Título original – Nightmare Alley
“Nightmare Alley” (1947, já aqui visto) já tinha bom estatuto.
Guillermo del Toro, ainda fresquinho de ter ganho os Oscars para “Melhor Filme” e “Melhor Realizador” (por “The Shape of Water”, em 2018), decide fazer uma nova adaptação.
Que é todo um luxo (no elenco incluído) e uma experiência cinéfila de altíssimo nível.
Stanton Carlisle vagueia e encontra emprego num “circo de horrores”. Não tarda em fazer parcerias e descobre um esquema que se revela rentável – graças a uns truques na comunicação entre os artistas envolvidos, Stanton consegue “adivinhar” detalhes sobre a vida de estranhos.
Tal “habilidade” chama as atenções de uma psiquiatra. Ambos fazem parceria.
Mas alguém anda a ser enganado. Quem?
Uma feliz recuperação de um certo modelo de melodrama noir como se fazia nos 40s, agora com todo o esplendor visual que a tecnologia cinematográfica actual permite ainda mais.
É um conto sobre ganância, desejo, manipulação, almas e poderes de outro mundo, com aberrações e monstros, mas que é afinal a ascensão, cume e desgraça de um homem, cobarde, manipulador, ambicioso, preso a um destino que foi mesmo ele que o delineou.
Guillermo del Toro faz-nos mesmo sentir estar em outros mundos – seja o bizarro e o mágico (o da magic fair onde tudo começa), seja todo o luxo dos ambientes das classes altas dos 40s.
E ainda comete a proeza de fazer um esplendoroso exercício de nostalgia cinéfila – todo o filme é um exemplo de possibilidade do que poderia ser o look do Film Noir nos 40s, se feito a cores.
Tal como Edmund Goulding faz no filme original, o autor de “El Laberinto del Fauno” também consegue que o filme circule entre géneros e atmosferas – ora estamos num ambiente e tom que poderá andar pela fantasia ou terror, como logo a seguir já estamos em ambientes mais “convencionais” e “reais” (mas de grande nível cinematográfico).
A ajudar está um perfeito trabalho nas áreas de fotografia, cenografia, guarda-roupa e efeitos visuais (prémios para as três primeiras categorias, e já).
Registe-se e elogie-se também um belo conjunto de canções populares dos 40s.
Encontramos uma parada de grandes actores e actrizes, onde todos e todas brilham, sem qualquer excepção.
Bradley Cooper volta a mostrar o excelente actor que é, pela forma como cria todas as nuances do seu personagem (os seus momentos de insegurança, a sua arrogância com quem manipula e domina, os seus medos e fragilidades, a sua queda final). É a sua melhor interpretação até ao momento (atenção aos minutos finais). Merecia nomeações a prémios.
Cate Blanchett, Rooney Mara e Toni Colette parecem mesmo damas de outro tempo e mundo. E Cate é um autêntico sonho pecaminoso neste nightmare de perdições (atenção à sua entrada em cena e em todos os momentos em que está em cena).
“Nightmare Alley” não é um remake do filme homónimo de 1947. É uma nova adaptação do mesmo romance que inspira os dois filmes.
E estamos num caso (raro) em que o remake supera o original (que já é excelente e clássico).
Tanto pela performance dos actores, pela perfeição visual, pelos detalhes narrativos (o argumento é mais completo e fiel ao romance que o inspira), pela forma como o cineasta gere tudo isto, sem cair em rip-off, imitação ou pretensões vácuas.
Mas acreditem que o filme original com Tyrone Power vale muito a pena.
Um grande feito cinematográfico.
Um dos grandes filmes do ano.
Um belo exercício revisionista e nostálgico.
Grandioso Cinema.
“Nightmare Alley” ainda está nas nossas salas e já se move em streaming via HBO Max.
