John Carpenter`s “Escape from…”

 

 

John Carpenter sempre afirmou que entrou para o movie business porque queria fazer Westerns (ele chegou a escrever um para ser protagonizado por John Wayne, tendo até tido conversações com The Duke).

O espectador mais distraído pode olhar para a filmografia do The Master e achar que Carpenter falhou redondamente.

Pois bem, quem achar tal é que falha redondamente.

Se há algo que Carpenter sempre fez (90% da sua filmografia) foram Westerns.

 

Só que…

Disfarçados.

 

É esse um dos (muitos) talentos de Carpenter – saber fazer Westerns disfarçados.

Sejam de terror (“Halloween”, ”The Fog“, “Prince of Darkness”, “Vampires”, “Ghosts of Mars”), suspense (“Assault on Precinct 13”), comédia (“Memoirs of an Invisible Man”), fantasia (“Big Trouble in Little China”) e sci-fi (“Starman”, “They Live”).

 

Para o último género, é o caso da saga “Escape from…” (“… New York” e “… L.A.”).

Como sempre no Cinema de Carpenter, para além do entretenimento de um filme de género, há uma análise ao estado do mundo.

Este dupleto acaba por ser uma visão (bem certeira) do rumo que o mundo seguiria (e onde chegou e está). Hoje, deixam de ser filmes de ficção científica (na época em que foram feitos, as datas de localização da acção pareciam tão longínquas) e são mais “históricos (“… New York” passa-se em 1997 e “… L.A.” passa-se em 2013), sendo quase… “documentários”.

Passam 40 Anos sobre “Escape from New York” e 25 sobre “Escape from L.A.”. É, portanto, motivo de festa (para o fã, nerd e certos sectores cinéfilos minoritários).

Escapemos, então, a esta prodigiosa saga.

 

 

Nova Iorque 1997 (1981)

 

Título Original – Escape from New York

 

Em 1981, Carpenter decide fazer uma viagem ao futuro e antecipar muita coisa.

Em jeito de super-produção da Série B. Em tom de sci-fi. Num tom com (muitos) laivos de western. Com forte crítica sócio-política. E que hoje parece um “documentário”.

Pelo meio, é apresentado um personagem icónico, no Cinema, no Cinema de Carpenter e para o coração de muito cinéfilo – Snake Plissken.

 

Nova Iorque, 1997.

O (enorme) aumento do crime levou a que a Ilha de Manhattan se transformasse numa prisão, verdadeiro depósito para onde é enviada toda a escumalha da sociedade, que a habita de forma “livre”, com base na lei do mais forte. Há muros que cercam a cidade e a State Police vigia a prisão. Dentro da Big Apple só circulam os presos.

O Air Force One é alvo de um ataque e despenha-se na cidade. Acredita-se que o Presidente (Republicano) está a salvo.

Bob Hauk, Comissário da Polícia, tenta uma acção desesperada, suicida e heróica – infiltrar alguém na cidade, resgatar o Presidente e regressar a solo seguro.

Snake Plissken, veterano de guerra e renegado do sistema, é o homem ideal para a missão.

Mas é preciso convencê-lo.

Mais do que tentar que Plissken ajude um sistema que ele repudia, há o facto de ter apenas 24 horas para cumprir a missão. E muitas são a as adversidades.

É um claro Western (a cidade sem lei e ordem, o Xeriff sem soluções, o Gunfighter a ir resolver as coisas).

Há muito de Western, sim, mas há mais de Western Spaghetti (género do qual Carpenter é grande fã) – o protagonista é um anti-herói cínico, visão suja, decadente e corrupta da sociedade, violência.

É Sci-Fi visionária (um futuro apocalíptico do ponto de vista social e político, muito plausível – e cada vez mais).

É actioner (não faltam vilões, mauzões, inimigos e muitas peripécias enfrentadas pelo herói).

É terror (a Big Apple é uma verdadeira arena de morte, onde são poucas as hipóteses de sobrevivência).

É uma sátira (a forma como é visto o governo e o Presidente, com o regime republicano a ser o bombo da festa).

É um comic film (o tom, o ritmo, o visual do filme e o look do protagonista remetem para o melhor da bd ou das graphic novels).

É uma verdadeira super-produção à escala B (o filme custou meia-dúzia de milhões de Dólares, mas luzem como se fossem dezenas) e o total luxo e rigor da produção é visto em todos os planos.

É todo um tratado em todos os géneros, com o mérito ainda maior de todos eles serem magistralmente encenados e combinados.

Tudo resulta numa visão de um mundo feio e acabado (não há luz, só há destruição), bem grotesco e decadente no quotidiano (há arenas de sangue, o teatro musical é xunga, o líder dos criminosos tem ar de proxeneta).

O filme reflecte no futuro o que era a realidade USA da época em que foi feito – caos social e criminal, medo e insegurança, incompetência das autoridades e políticos.

Algo que já se tinha visto em “Dirty Harry” (1971), “Death Wish” (1974) e “Taxi Driver” (1976), com os quais “Escape from New York” se filia perfeitamente.

Há lugar para a ironia (antes de entrar na prisão de NY, pode-se pedir para ser executado ou cremado – é só pedir ao responsável policial de serviço; a cidade de entrada nos USA para tantos emigrantes em busca de liberdade e melhor vida é agora uma prisão), já se antecipa o 9/11 (um avião sequestrado por terroristas, um avião a despenhar-se contra um edifício de NY) e muita coisa de hoje (cidades confinadas, cidades entregues à anarquia, cidades sem lei & ordem, cidades sem controlo das autoridades), bem como o conflito geo-político da actualidade (há um conflito USA vs China & URSS).

Não falta luxo, com ares de super-produção (e até é, tendo em conta os custos de uma produção B da época, mesmo em género Sci-Fi) – os planos com os helicópteros, os muitos extras como os habitantes/prisioneiros da cidade.

Há elegância na visualização – o plano inicial e o seu movimento de câmara que revela Nova Iorque e o muro.

E até há cinefilia nas lines (“I thought you were dead.”).

