Título original – La Piscine
Um dos mais populares, escaldantes e ousados filmes do Cinema.
Vamos ver como está a temperatura desta piscina mais de meio seculo depois.
St. Tropez.
Marianne & Jean-Paul, um jovem casal a viver um momento de grande fogosidade amorosa, recebem Harry, um amigo comum e ex-amante dela, na companhia da sua filha, Penelope, uma jovem algo ainda ingénua perante a vida, mas muito ansiosa.
Mas quando Marianne e Harry se “aproximam”, acrescido do “entendimento” entre Jean-Paul e Penelope, toda a tensão sobe, levando a um desenlace trágico para todos.
Começamos com a sensação de calor, sol, piscina fresca, corpos morenos e plenos de paixão erótica.
Há visitas e trazem tensão sexual.
E com isto, “La Piscine” é um filme sobre muita coisa:
- é um filme sobre calor – no clima e nos corpos.
- é um filme sobre afogamentos – em água e na mente.
- é um filme sobre medos, suspeitas, factos, ciúme e desejo.
Sob o calor da Riviera Francesa, assistimos a um libertar de paixões, sensações e vontades, onde nada e ninguém consegue arrefecer.
O clima é sempre carregado (percebe-se que está calor ao sol e à noite), mas há ardentes emoções na casa (o primeiro momento de Marianne e Jean-Paul aquece o próprio sol; os olhares de Jean-Paul a Penelope desafiam a tentação; a postura “convidativa” de Penolope abre as portas ao pecado; o momento do jantar, com conversa vã, plena de olhares suspeitos é de cortar a respiração com tanta tensão; o silencio entre Marianne e Jean-Paul é tão intenso na sua frieza como era antes o calor da sua pulsão erótica).
A sedução nada tem de subtil – Jean-Paul não cessa de olhar para Penelope assim que ela chega e não tarda em perguntar-lhe a idade.
Igualmente notável é a forma como se faz da piscina um quinto personagem (ela está presente em quase todos os momentos cruciais, é nela que se arrefece muito do calor sentido e vivido fora dela, é nela que ocorre a tragédia).
Muito inteligente resulta o facto de ser um filme “fechado” – poucos personagens, pouco diálogo, poucos eventos e uma constante sensação de claustrofobia, seja ela física (a casa e o jardim são grandes, mas parecem pequenos e sempre a confinar os personagens) ou psicológica (há muita coisa a passar-se nas cabeças dos personagens, de forma reprimida).
A contrastar com tanta elegância, charme e erotismo está a reviravolta brutal que o filme tem no terceiro acto, que tudo muda. Em tom, relações, emoções. E leva o espectador a ter um abanão e ser o “juiz” dos eventos.
A par de todas as emoções e excitações, “La Piscine” é um conto sobre confronto social.
Jean-Paul e Marianne não são classe alta (raramente saem de casa, não fazem vida social na zona, ele ainda procura o sucesso), Harry é rico e bem-sucedido (viaja muito).
O contraste é profundamente visual – Jean-Paul e Marianne estão numa casa alugada e não propriedade deles, as roupas de Harry são mais luxuosas, Jean-Paul e Marianne têm um Renault e Harry tem um Maserati.
O que sugere uma certa ambiguidade na hostilidade entre Jean-Paul e Harry – o confronto é por causa de Jean-Paul desejar Penelope?, é por causa de Harry se aproximar de Marianne?, é por causa do suce$$o de Harry?
Toda essa ambiguidade enriquece a atmosfera, já carregada.
Por outro lado, é um filme cheio de simbolismos – as roupas das meninas ilustram o estado mental de ambas perante si próprias (Marianne veste-se de forma elegante e adulta, Penelope veste-se de forma jovem); os carros dos homens (Jean-Paul tem um simples Renault 8 e Harry tem um Maseratti Ghibli – a determinado momento, Jean-Paul quer testar o carro de Harry e é feito um “test drive” que parece ser um duelo de habilidades em ver-se quem conduz melhor).
Mas no meio de tudo isto (que não é pouco), “La Piscine” é uma histoire d`amour.
