Nos Bastidores de Nova Iorque (1948)

 

 

Título original – The Naked City

 

Um dos mais relevantes policiais de sempre, bem renovador e influente.

 

Perante o brutal assassinato de uma mulher, uma brigada de homicídios da Polícia de Nova Iorque inicia todos os procedimentos para a descoberta do assassino.

Policial urbano, que ao pegar num caso típico (um assassinato, uma investigação) cria uma sensação documental sobre o processo de investigação policial e toda a dinâmica urbana de Nova Iorque, mostrando vários cenários da cidade que se ligam com o caso.

Poderia ser mais um (bom) exemplar do género, mas o filme adquire uma dimensão realista algo rara na época, precisamente pelo total shoot on location, fugindo assim das recriações em estúdio.

A par do desenrolar do caso criminal, há sempre espaço para a dimensão humana dos participantes (o police comissioner que tem sempre uma perspectiva irónica sobre tudo, o agente ainda novato mas empenhado e com família, os pais da vítima e a sua dor, a noiva do suspeito e a sua dedicação).

Excelente fotografia.

Atmosférica música do grande Miklos Rozsa.

O final praticamente que antecipa “Bullitt”, “Dirty Harry” e “The French Connection” (que é justo dizer que são “bons alunos” de “The Naked City”, sendo também “papás” do policial moderno).

O filme tem no argumento e na realização nomes que seriam perseguidos pelo McCarthism, o que os levava a serem pessoas consideradas anti-americanas.

O filme não é um panfleto sobre tal movimento, mas não deixa de ser irónico que tais pessoas tenham feito um filme tão pró-americano e aos seus valores – vemos um conto sobre os valores da Lei & Ordem, do castigo de quem quer violar valores all american, da dinâmica e estabilidade familiar, emocional e sentimental.

“The Naked City” é um policial. É uma história policial.

Mas, e tal como o título (original) indica, é um conto sobre uma cidade. Uma cidade, que devido ao caso policial em causa (e certamente, muitos mais, antes e depois – e a homónima série televisiva que deriva do filme bem soube explorar tal) fica naked perante todos os envolvidos, fica exposta pelos autores do filme, fica à mostra do espectador.

“The Naked City” é, assim, também uma carta de amor a Nova Iorque.

Jules Dassin entrega ao filme vigor, realismo, detalhe, atenção.

Dassin pega em elementos técnico-estéticos vindos do neorealismo, adapta-os à realidade nova-iorquina e ao policial, e praticamente que antecipa a nouvelle vague, o free cinema, bem como o trabalho e o estilo de filmar a Big Apple que outros cineastas futuros empregariam (John Cassavetes, Woody Allen, Sidney Lumet, Martin Scorsese).

Assim sendo, Dassin não só faz grande realização e cinema, como é também (bem) avant garde.

Óptima prestação do elenco, com destaque para um esplêndido Barry Fitzgerald (sempre mordaz nas suas saídas), bem acompanhado por um empenhado Don Taylor e um amargurado Howard Duff.

“The Naked City” deu origem a uma (excelente) série (bem emblemática e referencial, diga-se). O filme quase pode ser visto como o Pilot para ela.

E praticamente que pode ser vista como um papá das muitas e boas séries policiais que se fizeram depois, sempre com cuidado nos detalhes logísticos, humanos e urbanos, procurando o máximo de realismo (“The Streets of San Francisco”, “Hill Street Blues” e “NYPD Blue” são só três simples e grandes exemplos).

 

Um clássico, bem inovador, que ainda é modelo.

 

“The Naked City” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, a bom preço.

Realizador: Jules Dassin

Argumentistas: Albert Maltz, Malvin Wald

Elenco: Barry Fitzgerald, Howard Duff, Dorothy Hart, Don Taylor, Frank Conroy, Ted de Corsia, House Jameson

 

Trailer

 

Clips

 

Bilheteira – 2.4 milhões de Dólares

 

“Melhor Fotografia – P&B”, “Melhor Montagem”, nos Oscars 1949. Concorreu a “Melhor Argumento”, mas perdeu para “The Search”.