John Carpenter dá ao filme um ritmo imparável, elabora brilhantes set pieces (a chegada de Plissken à cidade, a confrontação com os presidiários, a luta na arena, a perseguição na ponte), sabe assustar (os presidiários a moverem-se pelas ruas de NY parecem zombies à solta), brincar às coboiadas (o ataque à carrinha parece um a uma diligência) e cria uma tensão insustentável (Plissken tem 24 Horas para cumprir a missão, senão explode-lhe uma micro-bomba que tem nas veias).

E faz um uso perfeito do widescreen (o plano onde se vê o rio, o helicóptero, o muro e Nova Iorque).

A (primeira) conversa entre Snake e Hauk é um prodígio de Cinema (clássico) – encenação, planos, iluminação, diálogos e interpretações.

Mas se outros méritos não tivesse, “Escape fom New York” marca a presença desse incrível personagem que é Snake Plissken, autêntico pirata/corsário moderno (usa pala).

Com uma personalidade bem derivada da de Carpenter (que afirma que todos os seus protagonistas são variantes de si), Plissken é a evolução daquele que foi o seu pilar, o também corrosivo Napoleon Wilson (anti-herói de “Assault on Precinct 13”, o primeiro filme de Carpenter), sendo O verdadeiro símbolo do homem livre.

Plissken é um anarquista, não tem qualquer tipo de valores sentimentais (a sua indiferença perante uma violação), sociais (ele está numa de “I don`t give a fuck about your war”) ou políticos (pergunta “The Prisident of what?”, para ele a solução é “Get a new president”), é bem corrosivo e desarmante (a forma como diz “Call me Snake”), mas tem concepção de ética e do que é the right thing, sabendo distinguir bem e mal para o mundo (a sua atitude no final só mostra que tem algo que escapa aos restantes personagens, tão certinhos, legais e patrióticos), até tem sex appeal (quando ele é seduzido por uma mulher, para que ele a ajude a fugir de NY) e sabe dar-se ao respeito (o vincado “The name`s Plissken!”).

Snake Plissken é um personagem perfeito (na sua atitude e visual), sendo um dos maiores personagens do Cinema.

Fiel à essência do Western, é uma história de ligação entre dois homens.

Mas esta é algo sui generis, sendo mais um duelo de visão do mundo, apesar da parceria – Plissken e Hauk talvez nunca sejam amigos (têm atitudes e visões opostas perante mundo e vida), mas ganham um respeito mútuo, embora não isento da provocação viril (quando Hauk lhe pergunta “You still wanna kill me, Snake?”, este responde acidamente “I´m too tired. Maybe later.”), com o anti-herói a dar-se ao respeito (“The name`s Plissken.”).

Plissken só acredita no individualismo e anarquia, deixando de acreditar num sistema (pelo menos no existente) e na sociedade; Hauk está desencantado, mas defende que tem de haver um sistema (mesmo que mau – e ele mostra estar descontente com aquele para o qual trabalha e defende) e manter uma Lei & Ordem numa sociedade. Há um confronto entre ambos, mas Hauk quer que Plissken seja bem sucedido e acredita no sucesso da missão.

Carpenter inverte as regras – é o novato (Plissken) que é céptico e é o veterano (Hauk) que é o crente.

Carpenter é grande fã de Howard Hawks e o filme ilustra tudo isso.

Diálogos e lines viris, cheias de vários significados e que ilustram a personalidade dos envolvidos e do tipo de relação, história povoada por homens, poucas mulheres mas estas a mostrarem ter a garra necessária para se moverem entre os rapazolas, o heroísmo vindo não pelo número (os “heróis” estão em inferioridade numérica face aos mauzões) mas pela atitude e profissionalismo.

E não falta estilo (a chegada do Duke).

Carpenter, Russell e os restantes elementos do cast não estão sozinhos na excelência.

 

Há muita e grandiosa ajuda nas áreas técnicas:

  • Fotografia (um dos melhores trabalhos do grande Dean Cundey – habitual DP de Carpenter) – a iluminação da cidade, a iluminação sobre Snake Plissken quando ele chega ao gabinete de Bob Hauk, os enquadramentos nos face-a-face entre Plissken e Hauk, a constante de sombras e silhuetas em tom de Film Noir.
  • Cenografia (do grande Joe Alves, aqui num dos seus momentos altos) – a decoração da “praça” do check-in na prisão evoca algo de um estado ditatorial (de direita ou de esquerda), a decoração da cidade/prisão. Vemos, sentimos e quase cheiramos aqueles ambientes.
  • Belíssimos matte paintings (o parque dos helicópteros e NY ao fundo), simples e tremendamente eficazes efeitos visuais (a visão computadorizada do Gulfire sobre a cidade), maravilhosos miniature effects (a cena inicial, o voo nocturno, a maquete da cidade Nova Iorque é plena de detalhe). Em todos eles se mostra a mais-valia dos métodos old school quando nas mãos (e visões) de grandes profissionais.
  • Som cuidado e apurado (os da noite).
  • Música – fantástica e bem electrizante. Não só é um dos melhores scores de Carpenter, é também de todo o género e de todo o Cinema.

É John Carpenter em toda a glória do seu talento e visão do Cinema (e do mundo), a saber criar atmosfera, ritmo, tensão, espectáculo, entretenimento e grande Cinema.

Há um magistral cast em cena. Custa mesmo a acreditar que uma produção low budget consiga ter um elenco assim.

E todos estão impecáveis.

 

Isaac Hayes é temível como o Duke.

Donald Pleasence é patético (no personagem que cria, não na interpretação, OK?) como President.

Ernest Borgnine traz o sabor do Cinema dos old days.

Lee Van Cleef é seguro e firme, recordando algo do que fez nos (bons) Western-Spaghetti que tem no seu curriculum.

Kurt Russell vinha da Disney e procurava fazer algo de diferente. E eis a sua hora de glória, a mostrar o magnífico actor que é e a criar uma interpretação e personagem icónicos, de culto e emblemáticos. Uma interpretação e personagem que muitos bons actores ambicionam. Um performance e personagem inigualáveis e inimitáveis.

