O Cristal Encantado (1982)

Título original – The Dark Crystal

Jim Henson é um dos maiores criadores de Cinema e Televisão.

O seu nome é sempre associado aos “The Muppets” (os nossos queridos “Marretas”).

Henson também se moveu no grande ecran.

Um dos seus grandes marcos é este “The Dark Crystal”.

Outro tempo, outro lugar.

O Dark Crystal foi destruído há séculos e causou o caos entre os Mystics (povo sábio, calmo, pacífico e social) e os Skeksis (povo sedento de poder e conflito).

Jen, um jovem Gelfling, procura o dito cristal para assim reestabelecer a ordem no mundo.

Fantasia (em imagem real ou animação) tem como função (obrigação, mesmo) de nos levar para “admiráveis mundos novos”, fazer-nos sentir e viver todos esses ambientes.

“The Dark Crystal” é um mundo.

“The Dark Crystal” é uma viagem. A esse mundo.

Pegando na história clássica de Bem v Mal, Paz v Guerra, Poder v Conhecimento, Henson faz do seu filme uma criação e viagem a um mundo incrível, obscuro, colorido, fascinante e tenebroso, povoado por incríveis criaturas que tanto nos provocam o medo (Skeksis) como o carinho (Mystics).

É certo que a história é muito simples e linear, mas ela é uma mera justificação/narração da jornada que leva protagonista e espectador à descoberta de um mundo fantástico.

E é isso que (também) queremos quando vemos fantasia.

Fotografia (do lendário Oswald Morris – “The Man Who Would Be King”, “Sleuth”, “Oliver”, “Lolita”, “The Guns of Navarone”, “The Roots of Heaven”, “A Farewell to Arms”, “Moby Dick”), cenografia, guarda-roupa, caracterização em modo perfection, na criação e ilustração de um mundo e dos seus habitantes.

O grande Trevor Jones (“Excalibur”, “Angel Heart”, “The Last of the Mohicans”) compõe um belíssimo score que nos faz sonhar, viajar e sentir (n)um outro mundo.

Criaturas magistralmente animadas por um perfeito uso de puppeteering.

Jim Henson e Frank Oz mostram que “The Muppets” não foi um acaso.

É enorme o talento de ambos em matéria de puppeteering e na criação de mundos, enfatizando o espectáculo visual e sem perder o carinho pelos personagens.

O Director`s Cut tem mais 5 minutos que o Theatrical Cut.

5 minutos que se reflectem em mais alguma footage dedicada àquele mundo e criaturas. Mas todo o tom do filme muda – é mais negro, não há voice over a explicar coisas (cabe ao espectador fazer a devida interpretação), os Skeksis falam num dialecto próprio (algo que lhes dá um ar ainda mais ameaçador) e há frequentemente uma comunicação “meramente” visual.

Como filme, é realmente mais negro (portanto, menos apelativo a crianças), denso, complexo e contemplativo.

O Theatrical Cut é mais “fácil” e acessível.

Um hino à fantasia e à capacidade do Cinema para tal.

Um filme único, irrepetível e inimitável, que acentua o poder do género Fantasy e da obra de Jim Henson.

A passagem do tempo tem sido bem generosa com o filme, pois continua de uma envergadura visual e técnica bem invejável nos nossos dias.

Obrigatório.

“The Dark Crystal” não existe no mercado português. Existe noutros, a bom preço, com bons extras e com novos (maravilhosos) masters (HD1080 e 4K).

Realizadores: Jim Henson, Frank Oz

Argumentistas: David Odell, Jim Henson

Site – http://www.darkcrystal.com

Trailer

Clips

Making of

Orçamento – 15 milhões de Dólares

Bilheteira – 40 milhões de Dólares

“Melhor Filme – Fantasia”, nos Saturn 1983. Concorreu a “Melhores Efeitos Visuais” e “Melhor Poster” – perdeu, nas duas categorias, para “E.T. – The Extra-Terrestrial”.

“Grande Prémio”, em Avoriaz 1983.

Nomeado para “Melhores Efeitos Visuais”, nos BAFTA 1984. Perdeu para “Star Wars: Episode VI – Return of the Jedi”.

Candidato a “Melhor Filme”, nos Hugo 1983. Perdeu para “Blade Runner”. Nesse ano, a concorrência era forte – em concurso também estavam “E.T. – The Extra-Terrestrial”, “Mad Max 2: The Road Warrior” e “Star Trek II: The Wrath of Khan”.

Jim Henson teve a ideia ao ver um livro ilustrado de Leonard B. Lubin sobre a poesia de Lewis Carroll. O livro mostrava crocodilos a viver em palácios e vestidos com roupa e jóias de luxo.

Henson queria um filme obscuro, na tradição dos contos dos Irmãos Grimm.

Henson defendia que as crianças gostavam de ser assustadas (dentro de certos moldes e limites) e que tal tinha efeitos terapêuticos e educacionais nelas.

O trabalho de pré-produção começa inspirado nos desenhos de Brian Froud. Só depois se elaborou o argumento.

Uma primeira versão do argumento mostrava Jen e Kira a descobrir um submundo povoado por criaturas mineiras. Tal ideia seria usada por Henson na série “Fraggle Rock”.

David Odell criou um dialecto para Skeksis e Mystics. Mas depois das críticas nos primeiros test screenings, decidiu-se que ambos falariam Inglês. Diálogos específicos foram criados para sincronizar as vozes com o movimento labial das criaturas.

