Hatari! (1962)

 

 

Howard Hawks é um genial realizador. Sabia fazer de tudo e por essa variedade de géneros por onde se metia fazia sempre grande Cinema e obras-primas.

Eis uma incursão pelo campo da aventura exótica, mas filiada no seu estilo de Cinema.

Como era por vezes habitual, Hawks faz o filme como uma réplica a outro – aqui o visado é “Mogambo” (1953, do “rival” John Ford”; “por acaso”, esse filme é um remake de “Red Dust”, feito em 1932, que “por acaso” teve uma réplica de Hawks em 1939, que é o belíssimo “Only Angels Have Wings”).

 

Quénia.

Um grupo, composto por homens e mulheres, vive imensas peripécias para capturar animais selvagens no sentido de os enviar para jardins zoológicos.

É uma perfeita aventura exótica que aposta no dinamismo do grupo e nas peripécias num ambiente que só permite a evasão e a aventura.

Temos action & adventure, mas em moldes diferentes do habitual – aqui não há vilões nem confrontos morais por Lei & Ordem, mas temos perseguições, lutas, esforços, sustos, preparações logísticas, hierarquias e funções, muita manifestação heróica e de virilidade masculina e feminina, com toda a confrontação a ser contra os elementos naturais e animais da savana queniana.

Fiel ao estilo de Hawks, é uma história sobre a união do grupo (sempre assente num carismático e capaz líder), a competência de profissionais (a única forma de concretizar com sucesso todas as “missões”), as competições internas (de virilidade e masculinidade), a chegada da mulher a um meio fortemente masculino (mas a mostrar que merece estar lá e que é tão boa ou melhor que qualquer um deles) e a (tão típica do cinema hawksiano) guerra de sexos (que origina belos momentos de screwball).

Leigh Brackett (a mulher que escreveu muitos dos filmes de Hawks) cuida da escrita e a sua marca e qualidade está toda no dinamismo dos diálogos (a conversa de três homens à volta da mulher que está na cama de um deles), que é sempre definidor de personalidades e relações (as constantes ameaças de Sean às provocações de Pockets).

O entendimento entre todos (queremos ser mais um membro daquela fantástica equipa e viver aquelas peripécias ao lado dela), o humor inesperado (a cena com a chita e a mulher, no banho, e o que se segue) e até mesmo desconcertante (o ordenhar da cabra, a organização das avestruzes), a competição entre homens (para afirmação pessoal, para conquista de um lugar na hierarquia do grupo, para conquista de uma das meninas), a tensão (no lago com os crocodilos), os momentos de screwball (os diálogos entre Sean e Dallas à volta de sedução e beijos, a perseguição final com os elefantes) e boa acção (a perseguição ao rinoceronte).

Cenas, momentos e situações que ilustram todo o poder da escrita de Brackett e a sua perfeita sintonia com Hawks e sua visão do mundo e criação do seu Cinema.

Excelente fotografia (do grande Russell Harlan, um habitual de Hawks), que capta maravilhosamente a imensidão e beleza da paisagem queniana.

Elegante e exótica música de Henry Mancini.

Há um óptimo elenco na “savana cinematográfica”, e todos os seus elementos oferecem excelente prestação, em total sintonia entre eles, com o filme e com a essência do Cinema de Hawks.

Howard Hawks mostra o quanto se está a divertir, faz grande entretenimento e grande Cinema.

“Hatari!” é/tem tudo o que é necessário para um grande e excelente entretenimento escapista, está escrito e executado na perfeição, em pleno alinhamento com o Cinema de um Mestre.

“Hatari!” é um daqueles filmes que apetece sempre ver, rever, trever, …ver, pois é enorme a satisfação gerada no espectador (pela paisagem, pelos eventos, pelos diálogos, pelo humor, pelos personagens, pelo prazer de ver Grande Cinema).

Mais uma (excelente) representação (e quintessência) do Cinema de Howard Hawks.

Obra-prima total.

 

Obrigatório.

 

“Hatari!” tem edição portuguesa e anda a bom preço.

