Título original – Justice League
A Justice League é o grupo que reúne os super-heróis da DC. O equivalente da DC sobre os Avengers da Marvel.
Com os reboots a Superman e Batman (e a concorrência da Marvel), era de contar com este superhero ensemble.
Argumento denso, produção (bem) complicada.
E que deu origem a dois filmes. Sim, ia dar origem a “Justice League – Part I” e “Justice League – Part II”.
Mas o mesmo filme deu origem a dois. Bem distintos.
Na consequência dos eventos de “Batman v Superman: Dawn of Justice”, Bruce Wayne/Batman e Diana Prince/Wonder Woman investem na criação de um grupo de super-heróis, para enfrentar uma ameaça que se adivinha poderosa.
Diversos super-heróis são encontrados (Aquaman, Flash, Cyborg), forma-se a Justice League, a ameaça surge.
Mas conseguirá o grupo enfrentar a ameaça sem a ajuda de Superman?
Uma produção, dois cuts, dois filmes diferentes.
Vamos a cada um deles.
Theatrical Cut
Foi este o cut que chegou às salas.
É um Superhero ensemble, com os pergaminhos do género, regendo-se pelos da Marvel.
Talvez seja esse o defeito principal – soa a rip-off de “The Avengers” (a Justice League são os Avengers da DC, ou vice-versa para a Marvel), principalmente a “Infinity War” e “Endgame”.
Mas é divertido ver a reunião de tanto super-herói (tão diferente, no seu visual como atitude e mentalidade – e é esse o segredo do fascínio dos superhero ensemble), na combinação dos seus talentos, do choque de personalidades, com boa presença de humor em tal (o vindo de Flash).
Boa fotografia, bem dark a momentos, bem light noutros (tem a ver com as mudanças de tom, devido a uma brusca mudança na realização – já explicarei).
A momentos ouvimos o main score que Danny Elfman compôs para os Batman de Tim Burton, bem como partes do main score que John Williams compôs para “Superman” (1978). E tal cria um enorme sorriso no nerd.
Bons efeitos visuais, sempre em grande festival.
(se bem que aquele lábio superior do Superman tem algo de esquisito – mas há uma razão, que já explicarei)
Elenco em prestação correcta, em boa sintonia.
Zack Snyder começou o projecto (e nota-se no começo – ele sabe sempre contar histórias num prólogo, só à base de imagens), mas foi Joss Whedon que o concluiu.
Whedon andou pelos dois primeiros capítulos de “The Avengers” e a partir de certa altura nota-se a filiação com o autor de “Buffy, The Vampire Slayer” – algumas referências de pop culture, a dinâmica de grupo, o humor (a certo momento, a Wonder Woman diz “I work with children”) e um tom algo mais light e próximo do que ele fez para “The Avengers”.
O conjunto geral agrada, entretém, mas dá a sensação de uma mix que não resulta totalmente (o filme ora é negro sobre eventos, pessoas e emoções, como é leve na abordagem cómica e simplista) e que há muito a precisar de explicação (surge o Commissioner Gordon, já em pleno da sua relação com Batman, sem se dar a devida contextualização; uma maior definição sobre Flash e Cyborg é necessária).
É bom entretenimento, mas como rival da Marvel soa a algo de imitação inferior.
Havia potencial para algo mais personalizado, emotivo e profundo.
Vê-se muitíssimo bem.
Nota – Há duas cenas extras. Uma durante o genérico final e outra no fim.
A comunidade dos nerds ficou algo dividida, mas com fome de mais, principalmente de se saber como Zack Snyder iria tratar o material, como seria o filme se fosse inteiramente da sua autoria.
Felizmente que veio o…
Zack Snyder`s Cut
Agora sim.
Agora temos a visão (e conclusão) do que Snyder queria para este universo que ele começou (“Man of Steel”) e dá agora um épico e profundo final de trilogia.
Continuamos com grande espectáculo, espírito de superhero ensemble, mas com espaço e tempo (muito, nos dois aspectos) para os seus protagonistas, emoções, dramas, quotidianos, relações, motivações.
Tudo contado de forma progressiva, lógica, coerente, com as devidas explicações, sem se cair no rápido, atabalhoado ou inconsistente.
Mantém-se a qualidade na fotografia (agora com novo DP), constantemente dark (como é habitual em Snyder).
Há novo score.
Efeitos visuais a desfilar.
Elenco em boa sintonia e performance.
Este cut traz mais de 2 horas (com um total superior a 4 – que passam a voar) sobre o anterior (de… 2 horas).