Alguns termos não-Inglês são expressões croatas, sérvias e bósnias.

Foi ideia de Frank Oz que Kira tivesse um animal de estimação, Fizzgig. Henson aceitou, mas com algumas reservas, pois tal soava a uma cópia de uma criaturas dos “The Muppets” (o cão de Miss Piggy, Foo Foo).

Os Skeksis inspiram-se nos 7 Pecados Mortais. São 9, os Skeksis em cena.

Jim Henson e Frank Oz co-realizavam – Henson tratava do planeamento visual, Oz lidava com os actores.

Na época, era o primeiro filme em imagem real sem a presença de humanos (visíveis).

Os fatos eram de tal modo pesados, que os os puppeteers tinham de fazer pausas por cada 5 minutos de filmagem.

O movimento das criaturas envolvia várias pessoas por personagem – técnicos nos cabos e electrónica para alguns membros (rosto, braços), intérpretes debaixo das vestimentas.

Oswald Morris usou uma técnica denominada como “light flex” – uma estrutura colocada em frente às câmaras, para realçar certas cores, no sentido de aproximar o filme ao tom dos desenhos de Froud.

É o último filme fotografado por Oswald Morris. Ele reformar-se-ia depois.

Filmado nos estúdios Elstree, na Inglaterra. Os exteriores foram filmados na nas Highlands da Escócia, bem como em Yorkshire, na Inglaterra.

Lew Grade tinha vendido a sua ITC Film Entertainment ao empresário  Robert Holmes à Court. Este não tinha grande fé no projecto. Henson comprou os direitos do filme e financiou a distribuição.

Na fase de post-production, Henson e Odell falaram sobre a possibilidade de uma sequela. “The Power of the Dark Crystal” poderia ser o título e Genndy Tartakovsky seria o realizador. Com a passagem do tempo, e por diversas razões (tanto técnicas como financeiras), o projecto ficou cancelado. Contudo, acabou por nascer através de um comic book – “The Power of the Dark Crystal”, 12 números editados pela Archaia Comics e BOOM! Studios, em 2017.

Segundo Oz, ele e Henson nunca ponderaram uma sequela.

O primeiro cut era mais longo e negro. Os Skeksis falavam num dialecto próprio, deixando a interpretação ao espectador. Tal dava um tom bastante negro ao filme. Os studio executives pediram a Henson para atenuar tal. O cut final põe os Skeksis a falar em Inglês e alguns momentos mais negros são eliminados.

“The Dark Crystal” estreou no mesmo ano que “E.T.”. Muitos pais consideraram o filme de Henson como bastante assustador para crianças.

No Japão e em França, “The Dark Crystal” foi o maior sucesso nas bilheteiras do ano de 1983.

O filme foi proibido em muitos países islâmicos.

A reacção crítica na época não foi muito positiva (houve quem não gostasse do tom negro do filme, tendo em conta que tinha crianças como público-alvo).

A.C.H. Smith escreveu uma novelização do filme.

Brian Froud, Jim Henson e Frank Oz reencontrar-se-iam em “Labyrinth” (1986, com Jennifer Connelly e David Bowie, com produção de George Lucas) – o filme já contava com a presença de humanos, mas tinha muitos efeitos de puppeteering.

A passagem do tempo deu um enorme culto ao filme.

Em 2008, o American Film Institute nomeou “The Dark Crystal” para o “Top 10 Fantasy Films”.

Em 2013, a The Jim Henson Company, em parceria com a Grosset and Dunlap, lançou um concurso para criação de uma prequela, para ser lançada no mercado literário. J.M. (Joseph) Lee foi o eleito, entre 500 candidatos, com a história “The Ring of Dreams”.

“The Dark Crystal” teve vida noutros “mundos”:

  • “The World of The Dark Crystal”, escrito por J. Llewellyn, com ilustrações de Brian Froud. Foi editado na época do filme e expande o mundo Thra, dando mais explicações sobre ele.
  • “The Tale of the Dark Crystal”, escrito por Donna Bass e ilustrado por Bruce McNally, pensado para crianças.
  • “The Dark Crystal Game”era um jogo de tabuleiro.
  • Uma adaptação em livro e cassettefoi criada pela Disneyland Records, na colecção “Read-Along Adventures”.
  • Um jogo lançado para Apple II e Atari 8-bit.
  • A Marvel Comics editou um comic, escrito porDavid Anthony Kraft e com desenhos de Bret Blevins, Vince Colletta, Rick Bryant e Richard Howell.
  • A Vogueescolheu algumas vestimentas para lhes dar um novo look.
  • O grupo The Crystal Methodusou algumas partes do score do filme para a canção “Trip Like I Do”.
  • “Legends of the Dark Crystal” era uma Manga escrita por Barbara Kesel, com desenhos de Heidi Arnhold, Jessica Feinberge Max Kim. Funciona como uma prequela.
  • “The Dark Crystal: Creation Myths” era outra prequela, editada pela Archaia Entertainment, sob a forma de três graphic novels.
  • O Black Phoenix Alchemy Labcriou uma linha de perfumes baseados em “The Dark Crystal”.

Em 2017, a Netflix anunciou uma prequela. “The Dark Crystal: Age of Resistance” (já aqui visto)) vai explicar os eventos anteriores ao filme de Henson. Tal como o seu filme, são usados efeitos de puppeteering.

One comment on “O Cristal Encantado (1982)

  1. […] Dark Crystal” (1982; já aqui visto) atingiu um notável estatuto de culto e […]

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