Russell pega em tiques e maneirismos de Clint Eastwood (a voz), mas nunca cai na imitação ou banalização. É uma criação pura, plena de personalidade, estilo, concebida como um (perfeito) star vehicle e (absolutamente) perfeita.

Uma assustadora visão do Futuro onde muito já é realidade (uma cidade confinada, cercada, como uma prisão – alguém se lembra de algo parecido nos tempos recentes?), resultando em grande Cinema de entretenimento, com um protagonista único e inesquecível.

Um clássico e um culto indiscutível.

 

Absolutamente obrigatório e imprescindível.

 

“Escape from New York” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados a bom preço. Já há uma nova edição 4K, com um novo master impecável e excelentes extras.

Realizador: John Carpenter

Argumentistas: John Carpenter, Nick Castle

Elenco: Kurt Russell, Lee Van Cleef, Ernest Borgnine, Donald Pleasence, Isaac Hayes, Season Hubley, Harry Dean Stanton, Adrienne Barbeau, Tom Atkins, Charles Cyphers

 

Trailers

 

Intro

 

Clips

 

 

O Main Theme

 

A banda sonora

 

John Carpenter ao vivo

 

Orçamento – 6 Milhões de Dólares

Bilheteira – 25 Milhões de Dólares (USA); 50 (mundial)

 

O filme teve várias e importantes nomeações para os Saturn 1982 – “Melhor Filme – Ficção Científica” (perdeu para “Superman II”), “Melhor Realizador” (John Carpenter foi derrotado por Steven Spielberg em “Raiders of the Last Ark”).

 

Pré-produção

John Carpenter teve a ideia para o argumento a partir do livro “Planet of the Damned”, de Harry Harrison. Conta a história de um fora-da-lei, bem perigoso e mortífero, que é enviado para o lugar mas perigoso do Universo, para efectuar uma missão impossível.

Carpenter escreveu o argumento a meio dos 70s, perante o escândalo Watergate bem como com o crescimento do crime nas grandes cidades e o aumento do vigilantismo. Carpenter sondou vários estúdios, mas todos o recusaram por acharem o argumento demasiado negro e violento. Tudo mudaria depois do (enorme) sucesso de “Halloween”.

Depois do (enorme) sucesso de “Halloween”, Carpenter foi contratado pela Avco Embassy para fazer dois filmes – um foi “The Fog”, o outro seria “The Philadelphia Experiment” (adaptação de um popular romance de sci-fi). Carpenter revelou dificuldades em escrever o terceiro acto do argumento. Os produtores permitiram que Carpenter abandonasse o projecto e pediram-lhe algo que ele tivesse já escrito. Carpenter propôs “Escape from New York”. A aprovação foi imediata.

Carpenter e Kurt Russell já tinham trabalhado juntos em “Elvis” (1977), um (excelente) telefilme (de 3 horas) dedicado ao King (de quem Carpenter e Russell são grandes fãs). Russell já era actor desde criança e tinha sido treinado na Disney. Actor e cineasta deram-se tão bem, que ficou a promessa de voltarem a trabalhar juntos (fizeram cinco filmes em conjunto). Russell queria libertar-se da imagem que tinha junto da indústria, devido ao seu curriculum na Disney. Carpenter foi sensível a tal e pensou em Russell para Snake Plissken. Carpenter teve de ser bem insistente juntos dos studio executives.

O estúdio estava receoso face a Kurt Russell, dado o seu background na Disney.

O estúdio queria Charles Bronson para protagonista. Carpenter recusou. Apesar de ser grande fã do actor, o cineasta achou que Bronson já estava velho para o personagem e acreditava que poderia perder controlo criativo sobre o filme (Bronson era muito exigente nas suas vontades).

O estúdio também propõe Tommy Lee Jones para protagonista. Ele foi sondado, mas recusou. Jones já tinha protagonizado um filme escrito por Carpenter (“Eyes of Laura Mars”, em 1978, de Irvin Kershner, com Faye Dunaway) e voltaria a fazê-lo (“Black Moon Rising”, em 1986, de Harley Cockliss, com Linda Hamilton e Robert Vaughn).

Nick Nolte e Jeff Bridges foram ponderados como protagonistas, mas ambos recusaram. Bridges trabalharia com Carpenter em “Starman”, onde receberia uma nomeação ao Oscar.

Kris Kristofferson foi considerado, mas logo recusou para participar nesse (fabuloso) filme e (gigantesco) flop que é “Heaven`s Gate” (1980, de Michael Cimino).

Chuck Norris foi considerado como protagonista, mas recusou.

Clint Eastwood foi considerado como Snake Plissken. Russell inspirou-se em Eastwood e na sua criação como “The Man with no name” na trilogia de Sergio Leone (“A Fistful of Dollars”, “A Few Dollares More”, “The Good, The Bad, The Ugly”).

Na época, era o maior orçamento com que Carpenter já tinha trabalhado.

Foi Russell que sugeriu que Snake usasse uma pala num olho.

Donald Pleasence foi convencido por Carpenter para que visse o seu personagem como fruto de uma relação ilícita entre Ronald Reagan e Margaret Thatcher.

Pleasance foi chamado pois Carpenter queria dar humor ao President.

 

O personagem de Harry Dean Stanton foi pensado para Warren Oates.

Nick Castle acrescentou mais humor ao argumento, criou o personagem Cabbie e escreveu o final.

A line “I thought you were dead” (dita sempre a Snake) é retirada de “Big Jake” (1971, de George Sherman, com Richard Boone, Maureen O’Hara e John Wayne – de quem Carpenter é grande fã). Nesse filme, o personagem de Wayne era sempre confrontado com a frase “I thought you were dead“.

Carpenter delineou uma cena onde Hauk explica a Snake que o que lhe foi injectado era apenas uma gripezita. Carpenter não usou a ideia mas iria usá-la na sequela, “Escape fom L.A.” (1996).

 

Filmagens

O filme usou umas novas câmaras da Panavision, que requeriam menos luz.

As cenas nocturnas foram filmadas em St. Louis, Illinois. O quarteirão onde se filmou foi alvo de um incêndio enorme em 1976. Graças a truques de enquadramento, iluminação e cenografia, o local passava por NY.

