O Comboio das Três e Dez (1957)

 

 

Título original – 3:10 to Yuma

 

Western que pega numa situação simples, mas de enorme suspense.

 

Dan Evans é um simples rancheiro, em luta contra os elementos e pressões financeiras, que procura dar o melhor à esposa e aos filhos.

Ben Wade é o líder de um grupo de ladrões de diligências, que foi detido pelo Marshal.

Perante o avultado valor de recompensa, Evans aceita fazer a escolta de Wade até ao comboio que o leva para a prisão.

Mas Wade vai manipular Evans. E os compinchas de Wade estão no terreno.

Situação de aperto que poderia ser a de um suspense thriller (que no fundo é, mas adaptado ao tempo dos cowboys), desenvolvido para um apurar de tensão crescente, plena de definição dos personagens antagonistas.

É uma jornada de afirmação de um homem (marido e pai), em luta pela salvação do seu património (as leis da Natureza não o ajudam, há dívidas financeiras), mas acima de tudo na afirmação do seu valor enquanto herói (aos olhos dos filhos) e da sua integridade (a vontade de decidir fazer o trabalho até ao fim, apesar das adversidades e hostilidades).

É uma acção de educação de um foragido (o jantar em família, com os petizes e ensinarem-lhe boas maneiras), na valorização de algo que é acima de dinheiro (é o que o mobiliza e é com ele que o pistoleiro acredita comprar a ajuda do agricultor).

É um duelo de astúcias, visões e éticas, onde se pode ver algo de alguma essência do film noir (a tentação da corrupção, a povoação sem lei & ordem, a lógica do poder pela força e pela bala, a incompetência das autoridades, o cidadão comum a ser vítima de todo aquele mal, mas a conseguir estar acima dele).

Os minutos finais mexem com a tensão cardíaca.

Excelente fotografia.

A canção de Frankie Laine dá o devido tom tenso.

Delmer Daves foi, em conjunto com Anthony Mann, um dos pioneiros da abordagem psicológica no Western, sem descurar os (bons) arquétipos do género. Daves (tal como Mann com James Stewart, Budd Boeticher com Randolph Scott, John Ford com John Wayne, Howard Hawks com John Wayne) criou uma parceria relevante no género com Glenn Ford (fizeram 3 filmes juntos – “Jubal”, “3:10 to Yuma”, “Cowboy”).

Daves vai directo ao assunto e ao seu essencial (a duração é inferior a 90 minutos), sempre com respeito pelos personagens, pelas suas emoções e motivações, conseguindo uma enorme tensão (principalmente no último terço – as conversas e iniciativas no hotel).

Este é um dos seus melhores trabalhos.

Glenn Ford e Van Heflin estão em topo de forma, entregando duas das suas melhores interpretações.

Ford (o actor era sempre um rosto e presença serena e tranquila em todos os filmes) surpreende pela vilaneza educada (a forma como conversa com a barman e com a Mrs. Evans) e pela letalidade súbita. Heflin apresenta tranquilidade, mas com algo de brutal pronto a explodir.

O restante elenco acompanha-os muito bem.

É uma coboiada bem plena de suspense, a saber usar muito bem o duelo psicológico e moral dos dois protagonistas.

 

“3:10 to Yuma” tem edição portuguesa, a bom preço. Pode ser uma raridade. Algumas edições europeias têm legendas em Português.

Realizador: Delmer Daves

Argumentista: Halsted Welles, a partir do conto de Elmore Leonard

Elenco: Glenn Ford, Van Heflin, Felicia Farr, Leora Dana, Henry Jones, Richard Jaeckel, Robert Emhardt

 

Trailer

 

Clips

 

O genérico com a canção de Frankie Laine

 

Elmore Leonard sobre 3:10 to Yuma

 

Bilheteira – 4 milhões de Dólares

Mercado doméstico – 1.85 milhões de Dólares

 

Nomeado para “Melhor Filme”, nos BAFTA 1958. Perdeu para “The Bridge on the River Kwai”.

