O Homem das Pistolas de Ouro (1959)

 

 

Título original – Warlock

 

Dois grandes nomes do Western (e do Cinema) em confronto.

 

A cidade de Warlock vive em pânico devido às acções de um gang local.

Um famoso pistoleiro é contratado para impor a Lei & Ordem.

Mas os seus métodos são algo radicais e vão entrar em conflito com a população local.

O tema da cidade sem lei nem ordem é um clássico do Western.

Ele é abordado aqui, mas com o requinte, detalhe e profundidade mais típicos de um melodrama.

A haver um Western que aborde com rigor e complexidade o tema da Lei & Ordem e do pistoleiro, é “Warlock”.

De facto, o filme cria uma história densa, plena de nuances onde se reflecte sobre tais temas, os prós e contras no recurso a métodos pouco ortodoxos, os efeitos causados pelo “pacificador”, os jogos (sociais e políticos) que tal suscita, os interesses locais, os novos rumos.

Mas é óbvio que “Warlock” não é (felizmente) um “filme-tese”, pelo que nunca perde a sua dimensão cinematográfica ligada ao (bom) entretenimento.

Temos um realizador veterano e que sabe o que anda a fazer, há um elenco de luxo que capta a atenção do espectador, há uma história envolvente, e, claro, estamos mesmo no terreno do Western.

Há vilões para afastar da cidade, sim.

Há um gunfighter implacável em cena, sim.

showdowns, sim.

Mas por aqui fala-se no fim da era dos gunfighters, na urgência de Lei & Ordem civilizada, de coragem e medo, do poder de acção da comunidade, do certo e do errado, de popularidade como “herói” ou “cobarde”, do cansaço do gunfighter em ser herói.

Para “coboiada”, já se entra aqui nalguma desmistificação de muitos dos seus arquétipos (o gunfighter não é lá muito simpático e bem visto pela povoação). Não se entra pelos caminhos do Western-Spaghetti ou de Sam Peckinpah (aqui é tudo limpinho), mas já quase se antecipa a desmistificação que Clint Eastwood faria ao Western em “Unforgiven” (1992).

Fala-se (principalmente hoje-em-dia, era de muita mente “arejada”) na (eventual) homossexualidade do assistant do gunfighter.

Deixando de fora idiotices que nada têm a ver com a narrativa (sim, há filmes onde tal tema está presente – de forma subtil ou aberta), sim, a relação entre ambos é complexa, sendo também ela desmistificadora do mito do pistoleiro (em “Warlock”, este é sempre salvo pelo seu assistente, que lhe trata também do “marketing” e da agenda sócio-política).

Estamos longe das amizades vistas nos Westerns de Howard Hawks e John Ford. Pode-se mesmo considerar que é menos amizade e mais uma parceria profissional, onde ambos lucram, mas com um a dar conta que nada tem e/ou consegue sem ela.

Temos assim uma das mais profundas, complexas e estranhas relações, não apenas do Western, mas também do Cinema.

O que ainda reforça mais o tom atípico desta “coboiada”.

Excelente fotografia, em magnífico CinemaScope.

Edward Dmytryk era um todo-o-veterano versátil para quase todo o género. Ei-lo em boa forma, a gerir muito bem alguns dos arquétipos do western (a tensão nos showdowns) e a (forte) carga emocional na confrontação humana.

Muito bom elenco, em muito boa prestação.

Richard Widmark, Henry Fonda e Anthony Quinn, que já eram lendas vivas do Cinema e do género, dominam. As confrontações entre eles são grande prova da qualidade da escrita e das capacidades destas movie legends.

Dorothy Malone e Dolores Michaels entregam bem a sua beleza e sentimentalismo.

Tão western como melodrama, tão capaz de entretenimento como profundo nas suas emoções, “Warlock” é uma “coboiada” diferente, intimista e desmistificadora, sendo um dos mais relevantes Westerns e um dos primeiros a fazer a desconstrução dos seus clichés.

 

“Warlock” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados a bom preço.

Realizador: Edward Dmytryk

Argumentista: Robert Alan Aurthur, a partir do romance de Oakley Hall (“Warlock”)

Elenco: Richard Widmark, Henry Fonda, Anthony Quinn, Dorothy Malone, Dolores Michaels, Wallace Ford, Tom Drake, Richard Arlen, DeForest Kelley, Regis Toomey, Vaughn Taylor, Don Beddoe, Whit Bissell

 

Trailer

 

Filme

 

Orçamento – 2.4 milhões de Dólares

Mercado doméstico – 1.7 milhões de Dólares

 

John Wayne chegou a ser anunciado como protagonista.

Primeiro filme de Gary Lockwood.

Filmado e passado no Utah.

Filmado em DeLuxe Color e CinemaScope.

Segundo Edward Dmytryk, Henry Fonda era de tal modo rápido a sacar a arma, que Dmytryk tinha de suavizar o movimento na montagem para que o público percebesse o movimento.

A Princesa Sofia da Grécia visitou o set. Num dia, DeForest Kelley caiu de uma cadeira e disse “Oh, shit.” em frente à Princesa, o que deixou Kelley embaraçado. Henry Fonda tranquilizou-o, pois descobriu que a Princesa não sabia o significado dessa palavra.

O salário que Clay Blaisedell pede (400 Dólares por mês) era muito elevado para a época.

Num momento, Tom Morgan diz “To-morrow, and to-morrow, and to-morrow, / Creeps in this petty pace from day to day / To the last syllable of recorded time” – tal vem de “Macbeth”, Acto V, Cena V, de William Shakespeare.

Edward Dmytryk afirmou que a conotação (eventualmente) gay do argumento não era intencional.

Richard Widmark e Henry Fonda reencontrar-se-iam várias vezes – além deste “Warlock”, ainda os veríamos juntos em “How the West was Won” (1962), “Madigan” (1968), “Rollercoaster” (1977) e “The Swarm” (1978).

Curiosamente, ambos estiveram casados com a mesma mulher – Susan Blanchard.

Henry Fonda faria uma paródia do seu personagem em “My Name is Nobody” (1973, com Terence Hill).

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