O Executor Implacável (1977)

 

 

Título original – Rolling Thunder

 

Depois de “Taxi Driver” (1976), Paul Schrader volta a escrever sobre os veteranos do Vietname, a sua reinserção na sociedade e a violência.

 

O Major Charles Rane regressa a casa, terminada a sua comissão no Vietname, onde esteve prisioneiro.

O regresso à normalidade não é fácil.

Mas quando um grupo de rednecks o ataca em casa, mata-lhe esposa e filho, Rane redesperta a sua fúria e destreza como combatente.

Drama com laivos de actioner vigilante, visando a reinserção dos veteranos do Vietnam e a criminalidade das povoações (aqui uma pequena e interior).

 

O drama é de forte violência psicológica (o protagonista foi prisioneiro e torturado, procurando treinar o corpo com “exercícios” que o submetam ao mesmo martírio).

 

A acção é ainda mais – o protagonista é alvo de uma acção bárbara (cortam-lhe a mão – um momento bem doloroso para protagonista e espectador, com um exímio trabalho de som e montagem), com a sua vingança a ser ainda mais implacável.

Há quem veja aqui ecos de “Taxi Driver”.

Não é caso para menos.

É certo que “Taxi Driver” e “Rolling Thunder” partilham o mesmo argumentista – Paul Schrader.

Mas há também a abordagem dos veteranos do Vietnam e a sua (difícil) reinserção na sociedade, a violência das comunidades urbanas, a resposta ainda mais violenta, a redenção e expiação.

Em vez de uma grande cidade, uma povoação rural. Em vez do apelo à “limpeza” dada por uma inocência destruída, temos a vingança contra gangs locais.

Começamos em tom de melodrama sobre os veteranos do Vietnam.

Vemos as suas dificuldades no regresso a uma normalidade (o momento na casa da família de Johnny, onde se vê o tédio deste face a uma vida “normal”), a sua reinserção na sociedade, o retomar de uma intimidade emocional em família (os momentos de Charlie com a esposa e o filho, com a dificuldade de Charlie em abrir-se emocionalmente a ambos), a presença do conflito na memória (o momento em que Charles recria uma tortura que lhe fizeram), o “regozijo” de Charles e Johnny perante a violência (Charles não cede face à tortura, Johnny a sentir-se vivo quando Charles o chama para uma “acção de limpeza”).

Tudo muda no segundo acto, com o filme a seguir a via do cinema vigilante da época, onde vemos uma transfiguração de Charles (ou onde ele revela a sua essência) – um homem marcado pela violência (a que viveu no Vietname e a que sofreu na sua casa, em tempo de paz), que não resiste a regressar a ela como aplicação de justiça e vingança.

Como é óbvio, tudo explode num confronto final que tem mesmo de ser decisivo, violento e libertador.

Tal cena é de uma intensa e rápida brutalidade, sendo uma das melhores confrontações do Cinema, que nada fica a dever a Sam Peckinpah ou a Don Siegel.

William Devane muito bem, a compor um homem atormentado pela violência da guerra (e todos os seus efeitos físicos e psicológicos), a ter de responder com a devida violência que o persegue até ao seu lar.

Tommy Lee Jones (ainda bem jovem) já se revela promissor, mostrando talento para personagens silenciosos, frios e perturbados.

John Flynn tinha feito “The Outfit” (1973) e mostrou ser um talento muito competente dentro de um certo modelo de neo noir. Ei-lo novamente a dirigir com garra e sentido de impacto (a cena que envolve a tortura a Charles pelos ladrões, o trucidar da mão e a matança final – todas continuam a ser das mais brutais e dolorosas do Cinema).

Misto de drama e actioner, sobre um conjunto de realidades muito complicadas dos USA dos 70s (o regresso dos combatentes do Vietname, o aumento do crime), é um dos bons filmes sobre tais temas e merece ser (re)descoberto.

 

“Rolling Thunder” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, a bom preço.

Realizador: John Flynn

Argumentistas: Paul Schrader, Heywood Gould

Elenco: William Devane, Tommy Lee Jones, Linda Haynes, James Best, Dabney Coleman, Lisa Blake Richards, Luke Askew, Lawrason Driscoll, James Victor, Cassie Yates

 

Trailer

 

Clips

 

William Devane e Tommy Lee Jones sobre o filme

 

Eli Roth sobre o filme

 

Orçamento – 5 milhões de Dólares

 

Paul Schrader escreveu o argumento a pensar em John Milius para o realizar. Milius recusou, pois não queria fazer algo tão violento, na época (Milius tinha feito o actioner romântico “The Wind and the Lion” em 1975, indo a caminho do nostálgico “Big Wednesday” em 1978).

Schrader esteve pensado para realizador.

Heywood Gould fez alterações ao argumento de Schrader.

Segundo Schrader, muito do seu argumento inicial foi alterado.

Schrader queria criticar o envolvimento dos USA no Vietname, mostrando algumas acções fascistas e racistas no conflito. Charles Rane ia ser bem racista e com algumas semelhanças a Travis Bickle (o “Taxi Driver” – Bickle até ia aparecer no filme). Rane era um herói de guerra, mas sem ter dado um tiro. O seu confronto é com uma comunidade mexicana da zona onde vive. Perante o mal que lhe é infligido (por mexicanos), Rane desperta o ódio racista dentro de si. Tudo termina num enorme massacre feito por Rane a mexicanos.

 

Kris Kristofferson ia ser o protagonista, mas saiu do projecto.

David Carradine, Joe Don Baker e Richard Jordan foram considerados como Charles Rane.

James Best recusou inicialmente o seu personagem. Mudou de opinião ao saber das presenças de William Devane e Tommy Lee Jones.

Primeiro filme de Cassie Yates.

Filmado em San Antonio, Texas, em 31 dias.

 

Best pôs cubos de gelo no interior do seu chapéu para dar a intender que o seu personagem está sempre a suar.

O produtor Lawrence Gordon (que produziria muitos filmes para Walter Hill) deu total liberdade a John Flynn na cena da tortura a Charles Rane. O objectivo era fazer com que a cena fosse bem violenta e repulsiva.

O momento do triturar da mão de Rane ia ser mais explícito na violência. Chegou-se a filmar tal momento, bem gore. Mas nas primeiras previews, o público reagiu mal a essa cena (houve gente a desmaiar, gente a reclamar). Decidiu-se remontar esse momento.

A MPAA não pediu mudanças na cena da tortura a Charles Rane, mesmo já depois de remontada devido às reacções do público nas previews.

O filme ia ser produzido e distribuído pela 20th Century Fox. A Major mudou de ideias perante o tom violento do filme. O estúdio quis fazer cortes no filme, mas Gordon recusou. Gordon escolheu a AIP (American International Pictures). A AIP não faz alterações ao filme e este foi um sucesso.

 

Nas primeiras previews, o público reagiu mal ao filme.

O filme teve boa recepção por parte da critica.

William Devane lamentou que o estúdio não promovesse melhor o filme, no sentido de o fazer um grande sucesso nas bilheteiras.

Está na lista de “Top 10” dos filmes de 1977, na lista de Gene Siskel.

É um dos filmes preferidos de Quentin Tarantino.

A Rolling Thunder Pictures (companhia fundada por Tarantino, que redistribui cult movies) tem o seu nome derivado do filme. A companhia faliu, devido a fracos valore$ de vendas.

 

Paul Schrader diz que queria fazer um filme sobre o fascismo mas que se tornou um filme fascista.

 

Uma muito interessante análise

 

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