Título original – Knives Out
Rian Johnson propõe um regresso ao Whodunnit clássico.
E tem um excelente elenco a ajudar.
Um milionário morre na noite da celebração do seu aniversário.
Tudo aponta para suicídio, mas um excêntrico detective acredita que há algo mais.
Suspeitos? Todos os membros da família da vítima.
Depois de ter modernizado o Noir à Dashiell Hammett (“Brick”, em 2005), Rian Johnson atira-se agora ao Whodunnit à Agatha Christie.
E que excelente ideia, tratada da melhor forma.
À boa maneira do género, estamos em ambientes campestres, em mansões góticas, grandes e antigas, com muitos (e variados) personagens, muitos suspeitos, muitos (ou nenhuns) indícios, muitas evidências para este e aquele, resolução com o apontar ao mais inesperado dos culpados.
Déjà vu?
Sim.
O género é “simples”, tem poucos segredos e ingredientes, mas o gosto está em saber fazer bem um prato antigo, mas sempre saboroso quando bem feito.
É este o caso.
Johnson sabe pegar nos arquétipos (visuais, humanos e narrativos) e dar um look moderno, pega nos variados suspeitos e faz deles “protótipos” do pior do ser humano, baralha o espectador sobre os eventos, motivos e indícios, assegura o interesse do espectador e oferece grande entretenimento.
Conta com boas ajudas.
Fotografia e cenografia de bom nível.
O excelente elenco não está lá só para dar prestígio e (bom) nome ao projecto. Todos entregam carisma e personalidade, quase fazendo do filme um “festival” de actores. Uma pequena reclamação face à indiferença com que os dois agentes da Polícia são tratados – esses personagens e os seus respectivos actores não são alvo da mesma atenção que os outros.
O excêntrico Benoit Blanc parece decalcado de muitos dos grandes personagens do género na Literatura, mas mostra potencial para uma saga.
É o Whodunit de volta ao seu melhor nível, recuperando um prazer cinéfilo que parecia perdido (era “moda” nos 40s, 50s, 70s, 80s , em Cinema e Televisão – alguém se esqueceu dos muitos títulos com Sherlock Holmes, Miss Marple, Hercule Poirot, Tommy & Tuppence?) e que tantos bons actores (jovens e veteranos) juntava no ecran, no mesmo filme. Talvez por isso vi a sala tão preenchida por diversas gerações.
É o melhor, mais divertido e complicado Whodunit desde o maravilhoso “8 Femmes” (2002, de François Ozon).
O género parece estar de volta, depois da muito agradável nova versão de “Murder on the Orient Express” (2017, de Kenneth Branagh) e deixa-nos optimistas quanto ao seu futuro (até porque já está agendado para Outubro de 2020 a nova versão de “Death on the Nile”, novamente de Branagh).
Muito recomendável.
“Knives Out” já está nas nossas salas.
Realizador: Rian Johnson
Argumentista: Rian Johnson
Elenco: Daniel Craig, Chris Evans, Ana de Armas, Jamie Lee Curtis, Michael Shannon, Don Johnson, Toni Collette, LaKeith Stanfield, Christopher Plummer, Katherine Langford, Jaeden Martell, Riki Lindhome, Edi Patterson, Frank Oz
Site – https://knivesout.movie
Orçamento – 40 milhões de Dólares
Bilheteira (até agora) – 63 milhões de Dólares (USA); 124 (mundial)
“Prémio do Público”, no Festival de Philadelphia 2019.
É o primeiro filme produzido por Rian Johnson.
Reencontro entre Daniel Craig e Christopher Plummer, depois de “The Girl With The Dragon Tattoo” (2011).
Reencontro entre Michael Shannon e Chris Evans, depois de “The Iceman” (2012).
Johnson já tinha dirigido a esposa de Craig, Rachel Weisz, em “The Brothers Bloom” (2008).
Frank Oz regressa à interpretação ao fim de 20 anos.
M. Emmet Walsh substituiu Ricky Jay, falecido em Novembro de 2018, no começo das filmagens. Uma foto sua é vista segundo antes da aparição de Walsh.
Para Johnson, Benoit Blanc é um “American Poirot“.
Craig volta a criar um personagem com sotaque, depois de “Logan Lucky” (2017).
A voz do detective na série televisiva que a irmã de Marta está a ver é a de Joseph Gordon-Levitt, actor habitual em filmes de Johnson (“Brick”, “Looper”).
K Callan interpreta a mãe de Christopher Plummer, mas é 6 anos mais nova.
A canção que Blanc canta no carro é “Losing My Mind”, escrita por Stephen Sondheim para o musical “Follies”.
Michael Shannon volta a ser pai de Jaeden Martell, depois de “Midnight Special” (2016).
Daniel Craig e Ana De Armas reencontram-se em “No Time To Die” (2020) – a 25º aventura de James Bond e o 5º e último filme de Craig como 007.