Carpenter conseguiu convencer as autoridades de St. Louis para desligar as luzes de 10 blocos, durante as filmagens nocturnas.

Os destroços do avião presidencial era um antigo Convair 580. Foi trazido de uma sucateira de aviões para St. Louis, desmontado em três partes. O transporte e montagem no set era feita de forma algo clandestina, pois não havia toda autorização para o seu uso.

Muito do lixo que se vê na rua era mesmo lixo que a equipa de production design trazia de lixeiras.

Foi o primeiro filme a filmar na zona da Estátua da Liberdade. Isso é visto no filme. Contudo, e graças à magnífica montagem, um determinado plano começa em NY, ao lado do monumento, continua por uma cabine (ainda em NY) e termina no set de St. Louis.

A luta no ringue foi filmada na Union Station de St. Louis.

O modelo usado para a cidade de Nova Iorque seria depois reutilizado (mas aqui, a cidade seria L.A.) em “Blade Runner” (1982).

A água ao redor de Nova Iorque tinta reflectora, pintada no chão, à volta da maquete da cidade.

Quando o Gulfire aterra, é o model do edifício que se mexe e não o planador.

O telhado do World Trade Center foi filmado no deserto californiano.

Russell usou duas palas – uma para as cenas de diálogo (que lhe tapava a visão do respectivo olho) e outra (que lhe permitia visão) para as cenas de acção. Mas não as podia usar por muito tempo, pois prejudicavam-lhe a percepção de profundidade de campo.

Pleasence usou a sua experiência como antigo prisioneiro de guerra (ele foi combatente na Segunda Guerra Mundial) para ilustrar o desespero do Presidente quando prisioneiro.

Jamie Lee Curtis (actriz revelada por Carpenter em “Haloween”) dá voz ao prólogo e ao computador da prisão.

Ox Baker é o wrestler na cena do ringue. Baker era um artista da modalidade e levou a cena bem a sério. Tão sério, que Russell a certo momento está mesmo a lutar pela sobrevivência. Tal ajudou ao realismo da cena e à convicção dos actores. Mas Russell conseguiu convencer Baker a estar mais calmo.

Carpenter e Russell contracenam com as suas esposas (na época) – Adrienne Barbeau era a esposa do cineasta, Season Hubley era a esposa do actor.

 

Momentos

As imagens em que se vê a cidade de Nova Iorque num modelo 3D, num monitor, não é um efeito CGI. Tal sairia muito caro, pelo que se recorreu a um (engenhoso) practical effect – um modelo, em miniature, da cidade foi feito, pintado de preto, tendo-se colocado fita adesiva branca e brilhante nos contornos dos edifícios; uma câmara filmou a panorâmica e o resultado é o que se vê no filme.

O momento em que se vêem helicópteros no Central Park foi filmado em San Fernando, California. O fundo é um matte painting.

Num momento, vê-se um guarda-costas do Presidente e tentar abrir uma porta do Air Force One. Ele é Steven Ford, filho de Gerald Ford (que fora o Presidente dos USA, anos antes).

Num momento, vemos o Presidente com uma peruca. Foi uma ideia improvisada de Pleasence.

O personagem de Tom Atkins chama-se Rehme – é uma referência a Robert Rehme, o Presidente (na época) da AVCO Embassy, o estúdio produtor.

Pleasence e Atkins participaram na saga “Halloween”, mas nunca se encontraram. Pleasence participou em vários que envolveram o personagem Michael Myers, Atkins só participou em “Halloween III: Season of the Witch” (1982; um título completamente à margem da saga de Michael Myers).

Vários personagens (secundários) têm nomes de relevantes cineastas e realizadores – Cronenberg (David Cronenberg), Romero (George A. Romero), Taylor (Don Taylor).

Todos os personagens que dizem a Snake “I heard you were dead” morrem.

O shot onde se vê o destino da personagem de Barbeau foi filmado depois das filmagens principais. Só quando estava na fase de montagem é que Carpenter soube que não tinha explicado tal destino. O shot foi filmado na garagem da casa de Carpenter. Quem comunicou tal problema a Carpenter foi um ainda jovem J.J. Abrams (sim, o do reboot a “Star Trek”, do novo “Star Wars”, de “Cloverfield”, “Lost”). O pai de Abrams trabalhava no estúdio produtor.

 

Pós-produção

Carpenter filmou um prólogo, onde mostra Snake a assaltar a Federal Reserve. Nas Previews, o público não entendeu a cena e achou-a fora do contexto. Amigos de Carpenter acharam que a cena atrasava o filme a chegar a Nova Iorque. Também houve quem reclamasse que o prólogo suavizava a atitude de Snake Plissken, mostrando-o sensível (ele preocupa-se num momento com o cúmplice). Perante tantos “conselhos”, Carpenter decidiu retirar a cena. Os Extras das edições especiais em DVD e Blu-Ray mostram a cena.

A cena apagada

(onde se ouve a voz de Jamie Lee Curtis)

 

 

Efeitos

No genérico final vê-se que o autor do matte paintings é um certo Jim Cameron. Na verdade é James Cameron. Sim, o (futuro) autor de “The Terminator”, “Aliens, “The Abyss”, “Terminator 2”, “True Lies”, “Titanic” e “Avatar”. Cameron trabalhava para Roger Corman, na New World Pictures, tendo já boa reputação nessa área (fazia muito com pouco).

O filme foi um sucesso de bilheteira e de crítica.

O filme tornou-se um cult movie imediatamente após a sua estreia.

“Escape from New York” empurrou a carreira de Kurt Russell, mostrando como um actor versátil, capaz de filmes e personagens mais sérios e densos, libertando-o assim da imagem juvenil e infantil da fase Disney.

Kurt Russell afirma que este é o seu filme favorito, de todos os que fez, e que Snake Plissken é o seu personagem favorito, dos que interpretou.

Russell sobre tal:

 

John Carpenter ficava com três (grandes) sucessos consecutivos (“Halloween”, “The Fog”, “Escape from New York”) e logo se viu como um novo wonder boy em Hollywood. O seu nome foi assim lançado para as Majors, mas nem sempre as coisa$ correram bem (“The Thing”, o filme que o cineasta fez logo a seguir; “Big Trouble in Little China”).