Jean-Paul e Marianne são jovens, começaram a relação há pouco e ainda é intenso o impulso sexual entre ambos. Mas só ela consegue dizer “Je t`aime”. E tudo arrefece entre ambos com a chegada de Penelope. O evento trágico causa estragos entre Jean-Paul & Marianne, mas no fim é o amor que prevalece e vai ser o apoio para a salvação.
E neste aspecto, “La Piscine”, no meio de tanta excitação, sedução, tensão e calor erótico, é um filme positivo, optimista e profundamente romântico.
É belíssimo, o guarda-roupa das meninas.
É (bem) elegante, sofisticada e sexy, a música de Michel Legrand.
É luminosa e detalhada, a fotografia (e o novo e excelente master HD ainda a faz melhor), que nos faz sentir o calor (do sol, das mentes, dos corpos).
Jacques Deray filma o amor, o desejo e o ciúme, com laivos de thriller (há crime e cadáver) e muito erotismo (a dinâmica sexual do casal protagonista, a tensão sexual entre todos), numa visão amoral/imoral das coisas, convidando o espectador a reflectir sobre o que vê e se passa.
A realização é de grande qualidade e praticamente que antecipa a forma de fazer/filmar publicidade (e muito do cinema que se faria com influência desta área audiovisual) nas décadas seguintes – a forma como se filma a casa, a paisagem, as roupas, os adereços, os carros, a movimentação dos actores, o olhar sobre os corpos.
Alain Delon, Romy Schneider, Maurice Ronet e Jane Birkin – todos no seu pleno de carisma e poder de sedução, em grande sintonia na transmissão da total tensão existente.
Romy e Jane são um autêntico sonho erótico e raramente estiveram tão lindas.
Alain & Romy inflamam o ecran e tornam-se dos maiores e mais ardentes amantes do Cinema.
“La Piscine” é um filme aparentemente simples (poucos personagens, espaço único, poucos eventos, pouco diálogo, muita contemplação), mas que se revela bem complexo perante tanta coisa que aborda, nunca deixando de vincar um forte estilo art house.
Passados mais de 50 anos, “La Piscine” continua um grande filme, uma obra de arte cinematográfica, um filme actual e influente, lindo, cativante, incómodo e excitante.
Pela luminosidade da fotografia, pela beleza das imagens, pela qualidade da realização, pelo elegante guarda-roupa, pelo carisma sexy do elenco e pelo carregado erotismo (que nunca cai no vulgar).
“La Piscine” pode muito bem ser o papá dos modernos thrillers eróticos que se seguiram e fizeram moda, fazendo perfeita figura ao lado de clássicos (igualmente) influentes como “Body Heat” (1981) e “Basic Instinct” (1992).
Foi, com toda a justiça, um título marcante na sua época.
Ainda é um dos mais eróticos filmes de sempre.
Um Clássico para todas as estações.
“La Piscine” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, a bom preço.
Realizador: Jacques Deray
Argumentistas: Jean-Claude Carrière, Jacques Deray, Alain Page
Elenco: Alain Delon, Romy Schneider, Maurice Ronet, Jane Birkin, Paul Crauchet, Suzie Jaspard
Trailer
Clips
Backstage
Romy & Alain
Bilheteira – 3 milhões de Espectadores (França)
Alain Delon e Romy Schneider tinham namorado e eram bons amigos na época das filmagens.
Angie Dickinson era a primeira escolha de Jacques Deray como co-protagonista. Deray trabalharia com Angie em “Un Homme est Mort” (1972).
Os produtores queriam Monica Vitti.
Delphine Seyrig recusou ser a co-protagonista.
Delon exigiu a presença de Romy Schneider, senão por ele não haveria filme.
Filmou-se em Francês e em Inglês. Tal era raro e invulgar (quando necessário, os filmes eram dobrados nos respectivos países).
Os óculos que Alain Delon usa (Vuarnet 006) tornaram-se sensação.
Jane Birkin usa roupa dela, a pedido dos produtores. Jane usa muita da moda da época made in UK.
