Ia ser o último blockbuster do Verão 2020. Devido ao coronavirus, muitos dos blockbusters 2020 passaram para 2021.
Assim sendo, este é o único Blockbuster do Verão 2020.
E é o filme mais esperado do ano.
Não é caso para menos – Senhoras & Senhores, eis o novo desafio visual e mental de Christopher Nolan.
Um agente secreto move-se pelo meio de uma complicada intriga contra uma organização, no sentido do controlo do Tempo.
Christopher Nolan volta a andar pelo spy thriller (“Inception” também o era, mas no mundo dos sonhos), agora em moldes mais “convencionais” (organizações, tráfico, informação, perigo mundial), mas com o devido toque do criador de “Memento”.
Tal como em “Interstellar”, Nolan volta a pegar no tema da manipulação de Tempo & Espaço.
E o resultado é estonteante – para olhos e cérebro.
Nolan faz todo um festim visual (mais uma vez procurando o grande espectáculo à base de stunts e practical effects, tudo on camera) aliado a todo um desafio cerebral (não é à primeira visão que apanhamos todas as armadilhas científicas e paradoxais que a narrativa explora).
O tema da manipulação do Tempo & Movimento já nos deixa estonteados cerebralmente, para conseguirmos acompanhar devidamente o ritmo (e “avalanche”) dos eventos e toda a lógica da trama.
Mas Nolan deixa ao espectador reflexões muito pertinentes – a (in)evitabilidade do Destino (é mesmo?), o movimento das coisas (dá para inverter?), as mudanças de eventos dentro do Tempo & Espaço e o Livre Arbítrio (afinal ele existe ou somos governados/manipulados pela ideia que ele existe?).
Claro que Nolan não quer fazer tese, mas sim grande entretenimento. Mas como imenso cineasta (auteur e de massas) que é, não deixa de filosofar e convidar o espectador a tal.
Incríveis set pieces (o “estrondo” no hangar do aeroporto, a perseguição automobilística, o raid final), final paralelo em eventos e tempos, possibilidades científicas fascinantes, intriga complexa (os paradoxos do Tempo & Espaço são ainda mais complicados que os de “Back to the Future” e “The Terminator”) e até (à boa maneira de Hitchcock) o efeito MacGuffin (o engenho que tudo permite).
É Mister Nolan ao seu melhor, a fazer aquilo em que ele é O maior, mostrando porque é o cineasta mais aclamado, poderoso e criativo da actualidade – entretenimento de massas, capaz de encher o olho e enriquecer o cérebro.
Elenco vistoso.
John David Washington mostra carisma e esteira para leading man, perfeitamente em sintonia com o seu lendário pai.
Elizabeth Debicki ilustra beleza e elegância, mostrando o seu jeito para mulheres de fragilidade emocional.
Kenneth Branagh consegue ser um vilão asqueroso.
Nolan (um dos poucos cineastas que basta ser referido pelo apelido; o primeiro britânico do meio a conseguir tal, depois de Hitchcock e Kubrick; um dos poucos cineastas cujo nome é uma marca, tendo uma associação imediata a um tipo de produto, causando logo sensação na indústria por cada vez que anuncia um novo trabalho) volta a fazer a sua brincadeira a James Bond (isto poderia ser uma aventura de 007 no campo da sci-fi – temos um secret agent refinado e bem-falante, um vilão que quer destruir o mundo, a menina ligada ao vilão mas rendida ao charme do agente, elaborada action, gadgets, eventos em vários países), mostrando que teria muito a dizer, fazer e renovar na saga do agente britânico (são muitos, incluindo eu, que desejam que Nolan dirija um James Bond movie).
Entretenimento e desafio cerebral, vindo de um mestre ao seu melhor.
Obrigatório.
“Tenet” está nas nossas salas, marcando o (bom) regresso dos blockbusters.
Realizador: Christopher Nolan
Argumentista: Christopher Nolan
Elenco: John David Washington, Elizabeth Debicki, Robert Pattinson,
Kenneth Branagh, Aaron Taylor-Johnson, Clémence Poésy, Fiona Dourif,
Michael Caine, Martin Donovan, Dimple Kapadia
Site – https://www.tenetfilm.net/
Making of
Orçamento – 205 milhões de Dólares
Bilheteira (até agora) – 20 milhões de Dólares (USA); 146 (mundial)
Christopher Nolan trabalhou no argumento ao longo de 6 anos.
O filme conta com ideias e imagens que Nolan já delineava há mais de 20 anos.
O argumento segue princípios científicos muito claros. Nolan voltou a recorrer a Kip Thorne, à semelhança do que fez em “Interstellar”.
Nolan é um grande fã da saga “James Bond” (há anos que se fala em Nolan dirigir um episódio da saga, havendo até já uma petição de alguns fãs para tal). “Tenet” é a sua homenagem às aventuras de 007. Nolan não quis fazer uma imitação ou rip-off a um James Bond Movie, mas retomar o tipo de entusiasmo que a saga gera no público e em Nolan.
Christopher Nolan reencontra alguns actores – Kenneth Branagh (depois e “Dunkirk”), Martin Donovan (depois de “Insomnia”) e Michael Caine (depois da trilogia “Dark Knight”, “The Prestige”, “Inception”).
Elizabeth Debicki insistiu em fazer uma audition, apesar de Nolan já se ter decidido por ela.
John David Washington é filho de Denzel Washington.
Terceiro filme de Nolan a ter a fotografia a cargo de Hoyte Van Hoytema, depois de “Interstellar” (2014) e “Dunkirk” (2017).
Pela primeira vez desde “The Prestige”, Nolan não conta com Hans Zimmer para compor o score. Zimmer estava ocupado com a nova versão de “Dune”.
Pela primeira vez, desde “Batman Begins” (2005), Nolan não conta com o seu editor Lee Smith, pois estava ocupado com “1917” (2019).
“Merry Go Round” – era o working title.
Muito secretismo houve à volta do projecto. Alguns actores nem sabiam do argumento completo, outros só sabiam de alguns detalhes no dia das filmagens.
Nolan pediu ao elenco para se inspirarem em filmes de espionagem.
Como sempre em Nolan, filmagem em película e IMAX.
O filme obrigou à criação de lentes específicas.
Nolan procurou ter o máximo de stunts e practical effects on-camera, dispensando ao máximo o uso de efeitos digitais.
Um verdadeiro avião Boeing 747 foi comprado e destruído.
Muitos dos actores e stuntmen tiveram de treinar mover-se e falar em reverse.
O perfeccionismo de Nolan é tal, que algumas cenas foram filmadas duas vezes – uma no movimento normal, outra com os actores a moverem-se em reverse. Nolan recusou efeitos digitais para tal.
A perseguição automobilística obrigou ao fecho de 8 Km de auto-estrada por vários dias.
É segundo mais caro filme de Nolan (“The Dark Knight Rises” é o mais caro).
Filmado na Estónia, Dinamarca, Índia, Noruega, Inglaterra, Estados Unidos e Itália.
O filme ia estrear em Julho, mas viu a sua estreia a ser sempre adiada devido à pandemia do coronavirus.