Nomeado para “Melhor Filme”, nos BAFTA 1949. Perdeu para “Hamlet”.

Nomeado para “Melhor Drama Americano”, pelo Writers Guild of America 1949. Perdeu para “The Snake Pit”.

“Filme a Preservar”, pelo National Film Preservation Board 2007.

É o primeiro filme de Ted de Corsia, Kathleen Freeman, Bruce Gordon, James Gregory, Nehemiah Persoff, John Randolph, Walter Burke, Cavada Humphrey, Anne Sargent e Adelaide Klein. Poucos deles recebem crédito no genérico.

É o último filme de Grover Burgess e de Celia Adler.

 

Filmado em 84 dias, no Verão de 1947.

O filme foi todo filmado em Nova Iorque, em interiores e exteriores, sem recurso a estúdio.

Muitas das pessoas vistas são habitantes da cidade e não sabiam que estavam a ser filmados. O director of photography William H. Daniels tinha as câmaras escondidas numa furgoneta. Para distrair as pessoas, Jules Dassin contratava pessoas para trepar a postes e fazer discursos na rua.

Mark Hellinger (o produtor) estava presente no set todos os dias.

 

O estilo visual do filme inspira-se no trabalho do fotógrafo Arthur “Weegee” Fellig sobre Nova Iorque, com o titulo… “Naked City”, editado em 1945.

Fellig foi contratado como consultor.

Segundo o historiador William Park, o estilo visual do filme é mais derivado do neo-realismo do que do estilo de Fellig.

 

Stanley Kubrick (ainda jovem) estava no set a tirar fotografias para a revista “Look” (Kubrick foi fotojornalista antes de ser cineasta).

O seu filme “The Killing” (1956) conta com Ted de Corsia no elenco.

Quando Kubrick fez “Doctor Strangelove” (1964), Fellig era o consultor para os special effects.

A narração é do produtor Mark Hellinger.

Barry Fitzgerald tinha uma estatura abaixo (1.6 metros) do que era o mínimo exigido (1.76 metros) na Polícia de Nova Iorque.

No plano em que se vêem os tenistas a jogar, tal imagem não é por acaso ou sorte. Jules Dassin contratou vários extras para jogarem ténis.

George Bassman, conhecido de Dassin, era o compositor inicial. Mas Hellinger não gostou da música e chamou Miklós Rózsa.

Mark Hellinger faleceria em Dezembro de 1947, dias depois de ter visto o final cut do filme. Tinha 44 anos.

Perante o falecimento de Hellinger, a Universal Pictures ponderou arquivar o filme, pois não tinha grandes expectativas e acreditava num flop. Mas a família de Hellinger recordou o estúdio da cláusula “guarantee of release“, o que obrigava o estúdio a estrear o filme. Sem escolha, a Universal estreou o filme e este foi um sucesso de público e critica, além de ter recebido Oscars.

O impacto do filme foi tal, que a Universal logo usou a premissa narrativa (e técnico-estética) para fazer uma série televisiva, com o mesmo título. Estreou em 1958 e durou 4 temporadas, num total de 138 episódios. Foi um enorme sucesso, ganhou prémios e elogios, sendo um clássico da Televisão, que fez escola.

Na homónima série televisiva, os personagens Muldoon e Halloran regressam, mas com os rostos de John McIntire e James Franciscus.

O Detective Perelli (interpretado por Tom Pedi) é a inspiração do personagem Detective Frank Acaro (interpretado por Harry Bellaver) na série “Naked City” (1958).

 

O jogo “L.A. Noire” (2011) usa uma narrativa semelhante a “Naked City”.

É um dos primeiros filmes a ter um genérico final onde surgem os nomes que habitualmente surgem no inicial.

Segundo a “Life”, o filme é uma carta de amor a Nova Iorque por parte de Mark Hellinger.

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