John Carpenter sobre o filme:

 

“Escape from New York” estabelece e reforça a parceria entre John Carpenter & Kurt Russell (uma das melhores e mais relevantes no Cinema). Era o segundo filme, em cinco (e todos excelentes) – “Elvis” (1979), “Escape From New York” (1981), “The Thing” (1982), “Big Trouble in Little China” (1986) e “Escape from L.A.” (1996).

Making of

 

Em 2003, surgiu a ideia de uma anime, inspirada pelo filme. Mitsuro Hongo seria o realizador, com argumento de Corey Mitchel e William Wilson, com supervisão de John Carpenter, Debra Hill e Kurt Russel. Carpenter criaria a música e Russell daria voz a Snake Plissken. O filme deveria estrear em 2005, mas o projecto nunca saiu do papel. Sobrou um Teaser e um conjunto de desenhos.

http://www.animenewsnetwork.com/interest/2013-10-09/more-art-from-defunct-production-i.g-snake-plissken-anime-unearthed

http://www.animenewsnetwork.com/interest/2013-10-03/art-from-i.g-shelved-snake-plissken-anime-revealed

http://www.aintitcool.com/node/64533

 

William Gibson, pai do Cyberpunk, cita “Escape from New York” como uma forte influência sobre o seu (influente) livro “Neuromancer”.

Snake Plissken foi influente na criação do protagonista do jogo “Metal Gear” e em todas as sequelas. Solid Snake é o nome do herói dos jogos. Em “Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty”, Solid usa o pseudónimo de “Pliskin”.

J.J. Abrams inspirou-se num dos posters de “Escape from New York” (os que mostram a cabeça da Estátua da Liberdade caída nas ruas de Nova Iorque) para uma cena de “Cloverfield” (2008, produzido por Abrams) – o momento em que a cabeça da Estátua da Liberdade rola por uma rua de Nova Iorque.

A Empire colocou Snake Plissken na posição #71 dos “The 100 Greatest Movie Characters“.

O American Film Institute deu três nomeações a “Escape from New York”:

  • “AFI’s 100 Years…100 Thrills”
  • “AFI’s 100 Years…100 Heroes and Villains: Snake Plissken
  • “AFI’s 10 Top 10 – Nominated Science Fiction Film”

Em 1979, é editado um livro intitulado “Star Gold”, escrito por Leo P. Kelley. Conta a história de Brett Kinkaid, um agente da Polícia Espacial acusado injustamente de um crime, que cumpre prisão perpétua na Terra (que é toda ela uma prisão), mas que recebe uma oportunidade de ganhar a sua liberdade – ir ao planeta Alba e salvar uma mulher presa dos habitantes locais.

Em 1981, a Bantam Books editou uma novelização do filme, escrita por Mike McQuay. Carrega mais no humor, mantém a cena inicial que foi apagada, dá mais explicações sobre o passado de Snake (incluindo o que o levou a ter de usar pala num olho) e Hauk (como chegou a líder da Polícia em Nova Iorque, a sua procura pelo seu filho na prisão de NY), desenvolvendo mais a relação entre ambos.

 

Em 1997, a Marvel criou um one-shot, intitulado “The Adventures of Snake Plissken”. Passa-se entre o final de “Escape from New York” e a fuga de Cleveland mencionada em “”Escape from L.A.”.

http://users.livejournal.com/_call_me_snake_/303917.html

Em 2003, a CrossGen editou “John Carpenter’s ´Snake Plissken Chronicles`”, uma mini-série em quatro números, que se passa logo a seguir aos eventos de “Escape from New York”.

http://heykidscomics.wikia.com/wiki/John_Carpenter’s_Snake_Plissken_Chronicles_Vol_1

 

Em 2014, a BOOM! Studios começou uma série dedicada a Snake Plissken. Escrita por Christopher Sebela, desenvolvia eventos a partir do final de “Escape from New York”.

Em 1981 foi editado um jogo, mas de tabuleiro. Criado pela TSR, chamava-se “Escape from New York”.

https://boardgamegeek.com/boardgame/731/escape-new-york

Há uns anos, surgiu a moda de fazer remakes de filmes de John Carpenter (“Assault on Precinct 13” em 2003, “The Fog” em 2005, “Halloween” em 2008, “The Thing” em 2011).

Seria uma questão de tempo até alguém se lembrar de “Escape from New York”.

Aconteceu. E é tal a confusão (imensos nomes como protagonista e na realização, vários produtores interessados, várias ideias narrativas, vários projectos), que daria para um filme. Já explicarei mais e melhor.

Uma apreciação de um Fan:

 

Em 1996, Carpenter e Russell reúnem-se para a desejada sequela – “Escape from L.A.”.

O filme falha nas bilheteiras, divide muita crítica e fãs.

O tempo ajuda na criação de um certo culto.

 

Remake

Há uns anos, surgiu a moda de fazer remakes de filmes de John Carpenter:

  • “Assault on Precinct 13” (2003, de Jean-François Richet, com Ethan Hawke, Laurence Fishburne, Brian Dennehy, Maria Bello, Gabriel Byrne; é o melhor desta lista de remakes, resultando num muito competente e trepidante action suspense thriller; o filme conta com elogios de Carpenter).
  • “The Fog” (2005; um desastre).
  • “Halloween” (2007, de Rob Zombie; menos bom que o original, com toda a estética e loucura de Zombie a funcionar bem, ainda que com demasiadas explicações e complacências sobre Michael Myers; Carpenter recusa-se a falar sobre o filme; teria sequela em 2009, também pela mão de Zombie, mas é um susto de mediocridade).
  • “The Thing” teve uma prequela em 2011 (muito agradável, diga-se), mas quase parecia um remake (mas o rumo dos eventos não dava para mais liberdade criativa).
  • “Big Trouble in Little China” está na agenda (fala-se em Dwayne Johnson como protagonista, quer-se cameo de Kurt Russell e John Carpenter como executive producer).

