Título original – The King’s Man
“Kingsman” arrancou nos comics, teve sucesso e logo o Cinema se interessou por ele.
“Kingsman: The Secret Service” surgiu em 2014 e foi uma lufada de ar fresco no campo dos spy thrillers (que andavam muito sérios – problema que até é discutido no filme), com um surpreendente Colin Firth como action hero.
“Kingsman: The Golden Circle” vem em 2017 e é uma loucura de action.
Matthew Vaughn mostra algo do que pretendia fazer com James Bond (ele foi ponderado para “Casino Royale” e foi um bom impulsionador para a escolha de Daniel Craig; Vaughn já tinha feito um “spy thriller” digno de 007 em “X-Men: First Class”).
Prometia-se mais um episódio. Ei-lo. Mas é prequela a todos.
Início do Século XX.
Há uma certa tensão na Europa de Leste, com o Kaiser e Rasputin a meterem-se em acções estranhas que podem causar um conflito na Europa.
O Duque de Oxford e o seu filho metem-se em campo e descobrem uma vasta conspiração. Mas a guerra já começou.
Depois dos delírios entre comic e cartoon nos dois episódios anteriores, a saga envereda (e bem) por uma certa calmaria e um maior classicismo (na narrativa e na encenação).
Estamos em ambientes históricos, pega-se em eventos e personagens da História, brinca-se com ela e até se “especula” sobre o que terá sido a verdade da Primeira Guerra Mundial.
Como qualquer bom spy thriller, há intriga complexa, conspirações densas, vilões tenebrosos, heróis empenhados e boa acção.
Mas a par de tudo isso (e em plena sintonia com os episódios anteriores), há uma história dramática na relação-treino entre mentor e novato.
Neste novo episódio há uma adenda emocional mais profunda – o mentor é o pai, o novato é o filho, o protagonista foi alvo de tragédias, é pacifista, procura evitar uma guerra e por causa de tal tem de se meter em conflitos.
É uma nova exploração humana na saga e que resulta muito bem, até porque este novo episódio assenta numa mudança de tom.
O momento homoerótico (a cura da perna) é que serve para nada a não ser perder tempo e enveredar pelo ridículo.
Felizmente que há bons momentos de acção (mas não do tipo visto em “Kingsman” e “Kingsman 2”) e até há surpresa face à identidade do vilão.
Óptimos valores de produção, visíveis na fotografia, guarda-roupa, cenografia (os palácios) e os efeitos visuais.
Matthew Vaughn continua aos comandos da saga. Ele já começou algumas (“X-Men”, “Kick-Ass”), mas só nesta é que realiza todos os episódios (nas outras ele continuou como produtor).
Vê-se que gosta dela, que se diverte, entrando aqui num registo mais sóbrio e clássico, mas não deixando de saber usar os bons meios que tem ao seu dispor (o plano contínuo que vai do convés do oficial a ler até ao submarino alemão para ir de volta ao navio britânico).
Estão bons nomes no elenco, muitos como secundários. Todos cumprem, com destaque para Ralph Fiennes (sempre impecável e a revelar-se um nobre action hero) e um tenebroso Rhys Ifans.
Um digno começo de saga, que mantém as suas regras e capacidade de entretenimento, conseguindo o extra de brincar com a História, podendo “obrigar” algum público a querer (re)descobri-la e verificar o que é verdade e ficção.
Venha “Kingsman 4”.
Nota – há uma cena extra durante o genérico final, que oferece indícios para “Kingsman 4” e onde se irá voltar a brincar com a História.
“The King’s Man” ainda está nas nossas salas, mas já começou a mover-se em streaming.
Realizador: Matthew Vaughn
Argumentistas: Matthew Vaughn, Karl Gajdusek, a partir do comic criado por Mark Millar & Dave Gibbons
Elenco: Ralph Fiennes, Harris Dickinson, Gemma Arterton, Rhys Ifans, Djimon Hounsou, Matthew Goode, Charles Dance, Daniel Brühl, Tom Hollander, Aaron Taylor-Johnson, Stanley Tucci, Alexandra Maria Lara, Alexander Shaw, Valerie Pachner
Site – https://www.20thcenturystudios.com/movies/the-kings-man
Orçamento – 100 milhões de Dólares
Bilheteira (até agora) – 37 milhões de Dólares (USA); 124 (mundial)
Nicolas Cage, Rachel Weisz e Brad Pitt foram considerados.
Reencontro entre Matthew Vaughn e Aaron Taylor-Johnson, depois de “Kick-Ass” (Taylor-Johnson também participou em “Kick-Ass 2”, mas Vaughn apenas era produtor).
Taylor-Johnson tinha rejeitado o personagem de Taron Egerton em “Kingsman: TheSecret Service”.
Tom Hollander interpreta três personagens – o Rei, o Kaiser e o Csar.
Ralph Fiennes é um dos executive producers.
“The Great Game” – o working title. É uma expressão usada no início do Século XX, devido à tensão política entre Inglaterra e Rússia.
O filme ia estrear em Fevereiro de 2020, mas foi adiado por causa da pandemia covid-19.