Título original – La Decima Vittima
Sci-Fi vinda de Itália, sobre um futuro já algo presente.
Século XXI.
Um jogo televisivo sobre caçadas humanas é líder de audiências.
Uma mulher decide subir a parada, no sentido de conseguir um avultado patrocínio.
Mas surgem laços entre ela e a vítima.
“Para quê o controlo de natalidade, quando se pode aumentar a mortalidade?”.
“Viva perigosamente, dentro da Lei.”.
Duas frases, ditas em momentos certeiros, que resumem bem o carácter distópico em que o filme se move.
Estamos num tempo, onde o Estado (que até tem um Ministério da Caça) tutela um desporto nacional onde cada concorrente pode ser caçador ou caça, originando um conjunto de eventos onde tudo vale.
É uma visão anárquica e caótica do Futuro, assente num modelo de consumo social por imagens banais, entretenimento audio-visual oco e destruição de valores (emotivos e intelectuais). Tudo ainda mais perturbante pois conta com o patrocínio do governo.
(ou seja, um “documentário” sobre os dias actuais e o estado do audio-visual televisivo moderno)
Contrariando as regras do género (pelo menos, quando Made in Hollywood), aqui não há heróis nem good guys, apenas vítimas e um conjunto de pessoas tornadas marionetas de um sistema para quem humanos são apenas brinquedos.
A sua encenação leva-nos para um certo surrealismo satírico, quase nos dando a sensação de tudo ser um pesadelo criado por Federico Fellini, mas capaz da perturbação em vez do fascínio.
Excelente fotografia, cenografia e guarda-roupa.
Elio Petri dá ao filme um tom de surrealismo futurista, não evitando a momentos a sensação que tudo é uma sátira (bem crítica).
Marcello Mastroianni (com um personagem que se chama… Marcello) não é o actor que associamos a este tipo de filmes. Mas ei-lo descontraído, como se estivesse numa “Dolce Vita Futurista”.
Ursula Andress movimentava-se à vontade nestas coisas, fosse sci-fi ou desfile de sensualidade (e o guarda-roupa bem ajuda).
Elsa Martinelli faz uma perninha extra para consolo dos olhinhos.
Um original título de Sci-Fi, não muito longe de certos aspectos da sociedade moderna.
Um verdadeiro “pai” de “The Truman Show” e “The Hunger Games”.
“La Deccima Vittima” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados a bom preço.
Realizador: Elio Petri
Argumentistas: Tonino Guerra, Giorgio Salvioni, Ennio Flaiano, Elio Petri, Ernesto Gastaldi, a partir do conto de Robert Sheckley (“The Seventh Victim”)
Elenco: Marcello Mastroianni, Ursula Andress, Elsa Martinelli
Trailer
O conto de Robert Sheckley é narrado na primeira pessoa, sobre um caçador na caça à sua sétima vítima (uma mulher). O filme inverte tal.
O conto de Sheckley seria adaptado à Rádio, em 1957.
Ursula Andress substituiu Ann-Margret, pois esta já tinha muitos projectos agendados e não pode participar no filme.
Sue Lyon (a Lolita de Kubrick) chegou a ser ponderada depois da saída de Ann-Margret.
Kim Novak fez uma audition para protagonista.
Ursula Andress e Marcello Mastroianni namoraram durante as filmagens. Voltariam a trabalhar juntos em “Doppio Delitto” (1977).
A estética dos posters foi muito influente.
O filme ganhou enorme estatuto de cult movie.
Nos 90s, Mike Myers, Susanna Hoffs e Matthew Sweet, criaram uma banda musical, cujos elementos tinham nomes derivados do filme. O nome da banda era Ming Tea, o nome a empresa patrocinadora vista no filme.
Robert Sheckley escreveria uma novelização do filme, em 1966. O sucesso foi tal, que escreveu duas sequelas (“Victim Prime” e “Hunter/Victim”, em 1987 e 1988).
Sobre Robert Sheckley
https://www.goodreads.com/author/show/8489.Robert_Sheckley
http://www.sf-encyclopedia.com/entry/sheckley_robert
https://www.fantasticfiction.com/s/robert-sheckley/