 

Poi bem, “Escape from New York” não é excepção.

A história é longa, ainda não teve fim, mas parece é que nunca se irá realizar (ainda bem, não? alguém vê um realizador capaz de igualar o que Carpenter fez? quem se atreve a pegar num personagem que foi Kurt Russell que tornou icónico?).

Vamos resumir:

  • Sim, surgiu a ideia de um remake– foi em 2007.
  • Neal Moritz (a saga “Fast & Furious”) é o primeiro produtor interessado. Joel Silver (“48 Hrs.”, “Predator”, “Lethal Weapon”, “Die Hard”) surge em 2013, pela sua companhia Dark Castle (que fundou em parceria com Robert Zemeckis).
  • Para realizador, andaram nomes como Brett Ratner (“Rush Hour”), Breck Eisner (“Sahara”), Jonathan Mostow (“Breakdown”) e Len Wiseman (“Underworld”).
  • Para interpretar Snake Plissken, pensou-se em Gerard Butler (“Olympus Has Fallen”), Jeremy Renner (“The Hurt Locker”), Timothy Olyphant (“The Crazies”), Josh Brolin (“No Country for Old Men”), Charlie Hunnam (“Papillon”- a versão recente, como é óbvio), Jon Bernthal (“The Walking Dead”) e Dan Stevens (“The Guest”).
  • Pensou-se em remake, depois prequela (a explicar as origens de Snake Plissken e o que o leva a ser preso em Nova Iorque – ora, Snake Plissken é icónico sem precisar de explicações sobre as suas origens; o porquê de ser preso está explicado no filme e até há uma deleted scene que mostra e explica tal), trilogia e depois série televisiva.
  • John Carpenter está ansioso que tal aconteça (e assim ganhar qualquer coi$ita pelos direitos). Mas fala-se que Kurt Russell tem movido esforços para evitar tal, pois Russell acha que não se deve mexer e estragar o estatuto de culto de Snake Plissken, acrescido de que (e com toda a razão, diga-se) Russell acha que nenhum actor fará melhor que ele.
  • As últimas notícias dão Leigh Whannell (“Saw”, “Insidious”, “Upgrade”, “The Invisible Man”) a fazer o argumento, com os produtores a estarem interessados no filho de Kurt Russell, Wyatt, para ser Snake Plissken. Mas Wyatt recusa-se a tal.

Aguarde-se, portanto, por escapes de mais novidades (que, à semelhança do até agora, devem conduzir… a nada).

 

 

 

 

Fuga de Los Angeles (1996)

 

Título Original – Escape from L.A.

 

Snake is back.

15 anos depois.

Agora em L.A.

Agora contra os Democratas.

 

Ano 2013.

Depois de ser devastada por um terramoto, L.A. fica separada dos USA.

Os USA são governados por um governo Democrata, fanático e religioso.

Para a ilha de L.A. são enviados todos aqueles que não cumprem a nova moral do Presidente.

Snake Plissken (a caminho de L.A.) é chamado para uma missão de alto risco – entrar em L.A., localizar a filha do Presidente (ela pertence à Resistência), matá-la e trazer um disco com informação vital para o governo cimentar ainda mais o poder.

Snake recebe dois incentivos:

  • é injectado com um vírus letal.
  • tem 16 horas para cumprir a missão.

O original é negro, sério e irónico.

A sequela é mais divertida, cínica, colorida e campy.

Ambos são injecções de veneno para a hipocrisia/incompetência social, policial e política.

Carpenter goza e arrasa com Hollywood e as suas rules (os digital effects parecem coisa de amador ou baratuchos; a Universal é mostrada afundada; há um o plano onde se vê Hollywood a arder).

Se New York era uma prisão que se regia pela lei do mais forte, L.A. revela-se um dark paradise onde luxúria, prazer, diversão e libertinagem não têm limites (veja-se a cena da clínica de cirurgia plástica que é um circo de aberrações).

Carpenter sabe fazer homenagens cinéfilas (o casaco lembra as indumentária dos heróis dos Western-Spaghetti de Sergio Leone; o duelo lembra o gag em “Raiders of the Lost Ark”).

Carpenter diverte-se a fazer copy/paste de “Escape fom New York” em certas cenas, momentos e planos.

Carpenter volta a gozar com a ideologia política da White House – se em “Escape from New York” os Republicanos eram uns infelizes e uns bobos da corte, em “Escape fom L.A.” os Democratas são um bombo de festa como uns fanáticos totalitários (o President muda a Constitution de forma a ser vitalício no poder), sendo ridicularizados (o President é cobarde, esconde-se, tem medo, refugia-se na oração como procura de soluções) e diabolizados (o President quer que Snake mate a filha).

E traz (como sempre) alerta político, social e de media (fala-se em fake news, manipulações de informação e propaganda).

Ou seja, Carpenter volta a fazer um Western, uma parábola político-social (bem pertinente hoje), um alerta (que quase ninguém esteve atento ou quis ouvir), uma brincadeira cinéfila, grande entretenimento e grande Cinema.

15 anos separam os dois filmes.

 

Mas nem Carpenter nem Russell acusam fadiga. Com a ajuda de um orçamento desafogado (50 milhões de Dólares), Carpenter elabora um poderoso filme de acção, sempre com piscadelas de olho à sci-fi, ao western, sem esquecer a sátira política (o regime democrata mostra-se um caos maior do que aquele que quer resolver).

Há ajustes de contas com Hollywood  – o filme goza com as convenções do género, com a sociedade da “zona” (veja-se a cena com o cirurgião plástico) e com os grandes estúdios (veja-se o plano de Hollywood a arder).

E, como sempre, há um antecipar da actualidade (cidade confinada, cidade em lei & ordem, cidade sem controlo da autoridade, cidade de total liberdade).

 

Parece um remake (a linha narrativa é semelhante ao filme anterior), é sequela (fala-se de eventos de “Escape from New York”), mas Carpenter dá ao filme uma forte personalidade, numa lógica de “tudo vale” e plena de excesso e delírio (veja-se a cena do surf), superando-se sempre.

