Título original – Le Bossu
“Le Bossu” (1959; já aqui visto) já tinha ganho um (merecido) estatuto de clássico.
Mesmo assim, decidiu-se avançar com uma nova versão.
Estão lá nomes competentes e até se consegue fazer algo de diferente e mais complexo.
O Conde Philippe de Gonzague, um nobre déspota, move uma tenebrosa conspiração contra o seu primo, o Duque de Nevers.
Mas um conjunto de coincidências do destino levam o cavaleiro Henri de Lagardère a entrar em campo e ajudar a filha do Duque, Aurore.
Uma ajuda que vai durar anos. Mas como derrotar os interesses de Philippe de Gonzague?
Conto dramático e emotivo, à volta de conspirações políticas e palacianas, dramas familiares, com espaço para perseguições, duelos, estratagemas, romance e algum humor.
Esta nova versão mantém alguns elementos de cape et d`épée (principalmente no primeiro acto, onde decorrem as maiores peripécias), dá mais ênfase ao lado dramático de todos os eventos e intervenientes, há mais tempo (mais de 20 minutos face versão de 1959) o que permite mais explicações e acontecimentos mais desenvolvidos, investe mais nas relações Nevers & Lagardére e Lagardére & Aurore.
É um filme mais sério (aqui não temos o equivalente ao personagem cómico de Bourvil na versão de 1959).
Mas calma, pois a seriedade não apaga o (bom) entretenimento (queremos ver se mãe e filha se reencontram, quais os esquemas do corcunda, como se vai castigar o vilão).
Há uma bonita paisagem a ocupar o primeiro acto.
Como sempre nestas coisas (os franceses são tão bons como os ingleses a visualizar os seus clássicos literários de época) há grande luxo na cenografia e guarda-roupa, apoiados por uma fotografia muito correcta (não traz aquele brilho e cores quentes como nos 50s e 60s, mas procura um certo realismo face à época retratada).
Philippe De Broca bem percebia de acção (é dele essa eterna referência “L`Homme de Rio”, com Jean-Paul Belmondo) e ei-lo mais uma vez capaz, agora a acrescentar uma conseguida emotividade.
O elenco cumpre muitíssimo bem.
Daniel Auteuil não tem a destreza de Jean Marais, mas sai-se muito bem a compor um homem inicialmente charlatão e oportunista, para depois se tornar um protector devoto.
Fabrice Lucchini é sempre magistral como vilão mesquinho, avarento e ganancioso.
Marie Gillain é um pequeno miminho.
Esta nova versão segue por vias narrativas mais complexas, procurando equilibrar emoções, relações, motivações, eventos e peripécias.
É um filme narrativa e emocionalmente mais rico que a versão de 1959, mas esta ganha pelo lado do entretenimento cape et d`épée (é mais dinâmico, mais divertido, com mais acção e tem Jean Marais e Bourvil).
O espectador fica a ganhar, pois recebe dois óptimos filmes vindos da mesma origem.
Considero mesmo um empate entre os dois “Le Bossu”.
“Le Bossu” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, a bom preço.
Realizador: Philippe de Broca
Argumentistas: Philippe de Broca, Jean Cosmos, Jérôme Tonnerre, a partir do romance de Paul Féval
Elenco: Daniel Auteuil, Fabrice Luchini, Vincent Perez, Marie Gillain, Yann Collette, Jean-François Stévenin, Didier Pain, Charlie Nelson, Claire Nebout, Philippe Noiret
Trailers
Orçamento – 25 milhões de Dólares
Bilheteira – 2.3 milhões de Espectadores (França); 32 milhões de Dólares
Nomeado para “Melhor Filme Estrangeiro”, nos BAFTA 1999. Perdeu para “Central do Brasil”.
“Melhor Actor” (Vincent Perez), no Festival de Cabourg Romantic 1998.
“Melhor Guarda-Roupa”, nos César 1998. Ainda concorreu a “Melhor Filme” (perdeu para “On Connaît la Chanson”), “Melhor Actor” (Daniel Auteuil perdeu para André Dussollier em “On Connaît la Chanson”), “Melhor Actriz” (Marie Gillain perdeu para Ariane Ascaride em “Marius et Jeannette”), “Melhor Actor Secundário” (Vincent Perez perdeu para Jean-Pierre Bacri em “On Connaît la Chanson”), “Melhor Música” (perdeu para “Western”), “Melhor Fotografia” (perdeu para “The Fifth Element”), “Melhor Cenografia” (perdeu para “The Fifth Element”), “Melhor Montagem” (perdeu para “On Connaît la Chanson”).
O conto de Paul Féval foi editado em 1857, em capítulos, no jornal “Le Siècle”, tendo sido um grande sucesso.
A primeira adaptação cinematográfica deu-se em 1913, realizada por Andre Heuze. Houve mais seis adaptações – em 1925, por Jean e Henriette Kemm, com Gaston Jacquet; em 1934, por René Sti, com Robert Vidalin; em 1944, por Jean Delannoy, com Pierre Blanchar; em 1952 surge “Le Fils de Lagardère”, por Fernando Cerchio; em 1955 surge “Le Serment de Lagardère”, por León Klimovsky, com Rossano Brazzi e Carlos Cores. A mais famosa é a de 1959, de André Hunebelle, com Jean Marais e Bourvil.
Vincent Perez voltaria a participar numa nova versão de um clássico francês do género Cape et d`Épée – “Fanfan la Tulipe”, feito em 2003, ao lado de Penélope Cruz; o filme refazia o clássico de 1952, com o mesmo título, assinado por Christian-Jaque, com Gérard Philipe e Gina Lollobrigida.
Filmado em Hautes-Alpes, Château-Ville-Vieille, Le Mans e Paris.
O filme foi um pequeno sucesso, sendo elogiado pela crítica, que o mediu muito bem face ao clássico com Jean Marais.
Sobre Paul Féval
https://www.goodreads.com/author/show/401097.Paul_F_val_p_re
https://www.fantasticfiction.com/f/paul-feval/
[…] conto teria uma nova (e óptima) versão em 1997 (já aqui vista), realizada por Philippe de Broca, com Daniel Auteuil, Vincent Perez, Marie Gillain e Fabrice […]