“Queer Train – Melhor Filme”, no Festival de Faro 1957. Esteve nomeado para “Golden – Melhor Filme”, mas “Smultronstället” (de Ingmar Bergman) foi o eleito.

Nomeado para “Top Action Drama”, nos Laurel 1958. Perdeu para “Gunfight at the O.K. Corral”. Van Heflin tentou ser o “Top Male Action Star”, mas Burt Lancaster foi o eleito, por “Gunfight at the O.K. Corral”.

“Filme a Preservar”, pelo National Film Preservation Board 2012.

O conto de Elmore Leonard foi publicado em 1953, na “Dime Western Magazine”. É a história de um Deputy Sheriff a guardar um ladrão de 21 anos. Muita da acção passa-se num quarto de hotel.

Leonard já contava com uma outra (excelente) adaptação ao Western – “The Tall T.”, feito em 1956, com realização de Budd Boetticher, com Randolph Scott.

“Hombre” (1967, com Paul Newman), “Joe Kidd” (1972, de John Sturges, com Clint Eastwood) e “Mr. Majestyk” (1974, com Charles Bronson) também foram felizes adaptações cinematográficas a partir de Leonard.

Quentin Tarantino é grande fã do escritor (“Jackie Brown” adapta um romance do escritor).

 

O conto foi comprado por David Heilweil para a The Associates and Aldrich (a companhia de Robert Aldrich).

Halstead Welles elaborou o argumento

Aldrich vendeu o argumento à Columbia por 100.000 Dólares.

 

Glenn Ford tinha sido escolhido para o personagem Dan Evans, mas recusou e preferiu o de Ben Wade. Van Heflin foi então chamado para ser Evans.

Reencontro de Delmer Daves com Glenn Ford e Felicia Farr (ambos vinham de “Jubal”, ela vinha também de “The Last Wagon”).

Frankie Laine volta a cantar uma canção feita para um Western – tinha-o feito para “Man Without A Star” e “Gunfight at the O.K. Corral”.

Segundo filme, de três, que Delmer Daves e Glenn Ford fazem em conjunto – “Jubal” (1956), “3:10 to Yuma” (1957), “Cowboy” (1958). Todos são Westerns.

Apesar de já haver cor e muitos westerns já serem filmados a cores, Delmer Daves e o seu director of photography Charles Lawton Jr. decidiram que o filme fosse a P&B. Lawton usou filtros vermelhos, o que dava à imagem um tom mais luminoso.

 

A crítica foi muito entusiástica ao filme, nomeadamente à interpretação de Glenn Ford. Van Heflin também foi muito elogiado, mas Ford era preferido.

Houve quem criticasse o final, pela sua falta de credibilidade.

 

A prisão de Yuma abriu em 1 de Julho de 1876, tendo encerrado em 15 de Setembro de 1909. Albergou cerca de 3.000 presidiários um par de dúzias de mulheres. Os crimes iam de assassínio a poligamia. Actualmente é um parque e museu nacional.

A palavra “Yuma” entrou no léxico cubano – refere-se aos turistas americanos.

“3:10 to Yuma”, em conjunto com “High Noon” (1952), são os principais “culpados” por Howard Hawks decidir fazer “Rio Bravo” (1959), conseguindo assim que houvesse um regresso a westerns mais optimistas.

 

“3:10 to Yuma” teria um (excelente) remake em 2007 (já aqui visto). James Mangold realiza, sendo Russell Crowe e Christian Bale os protagonistas. Seria também muito elogiado pela crítica.

 

Sobre Elmore Leonard

https://www.elmoreleonard.com

https://www.britannica.com/biography/Elmore-Leonard

https://www.goodreads.com/author/show/12940.Elmore_Leonard

https://www.fantasticfiction.com/l/elmore-leonard/

 

One comment on “O Comboio das Três e Dez (1957)

  1. […] to Yuma” (1957; já aqui visto) já tinha (bom) […]

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