Kurt Russell já estava acima dos 50s, mas mostra estar em grande forma e que Snake Plissken só pode ser interpretado por ele. Snake não perdeu o seu corrosivo sarcasmo (“Sad story. Got a smoke?”) nem a agressividade (a forma como despacha muitos inimigos), muito menos a practibilidade (a forma como resolve tudo, no final).

Há um estupendo elenco ao seu redor, em prestação adequada ao filme e ao seu tom.

Excelente fotografia, cenografia e guarda-roupa.

Efeitos visuais de bom nível, mas só quando são practical effects e old school. Quando o filme recorre ao CGI, é para rir (mas fica sempre a sensação que é essa a intenção de Carpenter, como que um statement a tal uso excessivo no cinema moderno).

John Carpenter mostra o quanto se está a divertir com tanto exagero e delírio, criando um filme assumidamente anárquico, louco, não-convencional e venenoso.

Assustadoramente, “Escape From L.A.”, tal como “Escape from New York”, têm uma forte actualidade (será Carpenter um profeta?) e o final deste “”… L.A.”…

Uhhh, bom, apetece mesmo fazer algo aquele nível. E assim se resolvem todos os problemas da Humanidade e esta livra-se da escumalha que a governa e controla.

É um dos finais mais apocalípticos, venenosos, destrutivos e pessimistas de todo o Cinema.

O filme não reuniu o consenso do anterior. Ainda tem muitos ódios, mesmo entre os fãs de Carpenter e os de “Escape from New York”.

Menos perturbante e cínico que “Escape from New York”, mas mais irónico e corrosivo, “Escape From L.A.” é um dos mais subvalorizados filmes das últimas décadas, que na época não recebeu o devido e merecido apreço, mas felizmente já encontra alguma revalorização.

 

Obrigatório.

 

“Escape From L.A.” tem edição portuguesa e está a bom preço.

Outros mercados já têm uma Collector`s Edition, com um preço jeitoso. Pena que nem John Carpenter ou Kurt Russell tenham presença por lá (infelizmente não podemos contar com os seus divertidos e esclarecedores comentários).

Realizador: John Carpenter

Argumentistas: John Carpenter, Debra Hill, Kurt Russell, a partir de personagens criados por John Carpenter e Nick Castle

Elenco: Kurt Russell, Steve Buscemi, Peter Fonda, Cliff Robertson, Valeria Golino, Stacy Keach, Pam Grier, Bruce Campbell, Georges Corraface, Michelle Forbes, A.J. Langer, Peter Jason, Paul Bartel, Jeff Imada, Breckin Meyer, Robert Carradine, Leland Orser

 

Orçamento – 50 Milhões de Dólares

Bilheteira – 25 Milhões de Dólares (USA); 42 (mundial)

 

Trailers

 

Clips

 

No final, Snake explica como se resolvem os problemas do mundo

(a ver só por quem já viu o filme)

 

Making of

 

Esteve nomeado para “Melhor Filme de Ficção Científica”, nos Prémios Saturn 1997. Perdeu para “Independence Day”.

O filme já andava planeado há mais de 10 anos. Em 1985, Coleman Luck escreveu um argumento, mas John Carpenter recusou (achou-o muito light e campy). Um reencontro entre Carpenter, Kurt Russell e Debra Hill levou a que surgissem ideias e o projecto avançou. Muito se deve a Russell e à sua insistência.

O terramoto em L.A., em Janeiro de 1994, serviu como desculpa para Carpenter e Russell avançarem definitivamente com o filme, dando-lhes também ideias para o argumento.

Russell escreveu todo o final do filme.

 

Sherry Lansing, a líder da Paramount Pictures (a Major que produz o filme) era uma enorme fã de “Escape from New York”. Pediu a Carpenter, Russell e Hill que fizessem a sequela no mesmo tom do original.

 

Kate Hudson foi considerada para interpretar a filha do Presidente.

Steve Buscemi aceitou participar, pois o salário seria usado no seu primeiro filme como realizador – “Trees Lounge” (1996).

Make-up do grande Rick Baker (“An American Werewolf in London”).

Filmado nos estúdios Paramount.

(segundo Carpenter, durante a noite, para assim não ser incomodado pelos studio executives)

 

Jamie Lee Curtis dá voz ao prólogo. Curtis fez o mesmo em “Escape From New York”.

 

Russell é o único elemento do elenco do filme original que regressa nesta sequela.

Num momento do filme, Russell veste a mesma indumentária que usou em “Escape from New York”. E não são imitações da roupa original. É, de facto, A Mesma roupa que ele usou no filme de 1981. Continuavam a servir-lhe.

Russell treinou basketball para ser o mais autêntico possível nos momentos em que Snake “joga” tal desporto.

Num determinado momento, Snake pergunta a um elemento da autoridade se “got a smoke?“. A mesma pergunta é feita, frequentemente, por Napoleon Wilson (um dos grandes personagens do Cinema de John Carpenter e, em certa medida, o “rascunho” de Snake Plissken) em “Assault on Precinct 13” (1976, o primeiro filme do cineasta).

No filme, brinca-se muito com Cleveland. Segundo Carpenter, Snake Plissken é inspirado num amigo de um amigo dele, que conhece um indivíduo em Cleveland chamado… Snake Plissken (sim, e tem uma tatuagem de uma cobra, no peito).

Na batalha final, quando vemos Eddie pendurado num helicóptero, vêem-se vários edifícios atrás dele. Um deles diz “Miniatures” – é uma referência a uma técnica usada no filme (miniature effect – algo que foi muito usado em “Escape from New York”).

O momento em que Snake e Eddie estão no Queen Mary a caminho de se reunirem com um aliado, foi mesmo filmado no verdadeiro Queen Mary. O famoso navio está ancorado em Long Beach. O momento do encontro já foi filmado em estúdio.

O vírus que é referido na história era para ser usado no primeiro filme.

 

Cameo de Wyatt Russell (filho de Kurt) – é o órfão, de boné, com quem Snake troca olhares, quando escoltado pela polícia, no hall da esquadra.

