Título original – Basic
John McTiernan investe num estilo de actioner diferente, reúne um bom elenco e faz um filme que é um desfile de twists & turns.
Um agente do D.E.A. investiga o mortal e misterioso desenlace de um exercício militar de uma unidade de elite, onde morreram alguns elementos, bem como o seu lendário líder.
Mas qual é a verdade do evento? É que cada testemunha sobrevivente conta uma diferente.
É John McTiernan de volta à selva e a militares de elite, depois de “Predator” (1987) – mas aqui a equipa é, aparentemente, conflituosa e um perigo para si própria, com a selva a acentuar ainda mais o conflito.
É John McTiernan de volta a um conceito de actioner diferente, depois de “The Hunt for Red October” (1990) – parece que tudo está parado, nada acontece, mas há muita dinâmica na descoberta e encobrimento da verdade.
É John McTiernan de volta à tensão sexual entre homem & mulher quarentões, depois de “The Thomas Crown Affair” (1999) – mas aqui parece que nenhum deles quer assumir o jogo.
“Basic” é um misto de tudo isto, é uma mistura de géneros e temas.
É um jogo de enganos, um esquema de aparências, um mistério militar digno de Agatha Christie.
É um desfile de verdades (ou diversas visões para a mesma, ou um mix de uma verdade criativa), que resulta numa trama engenhosa, plena de surpresas e twists, onde nunca se sabe no que e em quem acreditar.
É uma brincadeira no campo do whodunit, do suspense e do twist narrativo.
Mas resulta, cativa, fascina e complica os eventos e a verdade de tal maneira, que é impossível o espectador chegar ao final e dizer “ahhh, bem me parecia, eu sabia.”.
Excelente fotografia, que capta bem a humidade dos ambientes (tanto em espaço aberto como fechado) e a tensão dos rostos.
John McTiernan volta a mostrar domínio da câmara na ilustração dos eventos e da action, conseguindo aqui que action não seja um acumular de destruição, porrada, tiroteios e explosões (embora tudo isso ocorra) mas sim toda a dinâmica dos protagonistas em descobrir e verdade e a forma como o “inimigo” a oculta através da criação de outra(s) verdade(s).
Por outro lado, McTiernan afirma cinefilia – desde Akira Kurosawa (as diversas versões da verdade recordam “Rashomon”) até Howard Hawks (a afirmação da mulher num mundo masculino; a tensão entre os dois interrogadores; a situação em espaço fechado, com tanto a acontecer, numa noite de furacão, recorda “Only Angels Have Wings” – que é todo um modelo de actioner diferente e original).
Bons nomes no elenco, a cumprirem bem, com óbvios destaques para uns esplêndidos John Travolta (bem gordinho, musculado, carismático e divertido com o que se passa), Samuel L. Jackson (a usar a sua voz, postura e coolness para ser algo tenebroso) e Connie Nielsen (bem sexy e determinada).
É toda uma guloseima para os fãs de suspense thrillers com twist.
“Basic” tem edição portuguesa, a bom preço.
Realizador: John McTiernan
Argumentista: James Vanderbilt
Elenco: John Travolta, Connie Nielsen, Samuel L. Jackson, Tim Daly, Giovanni Ribisi, Brian Van Holt, Taye Diggs, Dash Mihok, Cristián de la Fuente, Roselyn Sanchez, Harry Connick Jr.
Trailer
Clips
John McTiernan sobre o filme
John Travolta sobre o filme
John Travolta & Samuel L. Jackson no filme
Connie Nielsen sobre o filme
Brian Van Holt sobre o filme
Orçamento – 50 milhões de Dólares
Bilheteira – 26.7 milhões de Dólares (USA); 42.7 (mundial)
James Vanderbilt é grande fã de mistérios e quis criar um cuja verdade só fosse descoberta mesmo no final.
Vanderbilt quis escrever um argumento que derrotasse aqueles espectadores que acreditam já saber como acaba a história e quem é o culpado.
John McTiernan quis fazer um thriller de suspense de acordo com aquilo que considera ser a regra base – a apresentação de um evento, um conjunto de verdades que não correspondem à verdade total sobre o evento, a exposição da inesperada verdade absoluta.
Reencontro entre John Travolta e Samuel L. Jackson, depois de “Pulp Fiction” (1994).
Reencontro entre Samuel L. Jackson e John McTiernan, depois de “Die Hard With a Vengeance” (1995).
Samuel L. Jackson e Brian Van Holt reencontrar-se-iam em “S.W.A.T.” (2003).
Travolta preparou-se ao visitar um batalhão de Rangers.
Regresso de Travolta aos thrillers em ambiente militar, depois de “The General`s Daughter” (1999).
Muito do filme é filmado na Florida, mas teve algumas filmagens no Panamá.
O filme tem influências de “Rashomon” (1950, de Akira Kurosawa).
Para conseguir a devida postura de Roselyn Sanchez, McTiernan pôs a actriz a usar uma sacola com areia à cintura e a imaginar-se como se fosse uma showgirl de Las Vegas.
Giovanni Ribisi não tomou banho durante uma semana, para conseguir ter o aspecto que se vê no filme.
Choveu muito durante as filmagens.
Jackson improvisou muitas das suas lines.
McTiernan pediu a Travolta e Connie Nielsen para não demonstrarem muita tensão sexual nos seus personagens.
Travolta passou as filmagens a provocar Nielsen.
O nome do personagem de Travolta (Tom Hardy) vem de um dos “The Hardy Boys” (um grupo de miúdos que se dedicavam a descobrir mistérios; ganharam popularidade na Literatura e em Televisão).
Segundo McTiernan, o visual de Jackson inspira-se em Sergio Leone e no look dos protagonistas dos seus western-spaghetti.
Num momento, o personagem de Travolta diz “Fuck ‘em if they can’t take a joke.” – é a mesma line que é dita pelo personagem de Travolta em “Broken Arrow” (1996).
A irmã de Travolta, Margaret, interpreta uma das enfermeiras.
Travolta improvisou o momento em que pega na revista.
Vanderbilt queria que a história terminasse com a personagem de Nielsen a ser a heroína de tudo, contrariando assim algumas das regras.
Na versão inicial, era o personagem de Travolta o vilão e quem matava o personagem de Jackson.
O trailer usa um trecho da música do filme “One Hour Photo” (2002).
O filme foi um flop nas bilheteiras.
A crítica reagiu mal a tantos twists e complicações na narrativa.
É, até ao momento, o ultimo filme de John McTiernan. O realizador meteu-se num escândalo criminal e legal com o FBI, pelo que cumpriu pena de prisão. McTiernan desenvolveu vários projectos na cadeia, entre eles a tão desejada e prometida sequela ao seu remake de “The Thomas Crown Affair” (1999).