Deep Water (2022)

 

 

Regresso de Adrian Lyne à dinâmica do casal, com um par excitante.

 

Vic e Melinda Van Allen são um casal jovem e parecem felizes perante a comunidade. Mas Melinda é bem activa na sua vida autónoma e Vic é bem zeloso sobre o seu comportamento.

Um zelo que o pode levar ao crime.

Visita à intimidade conjugal, pegando na perversidade da provocação (quase sempre sexual), da suspeita (qualquer amigo dela é, para ele, um amante), do ciúme (que leva ao homicídio), seguindo a regra “quem vive no convento é que sabe o que se passa lá dentro” (quase todo o círculo social do casal acredita que tudo está bem dentro do mesmo), mostrando um quotidiano familiar que tem muito de disfuncional e aberrante (quando o pai diz à filha “vais deixar a mãe maluca”, ao que a pequena responde “eu sei”; a forma como o casal se critica um ao outro com a visita à mesa; as perguntas que ambos fazem um sobre o outro a um psicólogo; a confissão dela a um ex-amante perante o marido).

Final com um clímax pleno de tensão e com uma conclusão algo inesperada (ou não), apelativo a muitas reflexões.

É Adrian Lyne de volta aos jogos sentimentais, matrimoniais e sexuais (“9 1/2 Weeks”, ”Fatal Attraction, “Indecent Proposal”, “Lolita”, “Unfaithful”).

Como sempre, filma com bom gosto, elegância e sobriedade, sabendo onde colocar a câmara, procurando ser vistoso na fotografia, na cenografia e nas pessoas.

Bom trabalho do elenco, com destaque para Ana de Armas, que exibe (como sempre) uma sensualidade ardente. A sua química com Ben Affleck é de iminente explosividade.

Um retrato muito perverso da “felicidade” matrimonial.

 

“Deep Water” está disponível em streaming, via Amazon Prime e Hulu.

Realizador: Adrian Lyne

Argumentistas: Zach Helm, Sam Levinson, a partir do romance de Patricia Highsmith (“Deep Water”)

Elenco: Ben Affleck, Ana de Armas, Tracy Letts, Grace Jenkins, Dash Mihok, Rachel Blanchard, Kristen Connolly

 

Trailer

 

Orçamento – 50 milhões de Dólares

 

O romance de Patricia Highsmith já foi levado ao ecran antes – “Eaux Profondes” (1981, já aqui visto), de Michel Deville, com Isabelle Huppert e Jean-Louis Trintignant.

 

Adrian Lyne regressa às longa-metragens. Já não filmava desde 2002, ano em que fez “Unfaithful” (também sobre um matrimónio disfuncional e com o crime no meio), que também era um remake de um filme francês (“La Femme Infidèle”, de Claude Chabrol, feito em 1969).

 

“Deep Water” não se assume como um remake de “Eaux Profondes”, mas não se pode deixar de pensar nessa prévia adaptação francesa.

A versão americana segue a mesma história à risca (sinal da qualidade do romance de Patricia Highsmith), com algumas opções visuais diferentes (Lyne vem da publicidade, pelo que sabe como usar e manipular a imagem), o duelo de actores não se equipara (actores da excelência de Isabelle Huppert e Jean-Louis Trintignant são difíceis de igualar).

“Deep Water” é algo mais negro e duro; “Eaux Profondes” é algo mais intelectual e sofisticado. Ambos têm poder erótico.

A cada um o seu preferido. Eu gostei mais de “Eaux Profondes” – melhor trabalho dos actores, mais sofisticado e com aquela visão da intimidade matrimonial que só os franceses tem o savoir-faire.

Segundo alguma imprensa, Ben Affleck e Ana de Armas começaram a namorar durante as filmagens.

Sobre Patricia Highsmith

https://www.britannica.com/biography/Patricia-Highsmith

https://www.goodreads.com/author/show/7622.Patricia_Highsmith

 

Patricia Highsmith em Portugal

https://relogiodagua.pt/autor/patricia-highsmith/