Toda essa footage extra preenche imensos buracos do theatrical cut (até há alguns aspectos que ganham mais lógica e explicações, graças à footage extra no extended cut de “Batman v Superman: Dawn of Justice” – as ameaças de Luthor sobre Batman acerca do que vem aí confirmam-se e explicam a urgência de Batman em criar o grupo, a máquina que Luthor estava a usar e como ela surge em “Justice League”, um personagem misterioso que ajuda Lois), mostrando agora o que Snyder tinha delineado para todos os personagens.
É um filme (muito) mais completo, coeso e unido, mais dramático, negro, intimista e emocional, sem descurar o espectáculo e algum humor (as atitudes de Flash).
Dá a devida closure à trilogia, mas deixa muitas portas abertas a quem quiser pegar no legado e continuar (há um personagem que surge no final, cuja footage extra no extended cut de “Batman v Superman: Dawn of Justice” ajuda a compreender melhor algumas coisas).
É o Zack Snyder`s Cut.
E isso nota-se do princípio ao fim.
É visível toda a paixão de Snyder pelos personagens e pela imagem, o seu empenho em fazer bem, bonito, intimista e espectacular.
Snyder dedica o filme à filha Autumn (que se suicidou durante as filmagens de “Justice League”). E Snyder faz um filme sobre o amor de filhos aos pais, na procura de honrar a dádiva da vida e mostrar o seu amor.
Fica a sensação de ser o filme mais pessoal de Snyder.
E depois, para os puristas clássicos, Snyder leva-nos a um estilo visual à moda antiga – o formato é em 1:33. Por isso, não procurem outras fontes ou acertar o televisor. O filme não é em widescreen 16:9 “rectangular”, mas em 4:3 bem “quadradinho”.
E isto faz do filme uma outra experiência. Acreditem.
“Justice League” junta-se a “Superman II” (“por acaso” também da DC e da Warner Bros.) como mais um “filme-conflito de realizadores”.
Infelizmente, “Superman II” só viu parte da footage de Richard Donner restaurada (Donner não teve dinheiro para reshoots, apenas para reedição com o que havia e o que ele tinha filmado). Mesmo assim, o resultado final convence, restaura a sua visão e melhora o filme.
“Justice League” teve mais $orte (Snyder teve direito a dinheiro e tempo para reshoots, ainda que muito do seu trabalho inicial estivesse quase concluído), resultando numa obra cinematográfica digna de tal, mais adulta, mais completa e complexa, mais de autor.
O Cinema, o género e os fans agradecem.
“Zack Snyder`s ´Justice League`” é dos melhores superhero movies de sempre, um dos melhores da DC (melhor só mesmo “Wonder Woman”) e um dos eventos cinematográficos de 2021.
Absolutamente obrigatório.
Nota – Não há cenas extras no genérico final.
“Justice League” tem edição portuguesa, a bom preço. Mas é o Theatrical Cut.
O Snyder`s Cut está disponível via streaming, através da HBO Max, tendo sido um dos eventos cinematográficos (e de streaming) de 2021.
Realizador(es): Zack Snyder (e Joss Whedon – no Theatrical Cut)
Argumentistas: Chris Terrio, Zack Snyder, Joss Whedon (no Theatrical Cut), a partir dos personagens criados por Jerry Siegel & Joe Shuster (Superman), Bob Kane & Bill Finger (Batman), William Moulton Marston (Wonder Woman) e Gardner Fox (Justice League)
Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Gal Gadot, Ezra Miller, Jason Momoa, Ray Fisher, Jeremy Irons, Diane Lane, Connie Nielsen, J.K. Simmons, Ciarán Hinds, Amber Heard, Joe Morton, David Thewlis, Billy Crudup, Jesse Eisenberg (no Snyder`s Cut), Willem Dafoe (no Snyder`s Cut), Russell Crowe (no Snyder`s Cut), Jared Leto (no Snyder`s Cut), Kevin Costner (no Snyder`s Cut)
Orçamento – 300 milhões de Dólares
Bilheteira – 229 milhões de Dólares (USA); 657 (mundial)
Theatrical Cut – 2 horas
Snyder`s Cut – 4 horas
A DC – https://www.dccomics.com/
A Justice League
https://dc.fandom.com/wiki/Justice_League_(Prime_Earth)
https://dc.fandom.com/wiki/Justice_League
https://www.dccomics.com/characters/justice-league
“Justice League” no Universo Cinematográfico DC:
- A formação da Justice League
- O regresso de Superman
- As portas abertas para a chegada de novos personagens (heróis e vilões)
Trailers
Sobre o Snyder`s Cut
Sobre o Theatrical Cut:
Em Outubro de 2007, George Miller (“Mad Max”) era o realizador para o projecto. O elenco tinha em mente D.J. Cotrona (Superman), Armie Hammer (Batman), Megan Gale (Wonder Woman), Common (Green Lantern), Adam Brody (Flash), Santiago Cabrera (Aquaman), Hugh Keays-Byrne (Martian Manhunter), Teresa Palmer (Talia al Ghul).
