Título original – Lisbon
A nossa capital é cenário deste thriller.
Lisboa, 1956.
Robert John Evans é um ex-capitão da Marinha e contrabandista perseguido pelas autoridades portuguesas.
Um milionário grego contrata Evans para salvar o marido de Sylvia Merrill.
Mas há muitos interesses estranhos e contraditórios em tal.
Thriller romântico, que bem poderia ser escrito por Graham Greene, com o factor cativante de se passar na nossa Lisboa, em plenos 50s.
Temos bonitos “bilhetes-postais” (a alegria e simpatia do povo lisboeta, as casas de fado, os restaurantes de luxo, os hotéis de luxo, os monumentos, as panorâmicas da cidade, as avenidas – com pouco trânsito), a evidenciarem algo do que cumpria a “beleza lusitana” do Estado Novo (claro que o negrume da época não é retratado, pelo que o filme tem o seu lado “panfletário” – uma obrigação se a produção queria filmar cá).
A intriga parece de espionagem ou criminal, mas acaba por ser uma história de pessoas e os esforços que movem, através da manipulação de sentimentos, pelos seus interesse$.
Sente-se algo derivado de “To Have and Have Not” – ambiente de intriga, protagonista (íntegro) com um barco, perseguição das autoridades locais, vilão manipulador, um resgate em ambiente aquático, conflitos, lealdades e traições, donzelas ariscas.
Bonita fotografia (com uma ajudinha da nossa, e excelente, Tobis) e cenografia (a ilustrar a beleza da época em matéria de interiores).
Ray Milland assina com eficácia.
O trio de protagonistas é de respeito.
Claude Rains é aquele vilão refinado que ele sabia tão bem interpretar.
Ray Milland coloca a sua habitual simpatia e charme, e quase que antecipa Sean Connery como 007.
Maureen O`Hara está linda como sempre (aqueles lábios vermelhos…, aqueles cabelos ruivos…), bem forte e dedicada, mas com uma perigosa ambiguidade.
Um simpático e romântico filme, com algo de “alma lusitana”.
“Lisbon” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, a bom preço.
Realizador: Ray Milland (como R. Milland)
Argumentistas: John Tucker Battle, Martin Rackin
Elenco: Ray Milland, Maureen O’Hara, Claude Rains, Yvonne Furneaux,
Francis Lederer, Percy Marmont, Jay Novello
Filme
Em 1953, era um projecto da Paramount Pictures, planeado para Joan Crawford como protagonista, com Nicholas Ray como realizador.
Nicholas Ray e Joan Crawford seguiram para “Johnny Guitar” (1954).
Filmado em Lisboa.
Salazar exigiu que só certas partes da cidade fossem filmadas e certos aspectos da cultura e sociedade da época.
A casa de Aristides Mavros é a do banqueiro Ricardo Ribeiro do Espírito Santo e Silva.
Alguns interiores são filmados nos estúdios da Tobis.
É a primeira produção de Hollywood feita em Portugal.
Filmado em Trucolor e Naturama, dois sistemas (de cor e lentes, respectivamente) desenvolvidos pela Republic Pictures nos 40s e 50s.
Era o segundo filme de Ray Milland como realizador, depois de “A Man Alone” (1955).
Milland tinha um contrato de realizar um filme por ano, ao longo de quatro anos.
Milland queria Mary Murphy como co-protagonista (tinham trabalhado juntos em “A Man Alone”).
Maureen O’Hara gostou da experiência e de interpretar a personagem. Segundo ela, seguiu um conselho de Bette Davis – “bitches are fun to play“.
Nelson Riddle já tinha feito uma nova versão de “Lisboa Antiga” e era um sucesso. A Republic interessa-se em tal e Ray Milland conseguiu ter uma orquestra para gravar o momento em que ela se ouve.
Anita Guerreiro canta “Lisboa Antiga” numa cena.
No mercado doméstico, algumas edições tinham na cover a tagline “After Casablanca they all came to… Lisbon” (de facto, nesse clássico de Michael Curtiz muita gente queria fugir de Casablanca para… Lisboa).