Dólares

Bilheteira – 10 milhões de Dólares

Mercado doméstico – 3 milhões de Dólares

 

O argumento foi inicialmente escrito por James Gordon White. Adquirido por Roger Corman, foi sujeito a reescritas.

Jack Hill fez alterações no argumento, no sentido de colocar algum humor.

Filmado nas Filipinas.

Roger Corman queria filmar em Puerto Rico, mas foi convencido a filmar nas Filipinas.

Jack Hill decidiu dar o nome de “Dietrich” à directora da prisão, como “homenagem” ao produtor alemão Erwin C. Dietrich, com quem Hill teve conflitos num filme anterior.

Kathryn Loder teve problemas de saúde durante as filmagens e quase falecia.

É o primeiro filme onde Pam Grier tem um protagonismo.

Sid Haig ajudou Grier na criação da sua interpretação.

Jack Hill (o realizador) e Jane Schaffer (a produtora) eram um casal, na época.

Jack Hill acrescentou uma cena de dança para Brooke Mills assim que soube que actriz tinha experiência em ballet.

Pam Grier canta a canção do genérico, “Long Time Woman”.

A cena da “mangueirada” na cantina apanhou de surpresa os extras presentes – nenhum deles sabia que tal iria acontecer.

Na cena da tortura com uma cobra, a actriz estava separada do réptil por uma placa de vidro.

A lineGet it up or I’ll cut it off” foi uma ideia repentina de Hill, na filmagem da cena.

Uma cena lésbica, bem explícita, foi filmada, mas foi cortada da montagem final.

Produção de Roger Corman.

É um dos primeiros filmes da sua nova companhia, a New World (Corman fundou-a depois de ter acabado com a parceria com AIP – American International Pictures).

É o filme que abre o filão do (sub-)género “Women in Prison”.

Seguir-se-iam “Women in Cages” (1971, de Gerry de Leon), “The Big Bird Cage” (1972, também de Jack Hill), “Caged Heat” (1974, de Jonathan Demme). Todos são produção de Roger Corman.

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