Título original – Nightmare Alley
Um noir diferente e original, que envolve mundos de ilusões.
Stanton Carlisle trabalha num “circo de horrores” e descobre um rentável esquema – graças a truques de comunicação entre os artistas envolvidos, “adivinhar” detalhes sobre a vida de estranhos.
Mas tantos ganho$ vão ter um preço.
Um título estranho, diferente e fascinante, algo difícil de catalogar enquanto género, dada a amplitude e densidade da narrativa.
Parece ser um drama sobre a vida de um circo, parece ter algo de bizarro ao focar-se em pessoas com certos dons, parece ser um noir sobre a corrupção do indivíduo sobre a facilidade em ganhar dinheiro ao vigarizar os outros manipulando os seus sonhos e tragédias, parece ser o drama de um homem face à sua ascensão e queda devido à sua ambição desmedida, parece um conto moral pelo círculo narrativo.
“Nightmare Alley” é um pouco de tudo isto, conseguindo ser um filme multi-género, sendo afinal um conto sobre o circo (de diversos horrores) em que um homem deixa cair a sua existência.
Findo o filme, concluímos ser sobre a desgraça de um homem, fascinado pelo poder de manipular e viver opulentamente com tal.
É, portanto, sobre o poder (fascinante e destrutivo) da corrupção, que não é apenas a do protagonista. Todo o meio social onde ele move (pobre ou rico) é povoado por gentes dispostas ao mesmo tipo de jogo.
Tema clássico do Film Noir e nesse aspecto “Nightmare Alley” é bem Noir no meio de tanto pecador, culpado, corrupto e corruptor, crime, culpa, expiação e castigo.
Excelente fotografia, que bem caracteriza o noir dos ambientes e das almas perdidas.
Edmund Goulding consegue criar sempre uma atmosfera adequada aos diversos rumos narrativos.
Tyrone Power demonstra bem o oportunismo, ganância e desgraça do seu personagem. É uma das suas melhores interpretações (se calhar até mesmo a melhor).
O elenco de suporte está também em muito bom nível.
Um fascinante noir humano.
“Nightmare Alley” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, a bom preço.
Realizador: Edmund Goulding
Argumentista: Jules Furthman, a partir do romance de William Lindsay Gresham
Elenco: Tyrone Power, Joan Blondell, Coleen Gray, Helen Walker, Taylor Holmes, Mike Mazurki, Ian Keith
Trailers
O romance de William Lindsay Gresham foi editado em 1946. O artista George Jessel, também produtor cinematográfico, incentiva a 20th Century Fox a comprar os direitos e fazer um filme.
Em 1946, anunciou-se William Keighley como realizador e Mark Stevens e Anne Baxter como protagonistas. Em 1947 Lloyd Bacon foi anunciado como o realizador.
Tyrone Power estava ligado ao estúdio e interessa-se pelo projecto, também no sentido de mudar de imagem e registo (era sempre herói romântico).
Reencontro entre Tyrone Power e Edmund Goulding, depois de “The Razor`s Edge” (1946 também oriundo da Literatura, também alvo de um remake).
Era o segundo filme de Power, depois de regressar da sua comissão militar na Segunda Guerra Mundial (foi piloto da Marinha americana).
O estúdio mandou construir um set de 40.000 m2 para se criar o carnival. Foram contratadas várias atracções de circos semelhantes ao recriado.
O final foi uma ideia de Jules Furthman a pedido de Darryl F. Zanuck (o #1 do estúdio). A ideia era não se ter um final tão duro como o do livro, criando-se um mais complacente com o gosto do público.
Alguma footage ficou perdida, por ter sido retirada do final cut, na época. Eram alguns momentos mais violentos com a “criatura” a comer galinhas vivas.
O filme teve uma reacção pouco consensual por parte da crítica.
Apesar do flop na época, o filme ganhou estatuto de clássico ao longo do tempo.
Muitos analistas consideram que a razão do flop passa pelo facto de Tyrone Power ser um vilão, o que desagradou ao público.
Darryl F. Zanuck detestou o filme e até o procurou retirar de circulação. Mas uma reposição em 1956 correu bem, e depois da morte da Tyrone Power (em 1958), o filme foi alvo de muita procura e pedidos em Televisão, onde atingiu bons número de audiências.
Era o filme preferido e a interpretação preferida de Tyrone Power.
William Lindsay Gresham suicidou-se em Setembro de 1962, no mesmo quarto do Hotel Carter, onde ele escreveu “Nightmare Alley”.
Teria uma nova versão em 2021 (já aqui visto). Realizado por Guillermo del Toro, conta com um cast fabuloso (Bradley Cooper, Cate Blanchett, Rooney Mara, Toni Colette, Willem Dafoe, Mary Steenburgen, David Strathairn, Ron Perlman, Richard Jenkins).
Sobre William Lindsay Gresham
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[…] Alley” (1947, já aqui visto) já tinha bom […]