Título original – Amore, Piombo e Furore
Título internacional – China 9, Liberty 37
Um dos últimos Western-Spaghetti.
Ainda com bons nomes.
Clayton é um pistoleiro contratado por uma empresa de caminhos de ferro, no sentido de liquidar um rancheiro cuja propriedade está no caminho dos interesses da companhia.
Mas o pistoleiro apaixona-se pela esposa do old timer.
Sim, parece ter algo de “Shane” (o pistoleiro num lar alheio, os afectos à Senhora e a amizade com o “homem da casa”), mas aqui estamos em revisitação pós-moderna do Western, já pelo olhar reformista de Sam Peckinpah (há desconstrução dos arquétipos míticos do género, a ilustração da violência; o próprio até faz um cameo como que a fazer essa ligação) e do Western-Spaghetti (a imoralidade dos personagens, o tom sujo e feio, a ausência de heróis).
Não se deixa de olhar para o passado clássico a retomar algo de outrora (o idealismo romântico do pistoleiro), mas já se vê aqui muito de cinema indie americano (o tom, o ritmo, a personalidade errante dos personagens; algo ao qual o realizador está muito ligado).
Pelo meio, é mais uma coboiada sobre o gunfighter romântico, o triângulo romântico, os duelos entre valores rurais e interesses corporativos.
Nada de novo.
Não está mais tratado, mas está sem chama e vigor.
O género e sub-género já estavam mesmo no final de vida.
(mas ainda teríamos “Heaven`s Gate” de Michael Cimino, “Pale Rider” e “Unforgiven” de Clint Eastwood, “Dances With Wolves” e “Open Range” de Kevin Costner, “Silverado” e “Wyatt Earp” de Lawrence Kasdan, as séries televisivas “Yellowstone”, “Hatfields & McCoys”, “Deadwood” – mas tudo com outro fulgor visual, narrativo e artístico)
Monte Hellman era um pioneiro do cinema indie e até andou pelo Western pós-moderno (“The Shooting” e “Ride in the Whirlwind”, ambos com Jack Nicholson – huhhh… pois… uma coboiada com o Jack!!!…).
Decididamente, Western e Actioner não eram o seu forte (e isso vê-se no tom, ritmo e nos shootouts), e Hellman não consegue o estilismo que o género (e a narrativa) pede(m).
Sergio Corbucci ou Duccio Tessari davam (muito) jeito. Já para não falar de Sam Peckinpah ou Sergio Leone.
O trio é capaz.
Warren Oates sai-se bem como o veterano rude, fiel ao seus princípios.
Fabio Testi (uma das grandes estrelas do cinema italiano dos 70s, rival low-cost de Franco Nero) tem presença viril, mas o seu personagem pede uma profundidade que o actor não consegue dar. Quem lá deveria estar era… Franco Nero.
Jenny Agutter domina e enche o filme (bem como o olho do espectador – por alguma razão ela era uma das grandes beldades do cinema britânico dos 70s), plena de delicada sensualidade e frágil carência sentimental.
Com algo de western-spaghetti (entretanto já em final de vida), de revisitação pós-moderna do género e de cinema indie (que já estava a fervilhar nos USA), um cocktail minimamente funcional.
Vê-se bem.
Pela Jenny, claro.
“Amore, Piombo e Furore / China 9, Liberty 37” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados a bom preço.
Realizadores: Monte Hellman, Tony Brandt (com crédito nos cuts europeus)
Argumentistas: Jerry Harvey, Douglas Venturelli, Ennio De Concini, Vicente Escrivá (como Don Vicente Escrivá), Alberto Liberati
Elenco: Warren Oates, Fabio Testi, Jenny Agutter, Sam Peckinpah, Isabel Mestres
Trailers
Filme
Fotografia de Giuseppe Rotunno.
Música de Pino Donaggio.
Jerry Harvey, um dos argumentistas, era o líder do canal cabo Z Channel. O Canal Z exibia filmes sempre em edição uncut e raros.
Fabio Testi não é dobrado.
É o último filme distribuído pela Allied Artists Corporation. Entraria em falência e seria comprada pela Lorimar/Telepictures Corporation.
Foi um dos últimos western-spaghetti filmados em Almeria (a povoação espanhola, onde estavam uns estúdios onde se filmavam muitos western-spaghetti).
A estreia nos USA foi muito escassa, tendo apenas uma maior visibilidade em 1984.