Título original – Bring Me the Head of Alfredo Garcia
Sam Peckinpah assina aqui o seu filme mais estranho e um dos seus mais complexos.
Um pianista de bar e a sua namorada metem-se na senda de um gigolo mexicano, sobre o qual cai uma vasta recompensa pela sua cabeça.
Tal valor vai despoletar muitos interesses.
E balas. E sangue. E (muitos) cadáveres.
Pegando numa ideia digna de um bom Western ou Actioner (géneros onde Sam Peckinpah até ditou muitas, boas e novas regras), o “Poeta da Violência” tece uma análise sobre os mecanismos da violência, da ganância e do vazio existencial que só parece ganhar preenchimento com tais acções e motivações.
Como sempre no seu Cinema, é também uma crónica de losers, de gente solitária/só, à deriva e à margem, em busca da sua big break ou last gasp.
Aqui tal ganha contornos de love story, profunda, desesperada e tardia.
Warren Oates (um habituée de Peckinpah) tem aqui uma das suas melhores interpretações – irónico, violento, desesperado, só.
Isela Vega entrega forte emotividade latina.
Sam Peckinpah dirige com garra, dando ao filme um look sujo e feio, onde tudo parece vago, seco, oco, desprovido de sentido. Fiel ao seu estilo e Cinema há um par de bons shootouts (com recurso à slow motion, claro), ainda que menos “espectaculares” do que aquilo que ele nos habituou (“The Wild Bunch”, “The Getaway”). O ritmo é bem lento, enfatizando esse remar a nada, o vazio das pessoas e eventos.
Peckinpah quase que antecipa Iñarritu (“Amores Perros”) e os Coen (“No Country for Old Men”).
É uma das obras mais pessoais de Sam Peckinpah, resultando num filme emotivo e brutal.
“Bring Me the Head of Alfredo Garcia” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados a bom preço.
Realizador: Sam Peckinpah
Argumentistas: Gordon T. Dawson, Sam Peckinpah, Frank Kowalski
Elenco: Warren Oates, Isela Vega, Robert Webber, Gig Young, Helmut Dantine, Emilio Fernández, Kris Kristofferson
Trailer
Clips
Orçamento – 1.5 milhões de Dólares
Bilheteira – 18.000 Dólares (mundial)
Mercado doméstico – 700.000 Dólares
Nomeado para “Melhor Actriz” (Isela Vega), nos Ariel 1975. Perdeu para Pilar Pellicer, em “La Choca” (1974, de Emilio Fernández).
A ideia para o argumento veio de Frank Kowalski (amigo de Peckinpah) durante as filmagens de “The Ballad of Cable Hogue” (1970). Kowalski disse apenas que tinha uma ideia (que era apenas o título “Bring Me the Head of…” e que seria uma caça a um gajo já morto). Peckinpah gostou e começou a trabalhar o argumento nas filmagens de “Straw Dogs” (1971). Martin Baum tinha formado a sua companhia independente Optimus Productions e tinha acordo com a United Artists. Peckinpah apresentou-lhe 25 páginas do argumento, Baum gostou e logo se trataram dos acordos finais para a produção.
James Coburn foi considerado como protagonista. Coburn recusou pois não gostou do argumento e até questionou Peckinpah o porquê de semelhante filme. Coburn e Peckinpah tinham trabalhado juntos em “Pat Garrett & Billy the Kid” (1973), voltariam a unir talentos em “Cross of Iron” (1977).
Peter Falk foi considerado como Bennie. Ele mostrou-se interessado, mas estava ocupado com “Columbo” (1971-2003), pelo que teve de recusar.
Kris Kristofferson quase que era substituído por Harry Dean Stanton.
Reencontro entre Warren Oates e Sam Peckinpah, depois de “Ride The High Country”, “The Wild Bunch”.
Oates recebeu 50.000 Dólares.
Oates procurou imitar certos tiques e posturas de Peckinpah, incluindo os óculos do cineasta.
Robert Webber teve a ideia de dar ao seu personagem e ao de Gig Young uma certa ambiguidade gay. Peckinpah alinhou em tal.
Durante as filmagens, Peckinpah disse ao “Variety” que considerava Hollywood inexistente, preferindo trabalhar no México, pois lá tinha mais liberdade. Algumas organizações de Hollywood ficaram chateadas e ameaçaram boicotar a estreia do filme.