Realizador: Howard Hawks

Argumentistas: Leigh Brackett, Harry Kurnitz

Elenco: John Wayne, Elsa Martinelli, Hardy Krüger, Red Buttons, Gérard Blain, Bruce Cabot, Michèle Girardon, Valentin de Vargas, Eduard Franz

 

Trailer

 

Clips

 

A banda sonora de Henry Mancini

 

Bastidores

 

Promoções

 

Bilheteira – 14 milhões de Dólares (USA)

Mercado doméstico – 7 milhões de Dólares (USA)

Esteve nomeado para “Melhor Fotografia”, nos Oscars 1963. Perdeu para “Lawrence of Arabia”.

Ficou em segundo lugar como “Top Action Drama”, nos Laurel 1963. Em Primeiro Lugar ficou “The Longest Day” (também com John Wayne).

Hawks fez “Hatari!” como resposta a “Mogambo” (1953). Hawks tinha feito “Only Angels Have Wings” como resposta a “Red Dust” (1932). “Mogambo” era um remake de “Red Dust”.

Em 1960, Clark Gable estava designado em participar no filme ao lado de John Wayne. Gable vinha de dois filmes de temática semelhante (“Red Dust” com Jean Harlow e Mary Astor, “Mogambo” com Ava Gardner e Grace Kelly). Gable queria o seu nome em primeiro lugar e 10% das bilheteiras. O estúdio recusou e o argumento sofreu alterações. Gable faleceria 12 dias antes do início das filmagens de “Hatari!”.

Hawks queria juntar no mesmo filme John Wayne, Clark Gable e William Holden (que já andava muito activo como ambientalista).

O personagem de Red Buttons era pensado para Leo McKern, Peter Ustinov ou Peter Sellers. McKern recusou trabalhar com Wayne, Ustinov estava ocupado e Sellers não aceitou que o personagem fosse americano.

Claudia Cardinale foi considerada, mas a personagem foi para Elsa Martinelli. Cardinale e Wayne trabalhariam juntos em “Circus World” (1964).

Willy de Beer, prestigiado caçador, era o consultor do filme.

Dallas inspira-se em Camilla “Ylla” Koffler, prestigiada fotógrafa do mundo animal.

As filmagens começaram sem haver um argumento definitivo. Leigh Brackett ia escrevendo actualizações ao argumento dia-a-dia.

O filme teve patrocínio de uma empresa tabaqueira. Por isso muito se fuma no filme.

A produção alugou todos os veículos disponíveis para aluguer, na Tanzânia.

Hawks queria filmar cenas de captura de animais como até então nunca se tinham visto.

Segundo Hawks, em todas as cenas que envolvem animais e humanos, estes são os actores. Não se usaram stuntmen nem animal handlers. Hawks queria realismo por parte dos actores nessas cenas.

Algumas cenas tiveram de ver o seu áudio dobrado, pois Wayne usava sempre calão nas cenas com animais.

Numa noite, Buttons e Wayne jogavam cartas. De repente, um leopardo surge na zona. Quando alertado por Buttons, Wayne disse “See what he wants“.

Michèle Girardon não falava Inglês. Aprendeu no set.

As filmagens decorreram sem um guião completo e Hawks concretizou o sonho de ir à Tanzânia.

 

Hatari significa “Perigo” em Swahili (o dialecto nativo da Tanzânia).

A canção “Whiskey Leave Me Alone” já tinha sido usada em “Big Sky” (1952, também de Howard Hawks).

Cameo de Howard Hawks – na parte de trás da pick-up que persegue o rinoceronte (perto do final do filme; está à direita, com chapéu e a olhar para baixo e para trás); quando Pockets lê uma carta de Dallas, Hawks atravessa o hall.

Foi o maior sucesso da Paramount no ano de 1962.

Alguma crítica da época achou que Hawks fez o filme como se estivesse em diversão ou em férias.

Jean-Luc Godard considerou “Hatari!” como um dos melhore filmes do ano.

Michael Milner escreveu uma novelização do filme, editada pela Pocket Books in 1962. Era muito fiel ao argumento, dando mais alguns detalhes sobre alguns personagens.

Teria um comic em 1963 – “Hatari!”, editado pela Dell.

Hardy Kruger compraria a propriedade onde se construiu o set local. Fez do local um resort para turistas e convívio com animais.

Congo, o elefante bebé do filme, faleceu em Novembro de 2000, no Dubbo Zoo. Na época, era o único elefante masculino num cativeiro na Austrália.

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