“Citizen Kane” (1941) é um must em Cinema.
Mas a sua produção foi muito conturbada. De tal maneira, que os eventos até davam para um filme.
Pois bem, eis um sobre tal.
Orson Welles procura levar avante a produção de “Citizen Kane”, a sua estreia em Cinema e longas-metragens.
Mas tem de enfrentar o poderoso magnata William Randolph Hearst. Tudo porque o protagonista do filme se baseia nele.
A feitura de “Citizen Kane” (e muitos outros filmes, antes de depois deste) é um filme, só por si.
“RKO 281” é uma ilustração desse difícil processo, do eterno processo (hercúleo) de criação vs industrialização.
É a visão sobre o sonho de um homem (boy wonder em diversas áreas, mas ainda a ter de provar que o consegue ser dentro do Cinema), é a exposição de poderes fora do Cinema mas com força dentro deste, é o mostrar que muito studio executive nada percebia de Cinema, é o ilustrar do poder do studio system, é o captar de todas as nuances do movie business na sua golden age.
Sabe-se que aqui e ali há alguma liberdade criativa face à realidade, mas tal reforça o drama narrativo e a mensagem – é difícil fazer Arte num meio que só se move por dinheiro.
E o resultado é um bem esclarecedor filme sobre o movie business, o studio system, o complexo processo de criação segundo uma visão e as concessões de tal face às “regras” do meio.
Tudo através da luta de um homem na afirmação da sua visão.
Bons valores de produção, com uma conseguida reconstituição da época.
Bom trabalho do elenco.
Uma muito correcta “explicação” sobre a criação de um dos monumentos máximos do Cinema.
Obrigatório para qualquer cinéfilo.
“RKO 281” não tem edição portuguesa nem foi exibido em qualquer um dos nossos canais. Existe noutros mercados a bom preço.
Realizador: Benjamin Ross
Argumentista: John Logan, a partir do documentário de Richard Ben Cramer e Thomas Lennon (“The Battle Over Citizen Kane”)
Elenco: Liev Schreiber, John Malkovich, James Cromwell, Roy Scheider, Melanie Griffith, Liam Cunningham, David Suchet, Fiona Shaw, Brenda Blethyn
Trailer
Orçamento – 12 milhões de Dólares
“Melhor Mini-Série ou Filme para Televisão”, nos Globos de Ouro 2000. Liev Schreiber concorreu a “Melhor Actor em Mini-Série ou Filme para Televisão”, mas perdeu para Jack Lemmon em “Inherit the Wind”. Melanie Griffith concorreu a “Melhor Actriz Secundária em Mini-Série ou Filme para Televisão”, mas perdeu para Nancy Marchand em “The Sopranos”.
“Melhor Elenco para Mini-Série ou Filme”, “Melhor Som para Mini-Série ou Filme”, nos Primetime Emmy 2000. Benjamin Ross procurou a “Melhor Realização para Mini-Série ou Filme”, mas Charles S. Dutton foi preferido, “The Corner. Liev Schreiber tentou “Melhor Actor para Mini-Série ou Filme”, mas perdeu para Jack Lemmon em “Tuesdays with Morrie”. James Cromwell e John Malkovich procuraram o “Melhor Actor Secundário para Mini-Série ou Filme”, mas perderam para Hank Azaria em “Tuesdays with Morrie”. Melanie Griffith tentou “Melhor Actriz Secundária para Mini-Série ou Filme”, mas perdeu para Vanessa Redgrave em “If These Walls Could Talk 2”.
O filme tentou a “Melhor Produção Televisiva”, mas perdeu para “Tuesdays with Morrie”. Também concorreu a “Melhor Argumento para Mini-Série ou Filme”, mas “The Corner” foi preferido.
“Melhor Elenco”, pela Casting Society of America 2000.
“Hall of Fame”, pela Online Film & Television Association 2020.
“Melhor Filme para Televisão”, “Melhor Elenco em Filme ou Mini-Série”, “Melhor Realização em Filme ou Mini-Série”, “Melhor Argumento em Filme ou Mini-Série”, pela Online Film & Television Association 2000.
“Melhor Filme para Televisão”, no Festival de San Francisco 2000.
“Melhor Argumento Adaptado”, pelo Writers Guild of America 2001.
Produção de Ridley Scott e Tony Scott.
Ia ser uma produção para estrear em salas de Cinema. O elenco inicialmente previsto contava com Edward Norton (Orson Welles), Marlon Brando (William Randolph Hearst), Madonna (Marion Davies), Dustin Hoffman (Herman J. Mankiewicz), Meryl Streep (Louella Parsons). Ridley Scott ia realizar. Mas muitos estúdios rejeitaram o projecto por causa do seu orçamento (40 milhões de Dólares). Entretanto, Brando e Hoffman abandonam o projecto. Gene Hackman é considerado como substituto de Brando e Al Pacino como substituto de Hoffman. Mas tudo fica mesmo cancelado e o projecto segue para Televisão, com outro elenco e um orçamento mais baixo.
Filmado em Inglaterra.
Ridley Scott queria filmar no Hearst Castle, mas foi-lhe recusado o acesso.
O título refere-se o número de produção na RKO Radio Pictures para “Citizen Kane”.
O filme especula que Orson Welles conheceu William Randolph Hearst (um todo o poderoso da imprensa, a quem se acredita ter inspirado o personagem de Charles Foster Kane). Welles só conheceu Hearts depois da estreia de “Citizen Kane”.
O filme especula que Marion Davies inspirou a personagem Susan Alexander. Welles disse que Peter Bogdanovich que não foi assim. A inspiração veio da segunda esposa do milionário Harold Fowler McCormick.
O filme indica que George Schaefer (líder da RKO) sai do estúdio após a estreia de “Citizen Kane”. Na verdade, Schaefer só seria despedido no ano seguinte. E não foi por ter promovido os filmes de Orson Welles, mas porque os filmes que a RKO fez sob a a sua liderança foram flops.
Ao que tudo indica, foi Herman J. Mankiewicz que convenceu Orson Welles para fazer um filme inspirado em William Randolph Hearst, e não Welles que pediu a Mankiewicz um argumento sobre tal (Welles não tinha qualquer problema com Hearst).
No momento em que Louella Parsons vê “Citizen Kane”, o som que se ouve é mesmo o do filme.
Numa cena, uma line faz referência a “The Shadow”. Orson Welles dava voz a esse herói, na versão radiofónica.
John Logan reconheceu ter feito pouca investigação sobre o processo de produção de “Citizen Kane”, tendo-se limitado apenas a captar a verdade do documentário que adaptou como argumento.