Segundo Gordon T. Dawson, Peckinpah já estava altamente viciado em cocaína (tinha sido levado a tal por Oates).
Quase toda a equipa técnica era mexicana.
Peckinpah e o director of photography Álex Phillips Jr. optaram pelo uso de zoom e múltiplos ângulos de câmara.
Peckinpah queria um retrato real, duro e sujo do México.
Quando se baptiza o filho de Alfredo Garcia, sabe-se que o seu nome é David Samuel. Sam Peckinpah é David Samuel Peckinpah.
O bar de Bennie é o “Tlaque-Paque”. Peckinpah gostou do aspecto, apesar da equipa lhe dizer que o dono tinha a reputação de ter morto uma mulher no local.
O carro de Bennie é um Chevy Impala 1962 descapotável.
O saco com a cabeça de Alfredo Garcia tinha um naco de carne. Com o calor e a decomposição, a peça atraía moscas.
No argumento inicial, o destino de Bennie ia ser diferente. Durante as filmagens, Peckinpah mudou de opinião.
Sam Peckinpah afirmou que foi só com este filme que teve liberdade criativa total e fê-lo exactamente como o queria.
É o único filme de Sam Peckinpah onde ele teve direito ao final cut. Todos os seus outros filmes foram reditados pelos estúdios e produtores. Mas muitos deles já tiveram direito ao Director`s Cut.
É o último filme que reúne Sam Peckinpah e Warren Oates. Reencontrar-se-iam em “China 9, Liberty 37” (1978), mas sendo ambos actores do filme (é assinado por Monte Hellman).
Quando se deu a primeira preview, só 10 pessoas estavam na sala quando o filme terminou.
O filme foi banido na Suécia, Alemanha e Argentina.
Roger Ebert foi um dos poucos críticos que mostrou apreço pelo filme. Ganharia um Pulitzer no ano seguinte.
Está na lista de “Great Movies” de Roger Ebert.
Está nos “1001 Movies You Must See Before You Die” de Steven Schneider.
É um dos “The Fifty Worst Films of All Time (And How They Got That Way)” de Harry Medved & Randy Lowell.
O “Entertainment Weekly” colocou o filme em #15 nos seus “Guilty Pleasures: Testosterone Edition” de 2007.
Em 1991, a banda de heavy metal Iron Prostate criou uma canção com o título “Bring Me the Head of Jerry Garcia”.
Os The Flaming Stars deram a uma das suas compilações o título “Bring Me the Rest of Alfredo Garcia”.
Na saga literária “Sandman Slim”, de Richard Kadrey, o protagonista Stark dá ao seu colega o a alcunha de “Alfredo Garcia” e faz muitas referências ao personagem do filme de Peckinpah.
Na série “Futurama”, no episódio “Overclockwise”, há uma personagem que diz “Bring me the clock of Bender Rodriguez“.
Na série “House, M.D.”, o protagonista diz num episódio “bring me the thong of Lisa Cuddy“.
No episódio “Welcome to the Dollhouse” da série “Gilmore Girls”, alguém diz “You did it. You brought me the head of Alfredo Garcia.“.
Na Season 2 de “True Detective”, num momento é visto o poster de “Bring Me The Head of Alfredo Garcia”.
No filme “Fletch” (1985), há um momento onde o personagem de Chevy Chase pede a uma enfermeira “Do you have the Beatles’ ”White Album”? Never mind, just get me a cup of hot fat. And bring me the head of Alfredo Garcia while you’re out there.“.
O cartoon de Jim Reardon “Bring Me the Head of Charlie Brown” (1986) parodia o filme de Sam Peckinpah e o seu estilo de violência.
O telefilme “Bring Me the Head of Dobie Gillis” (1988) inspira-se no título do filme de Peckinpah.
No filme “Demolition Man” (1993), o personagem de Benjamin Bratt tem o nome de Alfredo Garcia.
O director of photography Roger Deakins tem “Bring Me the Head of Alfredo Garcia” como a inspiração visual para “No Country for Old Men” (2007).
O filme foi um imenso flop de público e crítica, mas ganhou bom estatuto de culto ao longo do tempo.