“Citizen Kane” (1941) é um dos maiores filmes de sempre.
Já foi eleito o “Maior Filme de Sempre” (actualmente é “Vertigo”, de Alfred Hitchcock).
Orson Welles estreava-se em Cinema e logo pela porta grande, dando provas de génio como realizador.
Parte da qualidade (elevadíssima) do filme deve-se à genialidade do argumentista Herman J. “Mank” Mankiewicz.
Eis um filme sobre Mank e todo esse processo.
Hollywood, 1940.
Herman J. Mankiewicz anda em stress por causa de um argumento, os prazos do estúdio e as birras dos studio executives.
Retrato de uma era cinematográfica, onde se evocam títulos, nomes e tendências.
E isto já é uma festa para o cinéfilo.
Mas há mais.
Pelo meio ainda há o ilustrar de como se faziam filme “à moda antiga” (filmagens, técnicas cinematográficas, logísticas, decisões dos studio executives).
O filme é toda uma jornada de um homem capaz, argumentista brilhante, na sua movimentação pelo movie business, em busca do equilíbrio entre sobrevivência financeira (estamos na época da “Grande Depressão”), afirmação do seu talento e marca e lidar com as birras dos poderosos do meio.
Mas com espaço para se “apontar o dedo” aos studio executives a à sua cega visão sobre Cinema enquanto Arte e bem “videntes” face à indú$tria.
Fabulosa fotografia e cenografia.
Bom elenco, em magnífica performance, a começar por um perfeito Gary Oldman (atenção ao seu “discurso” perto do fim).
David Fincher realiza com mestria, com um feel de filme dos old days (aquele genérico, aquela profundidade de campo, aquele uso da luz e sobras, as legendas nas transições como se fossem indicações de um guião).
Uma ilustração detalhada e esclarecedora de uma era, de uma geração de Hollywood Men e de como fazer Cinema.
Um puro deleite para os cinéfilos.
Um dos grandes filmes do ano.
Será um forte candidato a Oscars 2021? Aguardemos. Fotografia, Argumento, Realização e Actor mereciam.
Obrigatório.
“Mank” está disponível via Netflix.
Realizador: David Fincher
Argumentista: Jack Fincher
Elenco: Gary Oldman, Amanda Seyfried, Lily Collins, Tom Pelphrey,
Arliss Howard, Tuppence Middleton, Monika Gossmann, Joseph Cross,
Sam Troughton, Toby Leonard Moore, Tom Burke, Charles Dance,
Ferdinand Kingsley
Site – https://www.netflix.com/nl-en/title/81117189
“Melhor Cenografia”, pelos críticos de Chicago 2020, pelos críticos de Los Angeles 2020..
“Melhor Fotografia”, “Melhor Cenografia”, pelos críticos da Florida 2020, nos Sunset Film Circle 2020.
Herman J. Mankiewicz é irmão de Joseph L. Mankiewicz, prestigiado realizador de Cinema (“All About Eve”, “A Letter to Three Wives”, “Suddenly, Last Summer”, “Cleopatra”).
É já um projecto há muito desejado por David Fincher. Ele queria-o concretizar depois de “The Game” (1997).
Quando Fincher estava a desenvolver o projecto, Kevin Spacey (que reencontraria Fincher depois de “Seven”) e Jodie Foster (que reencontraria Fincher, depois de “Panic Room”) eram os protagonistas pensados. O projecto foi sendo adiado e cancelado, devido ao interesse de Fincher em filmar a P&B.
Jack Fincher (o argumentista) é o pai de David Fincher.
Eric Roth (“Forrest Gump”, “The Insider”, “The Curious Case of Benjamin Button”) efectuou umas “polidelas” no argumento, pois as suas primeiras versões eram muito hostis a Orson Welles.
David Fincher regressa a histórias verídicas, depois de “Zodiac” (2007) e “The Social Network” (2010).
Reencontro entre Fincher e a dupla de compositores Trent Reznor & Atticus Ross, depois de “Nine Inch Nails: Only” (2005), “The Social Network”, “The Girl With The Dragon Tatoo” (2011) e “Gone Girl” (2014). A dupla não recorre (como habitualmente) a sintetizadores, mas a instrumentos dos 40s.