 

O grupo White Zombie compôs uma canção para a banda sonora – “The One”. O seu líder, Rob Zombie, faria um (interessante) remake de um filme de John Carpenter – ”Halloween”(1978). Sobre tal, The Master não quer conversa (é compreensível).

Snake Plissken inspirou o personagem de um videogame – Solid Snake, em “Metal Gear”. Hideo Kojima confirmou tal influência.

Snake Plissken chegaria aos comics. Tinha mesmo de ser esse o seu destino. Se atendermos ao tom dos dois filmes e ao look de Snake, há uma total influência de comic book e comic hero, em ambos.

Em 1997, a Marvel editou “The Adventures of Snake Plissken”, um one-shot. Passado entre “Escape from New York” e a tal fuga de Cleveland que se fala em “Escape from “L.A.”. Snake assaltou o centro de Atlanta do Center for Disease Control, apoderando-se de um vírus para o vender ao melhor preço. Snake é alvo de uma armadilha, consegue fugir e procura vingar-se de quem o denunciou. Uma unidade científica do governo criou um robot chamado ATACS (Autonomous Tracking And Combat System), que captura criminosos, criando um rigoroso retrato psicológico dos foragidos. Snake é o seu primeiro alvo. No confronto, Snake destrói ATACS. Este ainda lhe pergunta “Why?“, ao que Snake responde “I don’t need the competition“.

O filme foi foi um flop de bilheteira e crítica (só mesmo a europeia é que foi mais simpática).

A prestigiada dupla de críticos de Cinema Gene Siskel & Roger Ebert tiveram uma “discussão” bem acesa à volta do filme. Ebert percebeu as intenções (muy bien) de Carpenter, Siskel, não (trengo!!!).

(a partir de 06.30)

 

Um terceiro “Escape from…” esteve pensado. Chamar-se-ia “Escape from Earth”. John Carpenter, Kurt Russell e Debra Hill já escreveram um argumento prévio.  Snake Plissken teria de fugir da Terra, depois de um vírus (de origem governativa?) ter transformado 99% da população mundial em zombies. Sabe-se que há muita coisa escrita, mas ainda nada seguiu em frente. O falhanço de “Escape from L.A.” pode ter sido fulcral no ainda não concretizar deste projecto.

 

 

As Sequela(s)

 

Durante anos sempre falou-se num terceiro “Escape from…”.

Surgiu uma oportunidade e ainda há outra.

 

 

“Ghosts of Mars” (2001)

(“Fantasmas de Marte”)

 

Um grupo de polícias de elite transporta um perigoso fora-da-lei. Mas o convoy tem um acidente e o grupo tem de atravessar um território hostil em Marte, que é dominado por uns indígenas locais bem sedentos de sangue… humano. 

É John Carpenter a mover-se novamente pelo Western (a trama é uma pura coboiada, onde Marte substitui o Texas, Arizona, Colorado, etc.), com uma forte componente de terror (no “planeta vermelho” está uma espécie algo vampírica, com semelhanças à raça humana) e de sci-fi (Marte já anda colonizado pelos humanos – pois, é um tema que se fala agora, mas Carpenter já se antecipou…  como sempre).

E Carpenter ainda faz cinefilia – a trama é toda contada em flashbacks, com vários pontos de vista, o que recorda “Rashomon” de Akira Kurosawa.

Não é um título vintage (soa mesmo a best of de vários filmes de Carpenter), mas tem um cast interessante (Natasha Hentridge até convence como kick-ass lady, Pam Grier sempre tough, um Jason Statham em ascensão) mas com um grave erro de casting (Ice Cube é um canastrão insuportável, estando mais a interpretar-se do que a criar um personagem – que tem grande potencial, diga-se).

É visível que poderia ser mais uma aventura de Snake Plissken (o anti-herói tem o belo nome de Desolation Williams, com postura e atitude que recordam a perfeita criação de Kurt Russell).

E esteve quase para ser.

O filme foi escrito como tal, para ser o terceiro “Escape from…”. Mas dado o flop de “Escape fom L.A.” temeu-se que um novo “Escape from…” levaria o público a afastar-se.

E assim, o terceiro “Escape from…”… não aconteceu.

 

 

 

“Escape from Earth”

 

John Carpenter, Kurt Russell e Debra Hill já fizeram um argumento inicial.

É esta a terceira aventura de Snake Plissken.

 

Futuro.

A Terra está a ser destruída por uma pandemia.

A solução passa por fugir do “planeta azul”.

E Snake Plissken vê-se metido em grandes peripécias (e com personagens estranhos e um governo incompetente) para conseguir tal.

 

Recordo/informo que Carpenter (& companhia) criaram o argumento (muito, mas muito) antes… da pandemia… Covid-19.

O que volta a confirmar Carpenter como um visionário.

O argumento continua na prateleira, sem se saber que destino vai ter. Com a passagem de todo este tempo, o mais certo é que (infelizmente) nunca seja realizado (Carpenter e Russell já admitiram essa possibilidade).

Pena!!!

 

“John Carpenter`s ´Escape from…`” (“.., New York” e “… L.A.”) é puro Cinema de John Carpenter, Cinema, entretenimento, autênticos Westerns (onde se vê muita paixão pelo género) e visões do mundo (que, afinal, parece que nada aprendeu com os “recados” do Master Carpenter e criou outros apocalipses urbanos).

É Carpenter a mostrar mais uma vez que está muito à frente na forma como está no e vê o mundo, conseguindo antecipar-se a muitos horrores sócio-político-económicos modernos.

E é essa sempre a força desta saga (e do Cinema de John Carpenter).

Pena que ainda não tenhamos um terceiro “Escape from…”.

(ou, se calhar, já estamos a viver um – só precisamos é da ajuda de Snake Plissken para fugir)

 

 

Sobre Snake Plissken:

http://en.wikipedia.org/wiki/Snake_Plissken

http://users.livejournal.com/_call_me_snake_/303917.html

http://www.comicvine.com/snake-plissken/29-54553/

https://hero.fandom.com/wiki/Snake_Plissken

https://www.sideshow.com/collectibles/escape-from-new-york-snake-plissken-pop-culture-shock-905554

 

 

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