Realizador: Guillermo del Toro
Argumentistas: Guillermo del Toro, Kim Morgan, a partir do romance de
William Lindsay Gresham
Elenco: Bradley Cooper, Cate Blanchett, Rooney Mara, Toni Collette, Willem Dafoe, Richard Jenkins, , Ron Perlman, Mary Steenburgen, David Strathairn, Mark Povinelli, Peter MacNeill, Holt McCallany, Tim Blake Nelson
Site – https://www.searchlightpictures.com/nightmarealley/
Orçamento – 60 milhões de Dólares
Bilheteira (até agora) – 11 milhões de Dólares (USA); 35 (mundial)
Nomeações para os Oscars 2022 – “Melhor Filme”, “Melhor Fotografia”, “Melhor Cenografia”, “Melhor Guarda-Roupa”.
“Filme do Ano”, pelo AFI 2022.
“Melhor Cenografia”, pelos críticos de Chicago 2022, pelos DiscussingFilm 2022.
“Melhor Realizador”, “Melhor Argumento Adaptado”, “Melhor Fotografia”, “Melhor Cenografia”, pelos críticos do Hawaii 2022, do Nevada 2021, de San Diego 2022, de San Francisco 2022.
“Top Films”, pela National Board of Review 2021.
“Melhor Fotografia”, pelos críticos de Philadelphia 2021.
“Top 10 do Ano”, “Melhor Cenografia”, pelos críticos de Phoenix 2021.
O livro de William Lindsay Gresham foi editado em 1946.
Em 1947 surgiu uma adaptação cinematográfica, assinada por Edmund Goulding, com Tyrone Power, Joan Blondell e Coleen Gray. O filme foi um flop na época, mas ganhou estatuto de clássico ao longo do tempo.
O projecto já data de 1993, quando Ron Perlman sugeriu a Guillermo del Toro para ler o romance de Gresham. Depois de ler o livro e ver a versão de 1947, del Toro interessa-se, mas dá conta que existem problemas de direitos. Só há uns anos é que tal ficou resolvido.
Guillermo del Toro viu o seu pai ser raptado em 1998 e alvo de um resgate. O cineasta e a família recorreram a “psíquicos”. Tal evento fascinou e perturbou o cineasta.
Leonardo DiCaprio ia ser o protagonista.
Jennifer Lawrence e Lady Gaga foram consideradas para a personagem que foi entregue a Rooney Mara.
Reencontro entre Cate Blanchett e Rooney Mara, depois de “Carol” (2015).
Sétimo encontro entre Guillermo del Toro e Ron Perlman. Em breve vão-se reencontrar para mais uma, em “Pinocchio”.
Guillermo del Toro não considera o seu filme como um remake da adaptação de 1947, mas sim uma nova adaptação do livro.
O cineasta inspirou-se em diversos filmes – “Fallen Angel” (1945, de Otto Preminger), “Niagara” (1953, de Henry Hathaway), “Underworld U.S.A.” (1961, de Samuel Fuller), “The Killing” (1956, de Stanley Kubrick), “Detour” (1945, de Edgar G. Ulmer), “Too Late for Tears” (1949, de Byron Haskin), “Born to Kill” (1947, de Robert Wise), “The Lineup” (1958, de Don Siegel), “Breaking Point” (1950, de Michael Curtiz), “Nightfall” (1956, de Jacques Tourneur).
Realizador e director de fotografia procuraram fazer um filme a cores como se fosse um filme a P&B feito nos anos 40.
As filmagens tiveram interrupções devido à pandemia Covid-19.
Rooney Mara estava grávida durante as filmagens. Deu à luz durante a pausa.
Segundo Guillermo del Toro, o plano final de Bradley Cooper foi feito no primeiro take.
O filme vai ter uma versão a P&B, que será lançada ainda em 2022.
Sobre William Lindsay Gresham
https://www.goodreads.com/author/show/97110.William_Lindsay_Gresham
[…] uma nova versão em 2021 (já aqui visto). Realizado por Guillermo del Toro, conta com um cast fabuloso (Bradley Cooper, Cate […]