Em 2011, Will Beall escreveu um argumento. Nele, Darkseid é o vilão, Batman e Wonder Woman têm um filho, Flash viaja no Tempo. Já na época, Ben Affleck é considerado como realizador.
“Man of Steel” (2013) ia ser a sequela a “Superman Returns” (2006). Brandon Routh ia regressar como Clark Kent/Superman e os Wachowskis (na altura, ainda eram Larry & Lana) iam realizar. Dado que o filme de Bryan Singer tinha sido um relativo flop/pequeno sucesso, o estúdio decide avançar com reboot, incentivado pelo bem sucedido (bilheteira e crítica) reboot a Batman (com “Batman Begins”, de Christopher Nolan, em 2005)
“Batman v Superman: Dawn of Justice” (2016) iria seguir-se a “Batman” (1989), “Batman Returns” (1992), “Batman Forever” (1995) e “Batman & Robin” (1997). Wolfgang Petersen ia realizar.
Em 2007 Jason Reitman foi considerado como realizador, mas recusou. Reitman preferiu continuar como realizador independente.
As irmãs Wachowski (Lana & Lilly) foram consideradas como realizadoras.
Ben Affleck foi considerado como realizador. Depois seria considerado para o reboot a Batman (que desenvolveria e explicaria certos aspectos do personagem revelados em “Batman v Superman” e “Justice League”). Entretanto Affleck foi substituído por Robert Pattinson como Batman, com Matt Reeves a ser o realizador. “The Batman” estreia no Verão de 2022. Ainda não há detalhes se vai ter em conta os elementos narrativos dos filmes onde Batman foi interpretado por Affleck.
Laurence Fishburne tinha sido chamado, mas o actor estava ocupado com outro filme.
Henry Cavill treinou durante 5 meses.
J.K.Simmons (o J.J. Jameson da trilogia “Spider-Man” de Sam Raimi; aqui é o Comissário Jim Gordon) tem Superman como o seu herói de infância.
Jason Momoa inspirou-se em Clint Eastwood e na sua interpretação em “The Outlaw Josey Wales”.
Gal Gadot começa a trabalhar um dia depois de ter terminado “Wonder Woman”.
Zack Snyder tinha “Seven Samurai” (1954) como influência para o filme.
Era o primeiro filme de Snyder em formato 1.85:1 aspect ratio. Snyder gostou do formato ao filmar certas cenas de “Batman v Superman”.
Os desenhos de Alex Ross (um dos maiores ilustradores de sempre no mundo dos comics) inspiraram os posters do filme.
Patrick Tatopoulos fez uma actualização ao Batmobile, procurando assemelhá-lo a um tanque. Assim daria a ideia que Batman vai para a guerra.
Gal Gadot usou 14 versões do fato de Wonder Woman. Cada fato estava adaptado para as necessidades da cena a ser filmada.
Gadot estava grávida no final das filmagens. Jason Momoa percebeu mas guardou segredo.
As filmagens são interrompidas devido à morte da filha de Zack Snyder.
Joss Whedon entra em cena. O estúdio acredita que Whedon é uma boa escolha, pois já tinha trabalhado em filmes de superhero ensemble (“The Avengers” em 2012, “Avengers: Age of Ultron” em 2016) e com $uce$$o.
Whedon faz alterações no argumento.
Whedon despediu o compositor inicial (Junkie XL) e substituiu-o por Danny Elfman (que tinha feito o score para “Avengers: Age of Ultron”)
Filmagens adicionais foram necessárias em 2017, com um custo total de 25 milhões de Dólares.
Henry Cavill já estava em filmagens de “Mission Impossible: Fallout” (2018). O seu personagem exigia um bigode. O seu contrato exigia que não fosse retirado até final das filmagens. Com os reshoots de “Justice League”, Cavill viu o seu bigode a ser retirado digitalmente. O efeito ficou muito ridículo.
