Título original – The Irishman
É o regresso de Martin Scorsese e ao mundo dos Goodfellas.
A história de Frank “The Irishman” Sheeran, hitman da Máfia e grande amigo de Jimmy Hoffa.
Scorsese ilustra várias décadas dos USA e com tal mostra que muito do poder do país assenta em corporativismos e parcerias de carácter criminal e favorável aos Goodfellas internos.
É passado no mundo da Máfia, mas Scorsese não está interessado nos esquemas e nos actos violentos (há alguns, mas “The Irishman” até é o mais contido filme do cineasta em matéria de violência).
Para o autor de “Taxi Driver” o que interessa são as cumplicidades, as relações, as amizades, as lealdade e o valor da palavra dada.
É, portanto, uma história sobre valores entre pessoas e menos sobre estratagemas (mais ou menos) (i)legais.
Mas é, acima de tudo, um filme sobre um homem, que poderia ser mais um nobody, que sobe lentamente dentro do mundo dos Wiseguys, afirmando a sua pessoa, talento e lealdade, evidenciando que todas as suas acções eram strickly business e nothing personal.
Excelente fotografia e reconstrução das épocas.
Magníficos e “discretos” efeitos visuais (aqui e ali para um efeito de paisagem, mas é incrível o efeito que tem em rejuvenescer e envelhecer os protagonistas).
Martin Scorsese sente-se sempre à vontade nestas coisas de mafiosos e famiglia (“Mean Streets”, “Goodfellas”, “Casino”) e volta a mostrá-lo. Sobriedade e elegância com a câmara, a visualização dos ambientes, a riqueza e variedade humana, a profundidade dos diálogos, a direcção de actores.
Os mais de 200 minutos é que custam algo a passar. Mas é visível que Scorsese não procura facilitismos nas transições, procurando que cada cena tenha lógica e importância, usando tudo para definição dos personagens e relações.
O trio protagonista é (bem) veterano e já poucos segredos tem para desvendar sobre interpretação.
Estão todos impecáveis.
Al Pacino brinda-nos com a sua habitual explosão emotiva (os discursos, os comentários sobre os adversários/inimigos), Joe Pesci traz uma inesperada tranquilidade como mobster (totalmente o oposto visto em “Goodfellas” e “Casino”), Robert De Niro coloca uma impressionante contenção emocional e psicológica, mostrando todo o duelo moral interno do seu personagem (a sua reacção quando sabe que tem de eliminar um certo personagem).
Para o cinéfilo, é um deleite vê-los a contracenar e a “esgrimar” os seus recursos interpretativos.
(neste aspecto, a longa duração do filme até se torna numa mais-valia)
Uma visão complexa, humana e sentimental sobre o mundo do crime organizado, que traz o melhor do seu cineasta e dos seus três protagonistas.
Um dos melhores filmes do ano.
(vamos ver se irá aos prémios principais de Cinema)
Muito recomendável.
“The Irishman” está disponível via Netflix.
Realizador: Martin Scorsese
Argumentista: Steven Zaillian, a partir do romance de Charles Brandt
Elenco: Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci, Bobby Cannavale, Harvey Keitel, Ray Romano, Anna Paquin, Jack Huston
Site – https://www.theirishman-movie.com/home/
Featurettes
Martin Scorsese em entrevista
https://www.empireonline.com/movies/features/irishman-week-martin-scorsese-interview/
Robert De Niro em entrevista
https://www.empireonline.com/movies/features/irishman-week-robert-de-niro-interview/
Joe Pesci em entrevista
https://www.empireonline.com/movies/features/irishman-week-when-empire-interviewed-joe-pesci/
Scorsese, De Niro e Pacino à conversa
Orçamento – 160 milhões de Dólares
“Melhor Filme”, no Festival de Chicago 2019.
“Melhor Actor Secundário”(Al Pacino), “Melhores Efeitos Visuais”, nos Hollywood Film 2019.
Ia ser uma produção da Paramount Pictures. O estúdio ficou assustado com o orçamento e desistiu. A Netflix avançou.
Scorsese chegou a manifestar-se contra a Netflix e o processo de streaming.
Scorsese diz que não conseguiu encontrar interesse por parte de qualquer Major de Hollywood.
Reencontro entre Robert De Niro e Al Pacino, depois de “Heat” (1995) e “Rightous Kill” (2008). Ainda há “The Godfather: Part II” (1974), mas os dois não têm cenas juntos.
Reencontro entre Robert De Niro e Joe Pesci, depois de “Raging Bull” (1980), “Goodfellas” (1990) e “Casino”(1995) – todos realizados por Scorsese; também há que juntar “Once Upon a Time in America” (1984, de Sergio Leone), “A Bronx Tale” (1993) e “The Good Shepherd” (2006) – estes dois últimos assinados por De Niro.
Reencontro entre Robert De Niro e Harvey Keitel, depois de “Mean Streets” (1973) e “Taxi Driver” (1976) – ambos de Scorsese.
Reencontro entre Anna Paquin e Harvey Keitel, depois de “The Piano” (1993).
Reencontro entre Martin Scorsese e Harvey Keitel, depois de “Who’s That Knocking at My Door?” (1967), “Mean Streets”, “Alice Doesn`t Live Here Anymore” (1974), “Taxi Driver” e “The Last Temptation of Christ” (1988).
Reencontro entre Martin Scorsese e Joe Pesci, depois de “Raging Bull”, “Goodfellas” e “Casino”.
Reencontro entre Martin Scorsese e Robert De Niro, depois de “Mean Streets”, “Taxi Driver”, “New York, New York” (1977), “Raging Bull”, “The King of Comedy”(1982), “Goodfellas”, “Cape Fear”(1991) e “Casino”.
Pesci teve de ser muito convencido a estar presente no filme. O actor já está retirado. Pesci chegou a recusar 50 vezes, mas Scorsese disse que foram mais.
Pacino disse que se sentiu como se estivesse nos 70s, dado o processo de filmagens.
Efeitos visuais da Industrial Light and Magic. Os efeitos foram usados em grande parte para rejuvenescimento dos actores, em diversas fases etárias.
Filmado em película 35mm.
106 dias de filmagem. É a mais longa de Scorsese.
O primeiro cut passava as quatro horas de metragem.
Chegou-se a ponderar ser um filme em duas partes.
É o mais longo filme de Scorsese – 3 horas e meia.
O filme tem estreia nas salas de Cinema em vários países. Portugal fica de fora, pois não houve acorde entre a Netflix e o distribuidor português.
Sobre a história real:
http://www.historyvshollywood.com/reelfaces/irishman/
https://www.irishtimes.com/culture/film/the-true-story-behind-the-irishman-1.4099082
https://www.esquire.com/uk/latest-news/a29336348/real-history-behind-the-irishman/