Reencontro entre Fincher e o editor Kirk Baxter, depois de “Zodiac”, “The Curious Case of Benjamin Button” (2008), “The Social Network” (com Oscar para a sua montagem), “The Girl With the Dragon Tattoo” (com Oscar para a sua montagem) e “Gone Girl”.
Reencontro entre Fincher e a estilista Trish Summerville, depois de “The Girl With the Dragon Tattoo”, “Gone Girl”.
Reencontro entre Fincher e o cenógrago Donald Graham Burt, depois de “Zodiac”, “The Curious Case of Benjamin Button”, “The Social Network”, “The Girl With the Dragon Tattoo”, “Gone Girl”.
Reencontro entre Fincher e Charles Dance, depois de “Alien 3” (1992, o primeiro filme de Fincher).
Reencontro entre Gary Oldman e Amanda Seyfried, depois de “Red Riding Hood” (2011).
Oldman junta-se a uma lista (curta) de actores já oscarizados que interpretam personalidades do Cinema também oscarizadas – Faye Dunaway (como Joan Crawford em “Mommy Dearest”), Nicolas Cage (como Charlie Kaufman em “Adaptation.”), Cate Blanchett (como Katharine Hepburn em “The Aviator), Tom Hanks (como Walt Disney em “Saving Mr. Banks”) e Nicole Kidman (como Grace Kelly em “Grace of Monaco”).
Filmado com câmaras RED Monstrochrome 8K.
O som do filme é em Mono. O som entra assim em sintonia com o tipo de som que havia na época em que o filme se passa. Contudo o audio teve uma mistura 5.1, mas com o som de trás a simular o movimento das máquinas antigas das salas de cinema.
Oldman queria usar um tipo de make-up em estilo prosthetic, no sentido de estar o mas parecido com Mank. Fincher negou tal, pois queria captar mais nuances no rosto de Oldman.
Seyfried teve de fazer 200 takes para uma cena, até Fincher estar satisfeito. Isto demorou uma semana.
A pessoa que anuncia o Oscar para “Melhor Argumento” é interpretado por Ben Mankiewicz, neto de Herman J. Mankiewicz (foi ele que ganhou o Oscar de tal categoria, nesse ano, por “Citizen Kane”). Ben é apresentador no Turner Classic Movies, que já exibiu muitos filmes escritos por Mank.
Marion Davies saiu da MGM e foi para a Warner, porque não conseguia obter o tipo de filmes e personagens que desejava. Mas todos os filmes que fez na MGM foram sucesso. O filme altera alguns destes factos.
Davies afirmou nunca ter visto “Citizen Kane”.
Marion Davies era a Movie Star #1 em 1923. Foi uma grande movie star de 1917 a 1937.
Marion Davies era mais velha (1 ano) que Herman J. Mankiewicz. Amanda Seyfried (Marion) é 27 anos mais nova que Gary Oldman (Mank).
Maurice LaMarche dá a voz a Orson Welles (embora ele seja interpretado por Tom Burke). LaMarche já tinha dado voz a Welles em “Ed Wood” (1994, Vincent D’Onofrio interpretava-o).
É o segundo filme sobre o processo de criação de “Citizen Kane”. O outro filme é “RKO 281” (1999, com John Malkovich como Herman J. Mankiewicz e Liev Schreiber como Orson Welles).
“Mank” foi um dos filmes preferidos de Barack Obama, em 2020.
David Fincher continua a sua boa relação com a Netflix, depois das séries “House of Cards” e “Mindhunter”. O contrato entre ambos foi renovado por mais 4 anos.
Fincher considera Orson Welles como um talentoso realizador, mas não o génio cinematográfico que se aclama. Fincher considera que muitos dos méritos dos filmes de Welles passam pelo seu director of photography (aclamado como um dos maiores DP de sempre), Gregg Toland.
Entrevista com David Fincher
https://www.vulture.com/2020/10/david-fincher-mank.html