Título original – The House on Carroll Street
Bom elenco, um realizador hábil para o suspense, num filme que homenageia e evoca Hitchcock, com uma história que também aborda uma fase negra dos USA.
USA, anos 50.
Emily Crane anda a ser perseguida pelo Comissão de Actividades Anti-Americanas, no sentido de denunciar amigos e conhecidos com ligações comunistas.
O seu novo emprego como companhia a uma senhora idosa leva-a a descobrir uma conspiração que visa o infiltrar de nazis em território americano.
“Já não fazem filmes assim” – dirá muita gente.
“The House on Carroll Street” poderia ter sido feito nos 40s ou 50s.
Poderia ter sido assinado por Alfred Hitchcock, Robert Siodmak, Jacques Tourneur ou Anatole Litvak.
Poderia ser com Ingrid Bergman & Cary Grant, Grace Kelly & Ray Milland, Ruth Roman & Robert Cummings, Donna Reed & James Stewart.
Estamos perante um conto de suspense e conspiração, por onde passa (constantemente) a influência do modelo que Hitchcock delineou para o género.
A falsa culpada, o vilão bem-posicionado, o acaso, o olhar indiscreto sobre os outros, o saber (demais – ora na protagonista, ora no espectador), as coincidências, as peripécias rocambolescas.
Uma história simples, bem contada, com pormenores bem inteligentes, pertinentes e carregados de ironia (nazis a passarem-se por judeus, para ajudarem os USA), com constante suspense, perigos e revelações.
Pelo meio, um olhar sobre um período negro da História dos USA (o McCarthyism e a “Caça às Bruxas”).
Inteligentemente, tal evento é usado a favor da narrativa principal, com um cínico twist (considera-se inimigo da nação quem a quer proteger, revela-se um perigo para o país aquele que diz que o quer salvar).
À boa maneira do género (ou melhor, de Hitchcock), um par de set pieces que o Master adorava fazer (a perseguição na biblioteca, a luta árdua entre dois inimigos, o confronto final num local perigoso onde se desafia a gravidade, o castigo pela queda).
Boa reconstrução da época.
Georges Delerue cria um score bem old fashioned.
Michael Ballhaus cria uma fotografia ao nível dos old days.
Mandy Patinkin consegue ser sofisticado (a sua ironia) e perigoso (o seu olhar).
Jeff Daniels convence como anti-herói imberbe e bem intencionado.
Kelly McGillis (uma das grandes beldades, talentos e revelações dos 80s; infelizmente desaproveitada nas eras seguintes) domina, com a sua beleza e carisma, com uma personagem íntegra, motivada e corajosa.
Peter Yates diverte-se a fazer um exercício de estilo nostálgico, pensado para entretenimento dos cinéfilos “velhinhos”.
Um belo, entretido e nostálgico momento de suspense.
Muito recomendável.
“The House on Carroll Street” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, a bom preço.
Realizador: Peter Yates
Argumentista: Walter Bernstein
Elenco: Kelly McGillis, Jeff Daniels, Mandy Patinkin, Jessica Tandy, Kenneth Welsh, Christopher Buchholz (como Christopher Rhode)
Trailer
O Main Theme de Georges Delerue
Orçamento – 14 milhões de Dólares
Bilheteira – 460.000 Dólares
“Melhor Filme”, no Mystfest 1988.
O argumentista Walter Bernstein chegou a estar na blacklist da Comissão do Senado para Actividades Anti-Americanas. Para continuar a trabalhar, teve de recorrer a “testas-de-ferro”. Bernstein escreveu “The Front” (1976, de Martin Ritt, com Woody Allen), onde aborda essa época e eventos.