Beijo da Morte (1995)

 

 

Título original – Kiss of Death

 

“Kiss of Death” (1947, já aqui visto) já tinha bom estatuto como clássico do género.

Alguém se lembrou de um remake.

E conta com bons nomes.

 

Jimmy Kilmartin já pagou por alguns erros que cometeu na vida e quer uma vida sossegada com a esposa e a filha.

Mas quando um primo lhe pede um favor para um transporte ilegal, Jimmy vê-se metido numa acção policial e vai preso.

Jimmy mantém-se fiel a uma ética pessoal e não denuncia os seus colegas. Mas devido a uma tragédia, Jimmy aceita infiltrar-se na organização criminosa de Little Junior, um violento criminoso.

Por oposição ao original (que é um melodrama noir), o remake assume constantemente que estamos num noir criminal e policial.

Mas não estamos isentos de drama – o protagonista reconhece os seus erros e procura a redenção, sempre dedicado à família, pondo-a como prioridade.

É o drama de um homem que vê sempre a sua vida caída na desgraça, por cada vez que procura ajudar quem lhe pede ajuda.

Resulta bem o duelo moral entre o ser bufo ou cúmplice.

O dilema humano convence.

A trama criminal/policial envolve.

Mas como mencionei, esta nova versão, ainda que saiba criar drama, nunca cessa de ser um thriller policial e criminal, pegando no tema do infiltrado e dos diversos jogos que tal suscita, sempre pleno de ritmo, tensão, acção e intriga.

E até tem espaço para surpresas (uma das vítimas e a sua identidade, os jogos das autoridades e do poder judicial).

David Caruso vinha da sua popularidade televisiva com a emblemática (e premiada) série “NYPD Blue” (criada por Steven Bocchco, o mesmo de “Hill Street Blues”) e procurava afirmar-se no grande ecran (no mesmo ano de 1995, fez “Kiss of Death” e “Jade”). Caruso faz uma óptima estreia, mostra carisma e capacidade como leading man e action hero, oferendo boa entrega dramática.

Nicolas Cage cria o típico vilão que ele tão bem sabe criar – excessivo, louco, divertido, violento, num magnífico exercício de demencial overacting. E tem um momento quase ao nível do seu equivalente no original (o espancamento mortal).

Cada um tem dos seus melhores trabalhos.

Há bons nomes nos secundários e portam-se bem.

Barbet Schroeder não é um nome que associemos ao noir, mas o realizador faz um bom trabalho. Já víramos o jeito para um suspense psicológico (“Single White Female”, em 1992) e veríamos o seu jeito para um suspense mais actioner (“Desperate Measures”). Schroeder consegue manter um pulso vivo quase de action thriller, procura uma sensação de autenticidade com os locais, mantém um tom e mostra cuidado com os personagens.

É uma correcta modernização de um clássico do Fim Noir, numa hábil combinação de drama e thriller, apoiada no talento e carisma do par protagonista.

“Kiss of Death” é um remake. Tem vários méritos, mas vamos ver como se mede face ao original:

  • o argumento segue os mesmos caminhos, com o original a carregar no drama (o protagonista é viúvo, conquista um novo amor, tem filhas e procura retomar vida com elas) e o remake a seguir mais uma via policial clássica (o infiltrado numa organização criminal).
  • realização com punch nos dois casos, devidamente filiadas nas tendências estéticas do género, nas respectivas eras.
  • os actores protagonistas rivalizam muito bem – David Caruso e Victor Mature demonstram bem o dilema moral e emocional dos seus personagens (ambos são homens de família e procuram o melhor para ela); Nicolas Cage e Richard Widmark criam vilões astutos, brutais, repulsivos e perturbantes, mas cinematograficamente fascinantes, em plena sintonia com o savoir-faire dos dois actores (Cage é sempre explosivo e temível, Widmark parece que pode explodir a qualquer momento e tem aquela arrepiante risada).

 

Em termos de qualidade de filme enquanto exemplar do género, é praticamente um empate. Ambos são dignos exemplares do Noir, com estilos diferentes, pois são de épocas diferentes. O trabalho dos actores equipara-se.

Mas o original chegou primeiro, alcançou grande nível cinematográfico e estatuto. A modernização é boa, mas com pouco de novo, ainda que saiba ser inteligente nas variações narrativas.

Assim sendo, vitória do “Kiss of Death” de 1947. Mas a versão de 1995 merece visão.

 

“Kiss of Death” tem edição portuguesa, a bom preço.

Realizador: Barbet Schroeder

Argumentista: Richard Price, a partir do argumento criado por Eleazar Lipsky, Ben Hecht, Charles Lederer

Elenco: David Caruso, Samuel L. Jackson, Nicolas Cage, Helen Hunt, Kathryn Erbe, Stanley Tucci, Michael Rapaport, Ving Rhames, Philip Baker Hall, Anthony Heald

 

Trailers

 

Clips

 

Orçamento – 40 milhões de Dólares

Bilheteira – 15 milhões de Dólares

 

David Caruso foi nomeado (que exagero!!! e injustiça!!!) para “Pior Nova Estrela”, nos Razzie 1996. Perdeu para Elizabeth Berkley (outro exagero e injustiça) em “Showgirls”.

Remake de “Kiss of Death” (1947), de Henry Hathaway, com Victor Mature, Richard Widmark, Coleen Gray e Brian Donlevy.

Tal como o original, o remake também é produzido pela 20th Century Fox.

Richard Price escreve este remake de “Kiss of Death”. Também escreveu, em 1992 o remake de “Night and the City” (1950). Ambos os originais contam com Richard Widmark.

David Caruso estava popular com a série “NYPD Blue” (1993-2005) e deixou a série com o intuito de começar uma carreira cinematográfica. No mesmo ano faria “Jade” (de William Friedkin). Tanto esse como “Kiss of Death” falharam nas bilheteiras. Os esforços de Caruso numa carreira cinematográfica ficavam gorados e Caruso regressou à Televisão, onde voltou a triunfar, com a série “C.S.I.: Miami” (2002-2012).

Caruso recebeu 1 milhão de Dólares.

David Caruso e Nicolas Cage partilham a mesma data de aniversário.

 

Reencontro entre Nicolas Cage e Samuel L. Jackson, depois de “Amos & Andrew” (1993).

Ving Rhames, Samuel L. Jackson e Paul Colderon reencontram-se, depois de “Pulp Fiction” (1994).

Nicolas Cage e Ving Rhames reencontrar-se-iam em “Con Air” (1997).

David Caruso e Ving Rhames reencontrar-se-iam em “Body Count” (1998, com Linda Fiorentino, que tinha trabalhado com Caruso em “Jade”).

No mesmo ano, Nicolas Cage faria “Leaving Las Vegas” e ganharia o Oscar para “Melhor Actor”.

 

No início do filme, o personagem de David Caruso percorre a mesma rua que o seu equivalente interpretado por Victor Mature no original “Kiss of Death”.

Num par de momentos, vêem-se dois filmes na televisão – são “The Driver” (1977, de Walter Hill) e “The French Connection” (1971, de William Friedkin), dois clássicos do thriller urbano.

 

Foi mostrado em Cannes 1995.

One comment on “Beijo da Morte (1995)

  1. […] filme teve um (muito bom, diga-se) remake em 1995 (já aqui visto). “Kiss of Death”, de Barbet Schroeder, com David Caruso, Nicolas Cage, Samuel L. Jackson […]

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