Snyder filmou em película 35mm. As filmagens com Whedon foram em digital Codec via Arri Alexas.
Ray Fisher queixou-se de Joss Whedon, pois considerou o seu comportamento agressivo e pouco profissional. Whedon queria um tom de pele mais claro no actor afro-americano. Isto (os comportamentos de Whedon e as queixas de Fisher) incomodou muita gente. O projecto do filme sobre Cyborg está agora parado.
Marc McClure (o Jimmy Olsen dos “Superman” com Christopher Reeve) faz um cameo – é o guarda prisional e o polícia salvo por Cyborg.
Snyder queria que Cyborg fosse o centro do filme. Whedon retira-lhe muitas cenas e deixa Superman como o centro narrativo.
Gal Gadot não gostou do momento em que Flash cai sobre ela. Uma body double foi usada. Whedon é o autor da ideia do momento. O Snyder`s Cut remove esse momento (e todos os filmados por Whedon).
Na cena da quinta dos Kent, Clark usa uma camisa que recorda a usada por Clark na série “Smallville” (2001).
Há uma cena durante o genérico final que só existe no Theatrical Cut (o “duelo” entre Superman e Flash).
A cena pós genérico final do Theatrical Cut tem semelhanças com a equivalente no Snyder`s Cut, mudando apenas o contexto e o direccionamento (no Theatrical Cut remete para um filme, no Snyder`s Cut remete para…).
A cena pós genérico final foi filmada no iate de Zack Snyder.
O conceito inicial era dividir o filme em duas partes, dois filmes.
A Warner Bros. exigiu um filme com duração de 2 horas.
“Harwood” – título com que foi envido às salas.
Chris Terrio considerou o trabalho de Joss Whedon como “um acto de vandalismo”.
Terrio quis o seu nome fora do genérico.
Zack Snyder nunca viu o Theatrical Cut. A esposa Deborah e Christopher Nolan (um dos executive producers) aconselharam-no a não o ver.
Depois de “Superman II” (1980), é o primeiro filme do Universo DC a ter dois cuts que resultam em dois filmes de tom diferente, tendo também dois realizadores.
Dada a pouco entusiástica recepção do público e da crítica, muito se falou no Snyder`s Cut. Uma vasta acção de petição (on-line e dos actores) levou o estúdio a permitir a edição de tal cut. Mas inicialmente o estúdio estava pouco interessado em tal.
Sobre o Snyder`s Cut:
Este cut surge devido a uma enorme pressão de fãs, com ajuda de alguma imprensa e membros de cast & crew.
Zack Snyder teve total controlo criativo e recusou receber salário.
Snyder usou zero footage filmada por Joss Whedon.
Segundo Snyder, apenas houve que filmar 5 minutos de footage, mas teve que se criar mais de 2000 efeitos visuais.
Este cut dá mais relevo a Cyborg.
Steppenwolf é redesenhado para este cut.
Neste cut já não se vê o (mau) efeito digital sobre o bigode de Henry Cavill.
Neste cut Superman usa um fato mais escuro. No Theatrical Cut alguns desses momentos tiveram um efeito digital para tornar o fato mais claro.
A cena entre Batman e Joker foi filmada em separado. Ben Affleck e Jared Leto não se encontraram no set.
Cameo de Marc McClure (o Jimmy Olsen dos “Superman” com Christopher Reeve) – Jerry, o polícia a quem Lois oferece café no Superman memorial.
Cameo de Zack Snyder – um cliente no café onde Lois Lane vai comprar café.
Não há cenas extra no genérico final.
O “duelo” entre Superman e Flash que vinha numa cena extra do theatrical cut está removida (foi filmada por Joss Whedon).
Contudo duas cenas finais merecem atenção – uma na casa de Bruce Wayne (apresenta-se um novo personagem, cuja relevância fica maior com alguma da footage extra do extended cut de “Batman v Superman”) e a no iate de Lex Luther (os personagens em cena são os mesmos que na cena equivalente do theatrical cut, mas o contexto da conversa é diferente).
Em 2020, o Snyder`s Cut era anunciado como uma mini-série de 4 episódios. Em Janeiro de 2021, a WarnerMedia confirma que será um filme.
É o mais longo de todos os superhero movies já feitos.
Snyder promete para breve um cut a P&B (seguindo assim a “moda” criada por “Mad Max: Fury Road” e “Logan”). Este cut vai ter um final diferente.
O filme é dedicado a Autumn Snyder (1996 – 2017), a (falecida) filha e Zack & Deborah Snyder.