O carro de Harry é um Maserati Ghibli de 1967. Os argumentistas queriam um Lamborghini Espada, mas o representante francês da Maserati convenceu a produção a escolher o Ghibli.
O filme foi um grande sucesso em França e em vários países da Europa (nomeadamente Itália e Espanha).
O cut internacional foi mais curto (quase menos 10 minutos, com um final diferente) que o visto em França.
Estreou em Itália com menos 20 minutos, mas mesmo assim o filme foi um grande sucesso.
Estreou no Reino Unido com o título “The Sinners”, com fraca recepção nas bilheteiras.
É o primeiro filme francês de Jane Birkin.
O sucesso do filme revitalizou a carreira de Romy Schneider.
Mais um reencontro cinematográfico entre Alain Delon e Romy Schneider. Alain & Romy namoraram entre 1958 e 1963.
https://www.vogue.fr/fashion/galerie/the-couple-romy-schneider-and-alain-delon-in-16-pictures
É o quarto de cinco filmes que Alain e Romy fizeram juntos. Foi entre 1958 e 1972.
É o primeiro de nove filmes que Alain Delon e Jacques Deray fizeram juntos. Desses nove, este é o único em que Delon não se envolve também como produtor. Os filmes são “La Piscine” (1969), “Borsalino” (1970), “Doucement les Basses” (1971), “Borsalino& Co” (1974), “Flic Story” (1975), “Le Gang” (1977), “Trois Hommes à Abattre” (1980), “Un Crime” (1993) e “L’ Ours en Peluche” (1994).
Reencontro entre Alain Delon e Maurice Ronet, depois de “Plein Soleil” (1960, de René Clement). Nesse filme, ambos também se confrontam por causa de uma mulher.
Alain Delon voltaria a trabalhar com Paul Crauchet – “Flic Story” e “Le Cercle Rouge” (1970).
Michel Legrand voltaria a compor a música para filmes de Jacques Deray – “Un Peu de Soleil dans l’Eau Froide” (1971) e “Un Homme est Mort” (1972).
Um momento do filme seria usado num spot publicitário a Eau Sauvage, de Christian Dior.
“Swimmming Pool” (2003, de François Ozon, com Charlotte Rampling e Ludivine Sagnier) foi visto como uma reinterpretação de “La Piscine”.
Em 2016 surgiu (???) um remake – “A Bigger Splash”, com realização de Luca Guadagnino (que também faria o remake de… “Suspiria”), com Ralph Fiennes, Tilda Swinton, Matthias Schoenaerts e Dakota Johnson.
Durante as filmagens deu-se o controverso caso da morte do antigo guarda-costas de Alain Delon.
Stephan Markovic foi encontrado morto na via pública. O irmão iniciou um processo contra Delon e alguns dos seus amigos (entre eles, Georges Pompidou, o Presidente da França na época), baseado numa carta que Markovic deixou ao irmão, dizendo-lhe que se fosse morto, seria por culpa de Delon. A Policia não poupou investigações, averiguações e interrogatórios. François Marcantoni (amigo de longa data de Delon) foi incriminado, mas o desenvolver da investigação ilibou-o. Surgiram dados sobre um gangue que tinha alguns problemas com Pompidou. Markovic tinha o vício do jogo e circulava o boato que fazia batota e isso irritou muita gente. Também se falou, pelo facto de ser próximo de Delon, que ele assistia, filmava e fotografava muitas actividades sexuais de muita gente, chegando mesmo a exercer chantagem sobre os visados. Falou-se que a esposa de Pompidou andou apanhada nas imagens de Markovic, o que seria um perigo para Pompidou, pois ele ia a eleições em breve. Também se falou na relação entre Delon e um par de gangsters famosos e poderosos da época (que seriam mortos algum tempo depois de conhecerem Delon).
O caso nunca ficou resolvido.
Alain Delon já não consegue ver este filme. Grande amigo de Romy Schneider e Maurice Ronet (ambos falecidos muito prematuramente), o actor considera demasiado doloroso revê-los no filme e ainda tão jovens.